domingo, 11 de outubro de 2020

Um medo previsível

Frenkie de Jong avançou bem, mas o ataque holandês segue mal. Dzeko entrou, e a Bósnia assustou vez por outra. E a Holanda preocupa cada vez mais (BSR Agency)

Já no intervalo do jogo entre Bósnia e Holanda, terceira partida da seleção masculina dos Países Baixos pela Liga das Nações, um comentário resumiu o tamanho do desânimo que começa a tomar conta de quem acompanha a Laranja. Tal comentário veio de Jan Beuving, no programa "Langs de Lijn", a jornada esportiva da emissora de tevê NOS: "Nós estamos vendo um futebol no estilo de Frank de Boer. Mas isso não é maluquice, porque Frank de Boer é o técnico da seleção". E de fato, no 0 a 0 em Zenica, que começa a dificultar a situação holandesa na Nations League, viu-se um dos piores erros com que o ex-zagueiro costuma treinar suas equipes desde os tempos de Ajax: lentidão. E outros erros vieram: incompetência na finalização, fragilidade na defesa a contra-ataques... há muito a criticar.

Parecia que não haveria, quando a partida começou. Porque a Laranja começou como se esperava de um time superior (em nomes) à Bósnia: pressionando a saída de bola, adiantando meio-campistas, tentando criar chances. A primeira delas já veio aos cinco minutos, quando Stefan de Vrij cabeceou torto uma bola cruzada por Quincy Promes em cobrança de falta. Além do mais, avançando bastante pela direita, Denzel Dumfries poderia fazer jogadas com Donyell Malen (uma escolha até surpreendente), cujo entrosamento já vem do PSV.

Não foi o que aconteceu. Pior: a Bósnia começou a entender o jogo da Holanda. E ao entendê-lo, começou a ameaçar de um jeito até esperado: fechar-se na defesa, evitando troca de passes, e saindo rapidamente para o contragolpe. Foi assim que o time bósnio começou a ter espaço para avançar. Só faltou uma conclusão adequada: Milan Djuric foi desarmado por Virgil van Dijk aos 19', e furou o voleio, aos 28'. Já a Holanda só reagiu no fim dos primeiros 45 minutos. Aos 42', De Vrij novamente cabeceou perto do gol; no minuto seguinte, após troca de passes, Promes "atrapalhou" o chute de Marten de Roon.

No segundo tempo, a repetitividade continuou. Na frente, a Holanda tinha posse de bola, tinha nomes avançando (Frenkie de Jong, por exemplo, jogou à frente de uma maneira incomum para seu estilo)... mas nada de velocidade, nem de chances - a única foi num arremate de Georginio Wijnaldum, aos 51'. Atrás, a Oranje seguia deixando lacunas perigosas. Com as entradas de Sead Kolasinac e, principalmente, de Edin Dzeko, a Bósnia tinha gente que retivesse a bola para os contra-ataques. E assustou forte aos 69': Dzeko passou por De Roon (que piorou no decorrer da partida), puxou o contragolpe, passou a Miralem Pjanic, que estava sozinho na área. O 1 a 0 bósnio só não saiu porque Jasper Cillessen estava atento para espalmar.

Com avanços como os de Wijnaldum (foto) e a entrada de Berghuis, Holanda até ficou perto do gol no fim. Parou na incompetência - e nas boas defesas de Sehic (Pro Shots)

Só na reta final vieram algumas mudanças que tornaram o ataque holandês menos estéril. A mais importante delas, Steven Berghuis: no lugar de Malen, o atacante do Feyenoord mostrou que está a fim de aproveitar oportunidades. Berghuis foi o centro da pressão final neerlandesa em busca da vitória, criando duas ótimas chances - aos 78', quando cruzou para Luuk de Jong cabecear e exigir grande defesa de Sehic, e aos 85', quando recuou a bola rasteiro para Frenkie de Jong completar e ter o gol impedido por Darko Todorovic, bloqueando na pequena área. Vários foram avançando: Frenkie de Jong (perdeu chance aos 77', num chute após passe de Quincy Promes), Wijnaldum, até mesmo Virgil van Dijk, nos últimos minutos.

E talvez, o gol perdido de maneira bisonha por Ryan Babel, já nos acréscimos, ao chutar torto a bola que sobrou após cruzamento de Frenkie de Jong, seja o melhor símbolo dos erros que a Holanda já tem sobre Frank de Boer. A falta de eficiência nas finalizações; a falta de uso de determinados jogadores (Luuk de Jong, "homem-gol" por excelência, mal foi acionado nos 90 minutos); a lentidão na troca de passes curtos, sem uma tentativa de algo que vença a defesa adversária. Já cresce o medo de que a Laranja continuará assim, não só tornando difícil igualar o vice-campeonato na Liga das Nações passada, mas também diminuindo drasticamente as expectativas para a Euro-2021-que-era-2020, se ela acontecer. 

Mas com a escolha por Frank de Boer, todos estavam avisados, de certa forma.O benefício da dúvida vai se esgotando, com dois jogos sem gols marcados. Poucos se surpreendem. É um medo previsível. 

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Bósnia 0x0 Holanda
Data: 11 de outubro de 2020
Local: Bilino Polje (Zenica)
Árbitro: Istvan Kovacs (Romênia)

Bósnia
Ibrahim Sehic; Darko Todorovic, Dennis Hadzikadunic, Sinisa Sanicanin e Advan Kadusic (Sead Kolasinac); Miralem Pjanic (Stjepan Loncar), Gojko Cimirot e Rade Krunic (Armin Hodzic); Benjamin Tatar (Amir Hadziahmetovic), Milan Djuric (Edin Dzeko) e Amer Gojak. Técnico: Dusan Bajevic

Holanda
Jasper Cillessen; Denzel Dumfries (Hans Hateboer), Virgil van Dijk, Stefan de Vrij e Daley Blind (Nathan Aké); Marten de Roon, Georginio Wijnaldum e Frenkie de Jong; Donyell Malen (Steven Berghuis), Luuk de Jong e Quincy Promes (Ryan Babel). Técnico: Frank de Boer

Nenhum comentário:

Postar um comentário