quinta-feira, 30 de maio de 2024

A reformulação se aprofunda

A Holanda precisa vencer a Finlândia nas eliminatórias da Euro feminina. Pela importância em si - e principalmente, para dar um bom fim à fabulosa história de Lieke Martens nela (KNVB Media/Divulgação)

Até a convocação da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) para os dois jogos destas datas FIFA, ambos contra a Finlândia, ambos pelas eliminatórias da Euro 2025 - nesta sexta, 31, às 15h45 de Brasília, em Roterdã (Het Kasteel), e na próxima terça, 4 de junho, às 13h de Brasília, na cidade finlandesa de Tampere -, a única importância que eles tinham era abrirem chance para as Leoas Laranjas pontuarem e se aproximarem de uma vaga direta no torneio continental de seleções. Até era uma importância considerável. Mas o que aconteceu quase simultaneamente à convocação, em divulgação dupla dos perfis oficiais da equipe de mulheres dos Países Baixos e da própria jogadora a ser falada, acabou ganhando importância tão grande quanto a dos jogos em si. Ou até maior.

O que aconteceu, afinal de contas? Esta sucinta mensagem de Lieke Martens: "Queridos torcedores da Laranja: queria informar a vocês que os próximos dois jogos da seleção feminina serão meus últimos jogando por ela. Por aqui já deixo, com dor no coração, meu adeus. Tentarei aproveitar ao máximo, mas acima de tudo, como sempre, darei tudo para nosso time conseguir de novo um bom resultado. Espero muito ver vocês na próxima semana! Com muito amor, Lieke". Pois é: após treze anos, 158 partidas e 62 gols vestindo laranja, Martens anunciava o fim de sua trajetória na seleção. Claro, a comoção foi gigante: como melhor jogadora do mundo em 2017, como destaque no título da Euro do mesmo ano que serviu de "Big Bang" do futebol feminino holandês, Martens sempre será um nome histórico, um ícone da modalidade, um símbolo dela no Reino dos Países Baixos.

Ainda assim, mesmo com todo o impacto que o anúncio causou, também era inegável que era uma decisão previsível, tendo em vista o que Martens passou nos últimos anos - desde a Copa de 2019, quando o dedão de um pé, machucado, a impedia até de andar com tranquilidade. De lá para cá, muitas lesões, um mau momento (o pênalti perdido nas quartas de final do torneio olímpico de Tóquio, em 2021, valendo por 2020), uma participação quase anônima na Euro passada - encerrada abruptamente por seu corte... dentro de campo, tudo isso foi demais para a atacante. Fora de campo, ela também teve impactos, como reconheceu ao diário De Telegraaf: "Senti muita falta de minha família e meus amigos nos últimos anos. Quero passar mais momentos e tempos com eles, é hora de fazer escolhas (...) No meio do ano passado, eu me casei, e uma das minhas melhores amigas também. Ela esteve no meu casamento, mas não pude estar no dela, quatro semanas depois, por causa da Copa. Foi um momento emocionalmente duro. Fiquei muito feliz por estar na Copa, aproveitei bem. Mas foi uma sensação dúbia. Estou feliz e me sinto bem, mas a Euro fica longe demais para eu aguentar. Parece o momento certo".

Se não foi surpresa para Martens abandonar a seleção, que dirá para o técnico Andries Jonker. Aliás, falando à emissora NOS, Jonker até revelou que a saída definitiva da atacante poderia ter sido bem anterior: "Lá por outubro, novembro de 2022, tivemos muitas dificuldades para manter Lieke na seleção. Foi depois da Euro passada, ela já achava que seleção tinha sido o bastante. Meu auxiliar, Arvid Smit, teve muitas dificuldades [para convencê-la a continuar]. E ela jogou uma boa Copa, foi bem também na Liga das Nações". Porém, as decepções do começo deste 2024 foram o estopim da decisão (do) final: "Do ponto de vista dela, ela queria dar o adeus em Paris, nos Jogos Olímpicos. Esse sonho acabou. Então, não me surpreendi quando ela me disse 'professor, a Euro está longe demais para mim'. (...) Era algo que já vinha acontecendo: primeiro foi Van Veenendaal, depois Van Es, agora ela".

Então, no duro, a saída de Lieke Martens só aprofunda uma reformulação que já vinha acontecendo dentro da seleção feminina da Holanda - desde a passagem de Mark Parsons, aliás. Inclusive, um nome que poderia ter espaço ampliado, Romée Leuchter, perderá sua chance por causa de outro problema que segue vitimando a Holanda: lesões. Além de Leuchter, também foram cortadas por estarem machucadas a zagueira Caitlin Dijkstra e a goleira Lize Kop. O que aumentou as chances de uma... volta: com a recuperação adiantada da cirurgia lombar por que passou, Daphne van Domselaar já foi convocada e treinou normalmente com as outras três goleiras. A goleira titular normal das Leoas Laranjas falou com a alegria esperada: "Estou nos meus últimos passos da recuperação, e veremos dia a dia". Até comentou sobre o interesse - cada vez mais aberto - do Arsenal em contratá-la: "É algo que eu espero, após um ano de experiência. Escolhi o Aston Villa também por isso: para ter tempo de jogo. Estou feliz que esteja dando certo e que venham elogios".

Van Domselaar já voltou a ser convocada, após seus problemas lombares. Jogará? Ainda não se sabe (ANP)

Ainda assim, a escalação de Van Domselaar ainda parece incerta para ela ("Eu me sinto bem, mas não vamos tomar decisões precipitadas"). Para Andries Jonker, também: "Tenho algumas preocupações. Qual goleira joga, qual não joga. Qual zagueira joga, qual não joga". Tudo para duas partidas em que o técnico preconizou: vencer é altamente importante ("Estaremos com um pé na Euro, se ganharmos as duas", enfatizou na apresentação às jogadoras), e não será tão fácil ("Temos de estar atentos. A derrota deles [Finlândia] por 4 a 0 para a Noruega foi exagerada, e a vitória sobre a Itália diz o bastante sobre as qualidades delas", alertou à NOS). E além de tudo isso, Sherida Spitse, uma veterana que continuará - pelo menos até a Euro 2025 -, lembrou: "Outras têm de assumir a responsabilidade". Porque Lieke Martens já terá assumiu a sua parte com brilho, na seleção feminina da Holanda. E será reconhecido por isso, na homenagem mais do que merecida que terá após o jogo desta sexta, com todos os presentes a lhe aplaudir em Het Kasteel.

As 23 convocadas da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiras: Daphne van Domselaar (Aston Villa-ING), Jacintha Weimar (Feyenoord), Barbara Lorsheyd (ADO Den Haag) e Daniëlle de Jong (Twente)

Laterais: Lynn Wilms (Wolfsburg-ALE) e Marisa Olislagers (Twente)

Zagueiras: Sherida Spitse (Ajax), Dominique Janssen (Wolfsburg-ALE) e Ilse van der Zanden (Utrecht) 

Meio-campistas: Daniëlle van de Donk (Lyon-FRA), Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA), Victoria Pelova (Arsenal-ING), Damaris Egurrola Wienke (Lyon-FRA), Jill Baijings (Bayern de Munique-ALE) e Wieke Kaptein (Twente) 

Atacantes: Lineth Beerensteyn (Juventus-ITA), Lieke Martens (Paris Saint Germain-FRA), Esmee Brugts (Barcelona-ESP), Renate Jansen (Twente), Katja Snoeijs (Everton-ING), Fenna Kalma (Wolfsburg-ALE) e Chasity Grant (Ajax)

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