A temporada das competições europeias está começando nesta semana, com as primeiras rodadas das fases de grupos de Liga dos Campeões (nestas terça-feira e quarta-feira) e Liga Europa (quinta-feira). Porém, a pandemia da COVID-19 que volta a atormentar a Europa em sua segunda onda torna impossível dizer se, quando e como essa temporada vai terminar. Portanto, também torna ainda mais difícil alcançar a resposta de uma pergunta já nebulosa de origem: os clubes da Holanda (Países Baixos) podem sonhar com alguma coisa em Champions League ou Europa League?
Seria bom se pudessem sonhar. Afinal de contas, a situação atual já é bem melhor do que foi há algumas temporadas: bem ou mal, na classificação de coeficientes da UEFA, o índice neerlandês é o 10º da lista. Mesmo estando em 11º, já era o suficiente para que o campeão da Eredivisie tivesse de volta a vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões, caso o vencedor da Liga dos Campeões 2019/20 também tivesse vaga nesta edição 2020/21 por sua liga nacional - o que ocorreu com o Bayern de Munique, campeão alemão. E as classificações de PSV e AZ à fase de grupos da Liga Europa bastaram para que a Holanda subisse uma posição no ranqueamento, superando Turquia (dos cinco clubes turcos em competições europeias, dois já caíram, contra uma eliminação de holandês - o Willem II foi eliminado pelo Rangers, na 3ª fase preliminar da Liga Europa).
O que não quer dizer sossego: Turquia (11ª) e Áustria (12ª) seguem nos calcanhares holandeses, e ainda há Ucrânia (9ª) e Bélgica (8ª) à frente. Para que a evolução leve continue, deixando afastados vexames como os de 2016/17 (quedas ainda nas fases preliminares para PSV - Liga Europa - e Ajax - Liga dos Campeões e, depois, também Liga Europa), seria ótimo ver boas campanhas na fase de grupos. Quem sabe ver, dos quatro holandeses em torneios continentais, dois avançarem ao mata-mata. E sim, há certas possibilidades disso acontecer. O que falta é confiança nas capacidades. E sobram motivos para a falta de confiança.
Tadic (à direita) segue bom atacante, Klaassen retorna para ser útil, a base sempre revela talentos... o Ajax tem um time elogiável. Mas parece pouco para seguir na Liga dos Campeões (BSR Agency) |
Liga dos Campeões
Ajax (lista de inscritos)
Estava bom demais para ser verdade. Terminando na primeira posição do Campeonato Holandês 2019/20 quando este foi interrompido, o Ajax estava empatado em pontos com o AZ - mas por ter melhor saldo de gols, sendo "tecnicamente" o líder, ficou com a melhor vaga da Holanda (Países Baixos) na Liga dos Campeões. Com o Bayern de Munique já tendo vaga na temporada 2020/21, campeão alemão que foi, abriu-se a vaga na fase de grupos - e ela era do time de Amsterdã. Para entrar no pote 2 do sorteio, os Ajacieden torciam para que o Sevilla vencesse a Liga Europa 2019/20, e para que o Benfica fosse eliminado na 3ª fase preliminar da Champions League. Ambos os desejos, realizados. E a sorte acabou aí.
Porque, antes mesmo do sorteio, já se sabia que os Amsterdammers perderiam Hakim Ziyech - desde antes da pandemia, aliás - e Donny van de Beek, enfraquecendo bastante o poder de fogo no ataque. E quis o destino que as bolinhas reservassem como adversários no grupo D o Liverpool, que praticamente dispensa apresentações; a Atalanta, que foi em 2019/20 o que o Ajax fora na temporada anterior - isto é, a "zebra que atrai a torcida pela ofensividade na Liga dos Campeões" (e que é eliminada com gol nos estertores da partida decisiva, diga-se de passagem); e até mesmo o Midtjylland dinamarquês, embora francamente pouco falado e considerado eliminação certa, pode chatear.
De lá para cá, pouco mudou. Sim, o Liverpool - adversário da estreia do Ajax, nesta quarta - terá de encarar as desagradáveis ausências de Alisson e Virgil van Dijk (esta, a longo prazo). Mas sobram "só" Mohamed Salah, Roberto Firmino, Sadio Mané, Jordan Henderson, Trent Alexander-Arnold... perigos de sobra, que mantêm os Reds favoritos. E a Atalanta não só ficou com todos os seus destaques (Marten de Roon, Alejandro "Papu" Gómez, Luis Muriel) como ainda trouxe nomes promissores (um deles o Ajax conhece bem, como adversário: Sam Lammers).
Certo, o Ajax tem sua força. Dusan Tadic é um ótimo comandante das ações de ataque, com Quincy Promes a postos. Nas laterais, Noussair Mazraoui e Nicolás Tagliafico são nomes confiáveis. Algumas contratações que acabaram de chegar já parecem estar há tempos em Amsterdã: Antony e Mohammed Kudus são os grandes exemplos. Davy Klaassen, mais experiente e mais consciente taticamente, é o "filho pródigo" que pode ajudar com sua experiência, voltando após três anos. E há as revelações, sempre elas no Ajax, venham da base ou compradas a baixo custo: Perr Schuurs, Kenneth Taylor, Ryan Gravenberch, Jurgen Ekkelenkamp, Sontje Hansen, Brian Brobbey... elas podem formar um bom time. Um time que até pode disputar a vaga nas oitavas de final. Mas até todos se entrosarem, até haver o "clique", leva tempo. E esse tempo pode e deve ser insuficiente para fazer frente aos favoritos Liverpool e Atalanta.
Liga Europa
Começando bem na Eredivisie, contratações promissoras, avanços inquestionáveis nas fases preliminares... o PSV parece consistente para avançar na Liga Europa (Photo Prestige/Soccrates/Getty Images) |
A equipe de Eindhoven ainda está no começo da temporada, mas tem a seu favor itens bastante favoráveis para possibilitar otimismo com suas possibilidades na Liga Europa: contratações de respeito, um bom começo no campeonato nacional e classificações categóricas nas fases preliminares da Liga Europa. Detalhando esta última razão, os Boeren eram mais fortes contra o Mura esloveno, na 3ª fase preliminar, e contra o Rosenborg norueguês, nos play-offs pela vaga na fase de grupos. E provaram isso, goleando o Mura (5 a 1) e vencendo tranquilamente o Rosenborg (2 a 0). Tudo, fora de casa.
De quebra, os últimos dias da janela de transferências trouxeram reforços que efetivamente fortalecem o que o técnico Roger Schmidt já tinha à disposição. Eran Zahavi, Mario Götze, Ibrahim Sangaré, Marco van Ginkel (quando se recuperar)... todos podem ajudar os destaques já titulares - Denzel Dumfries, Cody Gakpo, Donyell Malen, até o agora reserva Mohamed Ihattaren. Em que pesem algumas escaramuças pequenas durante os jogos, o PSV já lidera o Campeonato Holandês após cinco rodadas. E mostra capacidade técnica e experiência para desafiar o PAOK grego e o Granada espanhol no grupo E - suplantar o Omonia Nicosia, do Chipre, deve ser mais fácil...
De todos os motivos que tornam dificílimo o otimismo com a participação dos Alkmaarders no grupo F, o último a surgir é o mais forte e perigoso: claro, o surto de infecções pelo novo coronavírus que surgiu no grupo de jogadores - na sexta passada, foram anunciados nove infectados, sendo seis jogadores; nesta terça, anunciaram-se mais oito testes positivos, sete envolvendo atletas. Só isso já dificulta bastante a situação do AZ para a estreia, nesta quinta-feira, contra o Napoli-ITA. Se é que a partida ocorrerá.
Mas antes mesmo do "corona-tsunami" cobrir o time de Alkmaar, as desconfianças já andavam grandes. Na Liga dos Campeões, o time passou com muita dureza pelo Viktoria Plzen, na segunda fase preliminar, e caiu para o eficiente Dynamo Kiev na 3ª fase preliminar. E nas cinco primeiras rodadas iniciais do Campeonato Holandês, a equipe de Alkmaar exibe tanto capacidade no ataque quanto desatenção na defesa: não fosse assim, e não teria perdido vitórias próximas para Fortuna Sittard, Sparta Rotterdam e VVV-Venlo (contra o Sparta, vencendo por 4 a 0 no fim do 1º tempo!). Assim fica difícil acreditar que o AZ pode superar os dois favoritos do grupo: um Napoli forte e experiente, e uma Real Sociedad ofensiva. Se a desatenção continuar, até mesmo o Rijeka croata pode assustar.
Sim, o Feyenoord tem condições de se classificar na Liga Europa. Mas as lesões, a falta de alternativas no grupo e a falha nas finalizações podem atrapalhar (ANP/Getty Images) |
Feyenoord (lista de inscritos)
Quando o sorteio dos grupos revelou que o Feyenoord teria contra si o Dinamo Zagreb croata, o CSKA Moscou russo e o Wolfsberger austríaco na chave K, o técnico Dick Advocaat deixou claro seu alívio, numa entrevista coletiva: "Poderia ter sido bem pior". Classificado diretamente para a fase de grupos que estava, o Stadionclub tinha até a possibilidade de se aprimorar na pré-temporada e no princípio do Campeonato Holandês, para provar sua capacidade. De certa forma, o time de Roterdã até faz isso: seu começo na Eredivisie é positivamente regular, e o time já tem alguma consistência.
Contratações como Bryan Linssen e, principalmente, o português João Teixeira se mostram plenamente capazes de tirarem a sobrecarga de Steven Berghuis na criação e na finalização das jogadas. Porém, se o Feyenoord cria chances de gol, também as perde muito. E a onda de lesões já irrita Dick Advocaat: Eric Botteghin na defesa, Leroy Fer no meio, Nicolai Jorgensen e Robert Bozeník no ataque... principalmente na frente, as lesões escancaram que a falta de reforços pode ser prejudicial para disputar a classificação. O Feyenoord pode avançar à segunda fase, mas é necessário confiar desconfiando.
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