quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A gangorra virou

Isso sempre acontece. No guia com as perspectivas para os clubes holandeses que participariam das competições europeias nesta temporada 2020/21, ao falar da Liga Europa, o autor (também conhecido como "eu) escreveu aqui que PSV (grupo E) e Feyenoord (grupo K) mostravam mais possibilidades de avançarem à segunda fase do que o AZ (grupo F), aparentemente fragilizado. Pois o time de Alkmaar superou esta fragilidade para uma vitória animadora e elogiável - não pela atuação, mas pelas circunstâncias - diante do Napoli, em sua estreia. Já o PSV é que decepcionou. E o Feyenoord, se saiu com um ponto fora de casa, não pode se dizer totalmente contente.

O AZ sofreu com algumas ausências. Mas soube adaptar seu jogo ao que tinha. E aproveitou uma única chance para sair da Itália com vitória elogiável contra o Napoli (Reuters)

De fato, por mais que jogasse com alguns reservas - como o goleiro Alex Meret -, o Napoli seguia sendo favorito, diante de um AZ desanimado pelos quatro empates nas cinco rodadas do Campeonato Holandês (três desses empates, sofridos nos minutos finais das partidas) e, pior ainda, vitimado por um surto de infecções pelo novo coronavírus em seu grupo. E, de certa forma, até que os Partenopei comprovaram esse favoritismo: diante de um visitante mais cauteloso na defesa, tiveram mais a bola, chegaram mais perto do gol... e até balançaram as redes - aos 13', Victor Osimhen só não teve o gol validado pois estava impedido. Todavia, faltava efetividade ao Napoli nas finalizações, fossem de Matteo Politano ou Hirving Lozano. 

Ao mesmo tempo, se o AZ era mais cuidadoso e se faltava aos Alkmaarders um finalizador (Myron Boadu e seu reserva, Ferdy Druijf, foram dois dos 13 jogadores infectados pelo novo coronavírus), Calvin Stengs e Dani de Wit, com posições trocadas - Stengs no meio, De Wit no ataque -, poderiam acelerar contra-ataques. De quebra, Jesper Karlsson e Fredrik Midtsjo poderiam ajudar na posse de bola. Era "só" encaixar um contragolpe, e a vitória poderia vir. Veio, com o gol de De Wit, aos 57', completando cruzamento de Jonas Svensson. E o AZ contou com a atuação concentrada de Pantelis Hatzidiakos e Bruno Martins Indi, ambos no miolo de zaga, para um triunfo tão inesperado quanto elogiável. A ponto de Gennaro Gattuso, técnico do Napoli, ter reconhecido uma característica que era seu forte nos tempos de jogador: "Nunca vi a defesa deles jogando com tanta garra quanto hoje".

O PSV começou bem contra o Granada... mas terminou muito, muito mal (Pim Ras Fotografie)

Se o AZ foi o azarão que esbanjou eficiência, o PSV foi a grande decepção. Jogando em casa, diante do Granada espanhol, os Boeren começaram bem. Mesmo sem Cody Gakpo e Pablo Rosario, ambos testando positivo para o novo coronavírus, sobravam jogadores de qualidade no ataque: Donyell Malen, Mario Götze, Mohamed Ihattaren (de novo titular), Mauro Júnior... bastou para ser um pouco superior ao Granada, que até assustou de vez em quando. Para criar uma boa chance - aos 30', Götze cruzou, e Malen errou o cabeceio, com o gol livre. E para, merecidamente, abrir o placar, com Götze marcando pela segunda vez em dois jogos pelo clube ao qual acabou de chegar, no minuto final do 1º tempo.

Mas se o começo foi promissor, o segundo tempo mostrou queda forte do PSV. A saída de Götze no intervalo - precaução por dores leves na coxa, segundo o técnico Roger Schmidt - prejudicou. Mas não foi o único revés: adiantado para o meio-campo com a entrada de Nick Viergever, Philipp Max não se deu bem por ali. O Granada começou a prensar a defesa dos anfitriões em sua própria área. E coube à dupla de destaque do clube espanhol, Jorge Molina e Darwin Machís, transformar em gols o crescimento do time da Andaluzia - Molina completando triangulação para as redes aos 57' (o goleiro Yvon Mvogo ainda teve azar, com a bola batendo no travessão e nele antes de entrar), Machís virando o placar com belíssimo chute aos 66'. Claro, como Roger Schmidt alertou, "foi só o primeiro jogo". Mas o PSV precisa se cuidar para evitar quedas tão bruscas de desempenho.

O pênalti desperdiçado por Berghuis foi a primeira de uma série de chances perdidas pelo Feyenoord contra o Dinamo Zagreb: o empate poderia ter sido vitória (AFP)


Já o Feyenoord teve uma atuação até regular. Aliás, uma atuação até boa: com a velocidade de João Teixeira e a capacidade ofensiva que Mark Diemers mostra, Steven Berghuis já ficou menos sobrecarregado. E o Stadionclub dominou o primeiro tempo contra o Dinamo Zagreb, na Croácia. Porém, aos 7', já ficou claro qual seria a principal falha do time holandês em sua estreia na Europa League: a perda de chances. Afinal, uma oportunidade valiosa de abrir o placar surgiu num pênalti. Steven Berghuis até bateu bem, mas o goleiro Dominik Livakovic evitou o gol, ao defender com um dos braços. Durante todo o primeiro tempo foi assim: Jens Toornstra tentou aos 15' (Livakovic pegou), Diemers cabeceou aos 38' (para novamente o goleiro evitar o gol)... e o placar seguiu sem gols.

No segundo tempo, o ritmo do jogo seguiu assim. Diemers tentava, Linssen tentava, Berghuis tentava... mas nada do "toque final", aquele que poderia ser o gol. Para piorar, a expulsão de Marcos Senesi (falta exagerada do argentino aos 72', que o rendeu o segundo cartão amarelo) fez com que o Feyenoord tivesse de se defender. Aí apareceu Justin Bijlow: com pelo menos duas boas defesas, aos 85' e 88', o jovem goleiro salvou pelo menos um ponto do Stadionclub. Mas ficou a incômoda impressão: pelo que fizera no primeiro tempo, o Feyenoord ficou com só um ponto quando poderia ter ganho três.

AZ em alta, Feyenoord em média, PSV em baixa, quando se imaginava o contrário: a gangorra virou, na estreia dos clubes da Holanda (Países Baixos) na Liga Europa.

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