Frank de Boer tentou experimentar algumas coisas no amistoso contra o México. Mas a Holanda só deu mais razões para desconfiança e temor (ANP) |
Podia ser apenas um amistoso sem mais coisas a valer. Mas Frank de Boer sabia: o resultado (e o que se visse em campo) contra o México, em Amsterdã, já traria uma pesada primeira impressão sobre seu trabalho iniciante na seleção masculina da Holanda (Países Baixos). Pois bem: as desconfianças já grandes sobre o que seria a Laranja sob seu comando aumentaram bastante, com a vitória mexicana por 1 a 0. Claro, perder sempre traz algo errado a ser consertado. Mas a atuação neerlandesa na Johan Cruyff Arena trouxe um formigueiro inteiro atrás da orelha de quem acompanha com atenção a seleção holandesa.
Pelo menos antes da partida, até que a escalação merecia algum otimismo. Afinal, vários nomes pedidos receberam chance entre os titulares: Tim Krul no gol, Owen Wijndal na lateral esquerda, Teun Koopmeiners no meio-campo e Steven Berghuis no ataque. Além disso, retomou o 4-3-3 habitual da seleção: Memphis Depay ficou bem mais adiantado - e circulou bem menos - do que costumava fazer sob Ronald Koeman. Entretanto, tão logo a partida começou em Amsterdã, notou-se a volta de duas características preocupantes da Holanda em seus péssimos tempos vividos entre 2015 e 2017: lentidão e erros defensivos. Foi o que começou a abrir caminho para o México: um erro de Hans Hateboer na frente da área, aos 12', deixou Jesús "Tecatito" Corona livre com a bola - El Tri só não fez 1 a 0 porque Raúl Jiménez errou o chute após Corona passar. Aos 15', quem errou foi Krul: o goleiro repôs a bola nos pés de Corona, que arrematou rente à trave direita, num chute cruzado.
Só então a Laranja acelerou um pouco mais o seu ataque. Está certo que focou as jogadas exageradamente na esquerda, com Wijndal esforçado nos avanços. Mais esforçado ainda foi Berghuis - que fez o goleiro Alfredo Talavera trabalhar seriamente, num chute rebatido na pequena área aos 19', logo após Memphis Depay também arriscar, de fora da área. De quebra, Ryan Babel também teve sua vez de buscar o gol, aos 26'. Ainda assim, não era uma pressão confiável. O meio-campo auxiliava pouco nos ataques, com duas más atuações de Donny van de Beek e Georginio Wijnaldum.
O México se segurou na defesa, com até cinco nomes na fila - e saía rapidamente para o ataque, graças às boas atuações de "Tecatito" Corona e Raúl Jiménez. Some-se a isso a fragilidade defensiva nas laterais - Wijndal errou aos 34', dando chance a Rodolfo Pizarro, enquanto Hateboer foi superado com facilidade por Corona aos 35' -, e o México, aí sim, começou a trazer perigo real ao gol de Krul. Nem tanto no primeiro tempo, quando só Andrés Guardado tentou o gol de novo, num chute aos 42'. Mas na etapa final, com o miolo de zaga mudado (Joël Veltman e Nathan Aké vieram para o jogo), o desentrosamento neerlandês foi o que os mexicanos precisavam para serem superiores definitivamente.
Desentrosamento, lentidão e desatenção: todos esses erros da Holanda abriram caminho para o México se impor e chegar à vitória (Pim Ras Fotografie) |
O espaço com que Luis Rodríguez cruzou uma bola perigosa, aos 51', já sinalizava isso. Corona quase marcou o gol que merecia, aos 55', aproveitando passe de Héctor Herrera, só sendo evitado pela defesa de Tim Krul. Mas até o lance do pênalti (um pênalti, como na Copa de 2014...) que deu a vitória a El Tri indicou a desorganização que tomou conta da defesa: aos 59', bola aérea, e Aké derrubou Raúl Jiménez - que converteu a cobrança com categoria.
As mudanças em sequência até fizeram da Holanda um time mais ofensivo. Afinal, ela terminou a partida com quatro nomes na frente - Calvin Stengs, Luuk de Jong, Quincy Promes e o próprio Memphis Depay. Ainda assim, os ataques holandeses não eram construídos, mas apenas tentados, na base do "abafa". Foi assim que o empate quase veio, aos 88', quando Luuk de Jong cabeceou em cima de Talavera - e no rebote, Memphis Depay chutou no travessão. Mas de resto, com um ataque desarvorado e um meio-campo sem intensidade nem força, o México teve facilidade para manter a sua terceira vitória jogando em Amsterdã na história - nunca uma seleção não-europeia conseguira isso.
E Frank de Boer já sabe: já entrará sob pressão nos jogos da Liga das Nações, a começar pela partida contra a Bósnia, no próximo domingo. Se antes ainda merecia o benefício da dúvida, a julgar pelo amistoso, as desconfianças pesadas sobre seu trabalho estão cada vez mais justificadas.
Amistoso
Holanda 0x1 México
Data: 7 de outubro de 2020
Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Árbitro: Srdjan Jovanovic (Sérvia)
Gol: Raúl Jiménez, aos 60'
Holanda
Tim Krul; Hans Hateboer, Virgil van Dijk (Joël Veltman), Stefan de Vrij (Nathan Aké) e Owen Wijndal (Quincy Promes); Georginio Wijnaldum (Marten de Roon), Donny van de Beek e Teun Koopmeiners; Steven Berghuis (Calvin Stengs), Memphis Depay e Ryan Babel (Luuk de Jong). Técnico: Frank de Boer
México
Alfredo Talavera; Luís Rodríguez, Edson Álvarez (Luis Romo), Héctor Moreno (Néstor Araújo), César Montes e Jesús Gallardo; Andrés Guardado (Jonathan dos Santos), Héctor Herrera (Omar Govea) e Rodolfo Pizarro (Orbelín Pineda); Jesús Manuel Corona e Raúl Jimenez (Henry Martín). Técnico: Gerardo "Tata" Martino
Em um jogo como esse era uma boa oportunidade de Wijnaldum e van de Beek atuarem bem juntos para o time ter uma opção de meio campo mais ofensivo, não jogam bem. Ainda sinto falta de Luuk de Jong no meio do ataque e Depay na ponta
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