terça-feira, 20 de outubro de 2020

Possibilidades, sim. Confiança, nem tanto

A temporada das competições europeias está começando nesta semana, com as primeiras rodadas das fases de grupos de Liga dos Campeões (nestas terça-feira e quarta-feira) e Liga Europa (quinta-feira). Porém, a pandemia da COVID-19 que volta a atormentar a Europa em sua segunda onda torna impossível dizer se, quando e como essa temporada vai terminar. Portanto, também torna ainda mais difícil alcançar a resposta de uma pergunta já nebulosa de origem: os clubes da Holanda (Países Baixos) podem sonhar com alguma coisa em Champions League ou Europa League?

Seria bom se pudessem sonhar. Afinal de contas, a situação atual já é bem melhor do que foi há algumas temporadas: bem ou mal, na classificação de coeficientes da UEFA, o índice neerlandês é o 10º da lista. Mesmo estando em 11º, já era o suficiente para que o campeão da Eredivisie tivesse de volta a vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões, caso o vencedor da Liga dos Campeões 2019/20 também tivesse vaga nesta edição 2020/21 por sua liga nacional - o que ocorreu com o Bayern de Munique, campeão alemão. E as classificações de PSV e AZ à fase de grupos da Liga Europa bastaram para que a Holanda subisse uma posição no ranqueamento, superando Turquia (dos cinco clubes turcos em competições europeias, dois já caíram, contra uma eliminação de holandês - o Willem II foi eliminado pelo Rangers, na 3ª fase preliminar da Liga Europa).

O que não quer dizer sossego: Turquia (11ª) e Áustria (12ª) seguem nos calcanhares holandeses, e ainda há Ucrânia (9ª) e Bélgica (8ª) à frente. Para que a evolução leve continue, deixando afastados vexames como os de 2016/17 (quedas ainda nas fases preliminares para PSV - Liga Europa - e Ajax - Liga dos Campeões e, depois, também Liga Europa), seria ótimo ver boas campanhas na fase de grupos. Quem sabe ver, dos quatro holandeses em torneios continentais, dois avançarem ao mata-mata. E sim, há certas possibilidades disso acontecer. O que falta é confiança nas capacidades. E sobram motivos para a falta de confiança.

Tadic (à direita) segue bom atacante, Klaassen retorna para ser útil, a base sempre revela talentos... o Ajax tem um time elogiável. Mas parece pouco para seguir na Liga dos Campeões (BSR Agency)

Liga dos Campeões 


Estava bom demais para ser verdade. Terminando na primeira posição do Campeonato Holandês 2019/20 quando este foi interrompido, o Ajax estava empatado em pontos com o AZ - mas por ter melhor saldo de gols, sendo "tecnicamente" o líder, ficou com a melhor vaga da Holanda (Países Baixos) na Liga dos Campeões. Com o Bayern de Munique já tendo vaga na temporada 2020/21, campeão alemão que foi, abriu-se a vaga na fase de grupos - e ela era do time de Amsterdã. Para entrar no pote 2 do sorteio, os Ajacieden torciam para que o Sevilla vencesse a Liga Europa 2019/20, e para que o Benfica fosse eliminado na 3ª fase preliminar da Champions League. Ambos os desejos, realizados. E a sorte acabou aí.

Porque, antes mesmo do sorteio, já se sabia que os Amsterdammers perderiam Hakim Ziyech - desde antes da pandemia, aliás - e Donny van de Beek, enfraquecendo bastante o poder de fogo no ataque. E quis o destino que as bolinhas reservassem como adversários no grupo D o Liverpool, que praticamente dispensa apresentações; a Atalanta, que foi em 2019/20 o que o Ajax fora na temporada anterior - isto é, a "zebra que atrai a torcida pela ofensividade na Liga dos Campeões" (e que é eliminada com gol nos estertores da partida decisiva, diga-se de passagem); e até mesmo o Midtjylland dinamarquês, embora francamente pouco falado e considerado eliminação certa, pode chatear.

De lá para cá, pouco mudou. Sim, o Liverpool - adversário da estreia do Ajax, nesta quarta - terá de encarar as desagradáveis ausências de Alisson e Virgil van Dijk (esta, a longo prazo). Mas sobram "só"  Mohamed Salah, Roberto Firmino, Sadio Mané, Jordan Henderson, Trent Alexander-Arnold... perigos de sobra, que mantêm os Reds favoritos. E a Atalanta não só ficou com todos os seus destaques (Marten de Roon, Alejandro "Papu" Gómez, Luis Muriel) como ainda trouxe nomes promissores (um deles o Ajax conhece bem, como adversário: Sam Lammers).

Certo, o Ajax tem sua força. Dusan Tadic é um ótimo comandante das ações de ataque, com Quincy Promes a postos. Nas laterais, Noussair Mazraoui e Nicolás Tagliafico são nomes confiáveis. Algumas contratações que acabaram de chegar já parecem estar há tempos em Amsterdã: Antony e Mohammed Kudus são os grandes exemplos. Davy Klaassen, mais experiente e mais consciente taticamente, é o "filho pródigo" que pode ajudar com sua experiência, voltando após três anos. E há as revelações, sempre elas no Ajax, venham da base ou compradas a baixo custo: Perr Schuurs, Kenneth Taylor, Ryan Gravenberch, Jurgen Ekkelenkamp, Sontje Hansen, Brian Brobbey... elas podem formar um bom time. Um time que até pode disputar a vaga nas oitavas de final. Mas até todos se entrosarem, até haver o "clique", leva tempo. E esse tempo pode e deve ser insuficiente para fazer frente aos favoritos Liverpool e Atalanta.

Liga Europa

Começando bem na Eredivisie, contratações promissoras, avanços inquestionáveis nas fases preliminares... o PSV parece consistente para avançar na Liga Europa (Photo Prestige/Soccrates/Getty Images)


A equipe de Eindhoven ainda está no começo da temporada, mas tem a seu favor itens bastante favoráveis para possibilitar otimismo com suas possibilidades na Liga Europa: contratações de respeito, um bom começo no campeonato nacional e classificações categóricas nas fases preliminares da Liga Europa. Detalhando esta última razão, os Boeren eram mais fortes contra o Mura esloveno, na 3ª fase preliminar, e contra o Rosenborg norueguês, nos play-offs pela vaga na fase de grupos. E provaram isso, goleando o Mura (5 a 1) e vencendo tranquilamente o Rosenborg (2 a 0). Tudo, fora de casa.

De quebra, os últimos dias da janela de transferências trouxeram reforços que efetivamente fortalecem o que o técnico Roger Schmidt já tinha à disposição. Eran Zahavi, Mario Götze, Ibrahim Sangaré, Marco van Ginkel (quando se recuperar)... todos podem ajudar os destaques já titulares - Denzel Dumfries, Cody Gakpo, Donyell Malen, até o agora reserva Mohamed Ihattaren. Em que pesem algumas escaramuças pequenas durante os jogos, o PSV já lidera o Campeonato Holandês após cinco rodadas. E mostra capacidade técnica e experiência para desafiar o PAOK grego e o Granada espanhol no grupo E - suplantar o Omonia Nicosia, do Chipre, deve ser mais fácil...


Queda na Liga dos Campeões, falta de eficiência no ataque, empates no fim dos jogos na Eredivisie... e agora o AZ ainda tem de suportar um surto de infecções pelo novo coronavírus (Ed van de Pol/Soccrates/Getty Images)


De todos os motivos que tornam dificílimo o otimismo com a participação dos Alkmaarders no grupo F, o último a surgir é o mais forte e perigoso: claro, o surto de infecções pelo novo coronavírus que surgiu no grupo de jogadores - na sexta passada, foram anunciados nove infectados, sendo seis jogadores; nesta terça, anunciaram-se mais oito testes positivos, sete envolvendo atletas. Só isso já dificulta bastante a situação do AZ para a estreia, nesta quinta-feira, contra o Napoli-ITA. Se é que a partida ocorrerá.

Mas antes mesmo do "corona-tsunami" cobrir o time de Alkmaar, as desconfianças já andavam grandes. Na Liga dos Campeões, o time passou com muita dureza pelo Viktoria Plzen, na segunda fase preliminar, e caiu para o eficiente Dynamo Kiev na 3ª fase preliminar. E nas cinco primeiras rodadas iniciais do Campeonato Holandês, a equipe de Alkmaar exibe tanto capacidade no ataque quanto desatenção na defesa: não fosse assim, e não teria perdido vitórias próximas para Fortuna Sittard, Sparta Rotterdam e VVV-Venlo (contra o Sparta, vencendo por 4 a 0 no fim do 1º tempo!). Assim fica difícil acreditar que o AZ pode superar os dois favoritos do grupo: um Napoli forte e experiente, e uma Real Sociedad ofensiva. Se a desatenção continuar, até mesmo o Rijeka croata pode assustar.

Sim, o Feyenoord tem condições de se classificar na Liga Europa. Mas as lesões, a falta de alternativas no grupo e a falha nas finalizações podem atrapalhar (ANP/Getty Images)


Quando o sorteio dos grupos revelou que o Feyenoord teria contra si o Dinamo Zagreb croata, o CSKA Moscou russo e o Wolfsberger austríaco na chave K, o técnico Dick Advocaat deixou claro seu alívio, numa entrevista coletiva: "Poderia ter sido bem pior". Classificado diretamente para a fase de grupos que estava, o Stadionclub tinha até a possibilidade de se aprimorar na pré-temporada e no princípio do Campeonato Holandês, para provar sua capacidade. De certa forma, o time de Roterdã até faz isso: seu começo na Eredivisie é positivamente regular, e o time já tem alguma consistência. 

Contratações como Bryan Linssen e, principalmente, o português João Teixeira se mostram plenamente capazes de tirarem a sobrecarga de Steven Berghuis na criação e na finalização das jogadas. Porém, se o Feyenoord cria chances de gol, também as perde muito. E a onda de lesões já irrita Dick Advocaat: Eric Botteghin na defesa, Leroy Fer no meio, Nicolai Jorgensen e Robert Bozeník no ataque... principalmente na frente, as lesões escancaram que a falta de reforços pode ser prejudicial para disputar a classificação. O Feyenoord pode avançar à segunda fase, mas é necessário confiar desconfiando.

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