"Aquilo só aconteceu por um motivo: eu tinha pelo menos sete jogadores com uma inteligência fora do comum, em todos os sentidos" (Rinus Michels)
É comum, nos esportes coletivos, que uma equipe marcante balize o que seu país fará dali por diante - e que as equipes sucessoras sejam comparadas com esse grande momento. Para citar um exemplo fora do futebol: "Dream Team" só houve um, que foi a seleção norte-americana masculina de basquete, medalha de ouro no torneio olímpico de Barcelona-1992. Um time singular, contendo quase em um só quinteto os maiores jogadores que o bola-ao-cesto já viu - Michael Jordan, Earvin "Magic" Johnson, Charles Barkley, Larry Bird, Pat Ewing, Scottie Pippen etc. Tanto que, por mais que os Estados Unidos tenham seguido com jogadores diferentes - e muito badalados (como o time que estará em Paris-2024, com LeBron James, Stephen Curry, Kevin Durant etc.) -, não adianta: todos serão comparados com aquele "time dos sonhos", toda seleção olímpica de basquete dos Estados Unidos será apelidada de "Dream Team", mesmo que não seja.
No futebol, os exemplos também existem à farta. Cada Seleção Brasileira que entrar em campo terá a equipe da Copa de 1970 (ou a de 1958, ou mesmo as de 1994 ou 2002) como exemplo máximo do que deverá ser feito. Cada clube tem o seu padrão de exigência, de acordo com um título ou outro. E finalmente, a seleção da Holanda (Países Baixos) sabe: para sempre, enquanto houver 11 pessoas usando uniformes laranjas em campo a defender o país europeu, terão como padrão o que se viu da Laranja na Copa de 1974. Com toda justiça: foi o "big bang", a grande explosão, foi até como muitas pessoas fora dali ficaram sabendo que existia um país chamado Holanda - ou melhor, Países Baixos. Não foi à toa que Mark Rutte, antigo primeiro-ministro do país, falou o que falou sobre Johan Cruyff, símbolo máximo daquela equipe, quando de seu falecimento, em 2016: "O mundo todo o conheceu, e por meio dele conheceu a Holanda [Países Baixos] e o futebol holandês".
Não só por Cruyff, é verdade: por vários de seus colegas - Ruud Krol, Willem van Hanegem, Robert Rensenbrink, Johnny Rep, sem contar o treinador Rinus Michels... nem era só o estilo de jogo que fascinou tantas pessoas: era a forte personalidade de cada um, a imagem incomum para jogadores de futebol (por muitos lugares, a impressão dita é de que a Holanda não era formada por jogadores, mas sim por uma banda de rock, tantos eram os cabeludos), o próprio uniforme laranja que virou tão icônico - até pelas diferenças, como a camisa de Cruyff ter apenas duas listras e não três, como é padrão da Adidas, fabricante de material esportivo da federação neerlandesa à época. Enfim: a Holanda da Copa de 1974 foi marcante até fora dos campos.
Mais marcante ainda é saber que aquilo deu certo exatamente quando precisava dar: entre 13 de junho e 7 de julho de 1974, o período de disputa da Copa do Mundo daquele ano. Antes, a Holanda era uma incógnita, apenas uma candidata a surpresa, não havia a menor garantia de que pudesse dar certo; depois da Copa, a Laranja penou, decepcionou na Eurocopa de 1976, nunca mais foi o que se viu nos gramados na Alemanha. São estes bastidores que se lerão, a partir deste texto, sobre a trajetória que completa 50 anos. Que fez a Holanda se marcar com tanta força no imaginário de quem acompanha futebol, que até mesmo seleções pouco brilhantes que o país teve ganham o apelido de "Laranja Mecânica".
Porque, na verdade, Laranja Mecânica só houve uma no futebol mundial. Vamos ver como ela teve sua trajetória.
Ótimo primeiro capítulo!! Vou acompanhar cada um dos textos...
ResponderExcluirMuito bom mesmo!
ResponderExcluirNão sou anônimo, não. Sou Juca Kfouri.
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