quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Achou-se um caminho

A Holanda ainda teve dificuldades contra a Itália. Mas a expressão de Van de Beek exemplifica bem a evolução da Laranja, mais valente e ofensiva no empate (Getty Images)

Enfrentar a Itália - ofensiva, motivada, entrosada, há 18 jogos sem perder - era algo temerário para uma seleção da Holanda (Países Baixos) lenta e desatenta, como se mostrara nos dois primeiros jogos sob o comando de Frank de Boer. E obviamente, o técnico da Laranja sabia disso. Arriscou mudanças importantes para o quarto jogo pela Liga das Nações, fora de casa, contra um adversário de respeito. E se a vitória ainda não veio sob o novo técnico, pelo menos a seleção neerlandesa mostrou no 1 a 1 desta quarta-feira que nem tudo está perdido para ela.

Está certo que a principal mudança no esquema holandês de jogo - voltar a usar três zagueiros, com cinco homens na defesa, algo que não acontecia desde 2018 - causou algumas dificuldades no começo. Havia espaço para a Itália avançar. Isso se viu já no primeiro minuto, quando Jasper Cillessen já teve de trabalhar, num chute de Lorenzo Pellegrini. Viu-se, principalmente, na jogada do gol da Azzurra, aos 16', quando um lançamento perfeito de Nicolò Barella (outra boa partida) pegou Nathan Aké e Stefan de Vrij mal posicionados, e Pellegrini ficou livre para entrar na área e fazer 1 a 0. Viu-se pouco depois, aos 23', quando Cillessen fez defesa até mais difícil, num chute de Ciro Immobile.

Entretanto, se se viam problemas, também se notavam crescimentos na Holanda, à medida que a etapa inicial progredia. Frenkie de Jong fazia mais uma de suas ótimas atuações, saindo sempre com segurança e dando o passe certo para desenvolver contra-ataques. Se Georginio Wijnaldum começou falho, Donny van de Beek enfim justificou uma escalação sua, chegando ao ataque como sempre fazia. Até mesmo Daley Blind, "liberado" para avançar com a escalação de Aké (melhorou após o lance do gol italiano), foi opção mais visível no jogo. E o gol do empate sintetizou tudo isso: Frenkie de Jong "achou" Blind na esquerda, este cruzou, Memphis concluiu, e Van de Beek conseguiu acertar o rebote de Gianluigi Donnarumma nas redes.

Se a Holanda chegou mais ao ataque em Bérgamo, boa parte disso se deveu às saídas de bola sempre precisas de Frenkie de Jong. Só faltou acertar as chances de gol (BSR Agency)


Porém, é claro, houve coisas a consertar, mesmo numa atuação promissora como a que viu da Oranje em Bérgamo. Na defesa, Hans Hateboer novamente deixou a desejar: lento, o lateral direito errou muito em suas tentativas de ajudar a defesa - o pior erro, no segundo tempo, deixou Immobile na cara do gol aos 57', e a Itália só não fez 2 a 1 pela providencial saída de Cillessen, que defendeu com os pés. Aliás, com esta e mais duas boas defesas no primeiro tempo (aos 39', em chutes de Leonardo Spinazzola e Danilo D'Ambrosio), o goleiro valorizou um pouco seu nome, que andou questionado. No ataque, Luuk de Jong até apareceu mais do que contra a Bósnia. Mas aparecer mais não quis dizer "jogar bem": quis dizer apenas que o De Jong "mais velho" perdeu boas chances de gol - principalmente no primeiro tempo, de cabeça, aos 36'.

Finalmente, houve os momentos que fizeram crer que nem tudo está perdido para a Holanda. O início do segundo tempo foi um desses, com chances se empilhando (Wijnaldum aos 49', Depay aos 55') e um time com muita gente no ataque. A Holanda conseguiu trocar passes, ser perigosa, pressionar a Itália. Faltou só a "eficiência", um velho problema neerlandês: ter gente capaz de acertar o gol - algo necessário, diante de outra atuação segura dos destaques italianos na zaga (Gianluigi Donnarumma e, principalmente, Giorgio Chiellini). E, na reta final do jogo, talvez tenha faltado mais ambição de Frank de Boer para ganhar um jogo que poderia ter sido ganho. O técnico demorou para mudar - e quando o fez, preferiu proteger a defesa com a entrada de Joël Veltman. Ryan Babel só entrou quando já quase não havia tempo para mais nada.

E ficou no placar o 1 a 1. Que dificulta a Holanda de repetir o vice-campeonato na Liga das Nações. Que faz crescer ainda mais a importância dos jogos contra Bósnia (em casa) e Polônia (fora), em novembro, nos quais nem mesmo vencer pode ser suficiente, tendo em vista a superioridade da Itália na tabela do embolado grupo 1 da Liga A. Mas a médio prazo, pelo menos o empate em Bérgamo deu a aliviante impressão de que a Laranja achou um caminho promissor de jogo. Que invista nele, então. 

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Itália 1x1 Holanda
Data: 14 de outubro de 2020
Local: Atleti Azzurri d'Italia (Bérgamo)
Árbitro: Anthony Taylor (Inglaterra)
Gols: 
Lorenzo Pellegrini, aos 16', e Donny van de Beek, aos 25'

Itália
Gianluigi Donnarumma; Danilo D'Ambrosio, Leonardo Bonucci, Giorgio Chiellini e Leonardo Spinazzola; Marco Verratti (Manuel Locatelli), Jorginho e Nicolò Barella; Federico Chiesa (Moise Kean), Ciro Immobile e Lorenzo Pellegrini (Alessandro Florenzi). Técnico: Roberto Mancini

Holanda
Jasper Cillessen; Hans Hateboer, Virgil van Dijk, Stefan de Vrij, Daley Blind (Joël Veltman) e Nathan Aké; Donny van de Beek, Frenkie de Jong e Georginio Wijnaldum; Luuk de Jong e Memphis Depay (Ryan Babel). Técnico: Frank de Boer

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