De novo, o AZ sofreu com a falta de pontaria. Mas afinal, superou o Royal Antwerp, e é mais um dos três holandeses na Liga Europa (Getty Images) |
O Ajax é o clube mais falado da Holanda na atualidade. Também, pudera: é o atual campeão da Eredivisie, é o campeão da Copa da Holanda, teve campanha marcante na Liga dos Campeões passada. Mais do que isso, o sorteio da fase de grupos desta nova Champions League deixou os Ajacieden num grupo acessível. Equilibrado também: Chelsea, Valencia e Lille também são adversários capazes de sonhar com a classificação às oitavas de final (ou, no mínimo, com o "prêmio de consolação" do lugar na segunda fase da Liga Europa). Mas o fato mais importante desta quinta para o futebol holandês não se relacionou à Liga dos Campeões, e sim à Liga Europa: os três clubes do país que disputavam lugar na fase de grupos do segundo torneio europeu de clubes o obtiveram.
E melhor foi ver que, na maioria das vezes, a vaga nas chances da Europa League foi obtida de modo categórico, mostrando até evolução dos times para a sequência do Campeonato Holandês. Tome-se por exemplo o PSV. Ó clube de Eindhoven ainda causava alguma impressão temerária - pela eliminação precoce na Liga dos Campeões (queda para o Basel, na segunda fase preliminar) e pelas atuações apagadas, já na Liga Europa. Por exemplo, na terceira fase preliminar, os Boeren passaram sufoco inesperado contra o Haugesund, da Noruega: magro 1 a 0 fora de casa na ida, 0 a 0 em pleno Philips Stadion na volta. E mesmo no jogo de ida nos play-offs, contra o Apollon Limassol, houve problemas no primeiro tempo, encerrado num 0 a 0 preocupante.
A juventude de Ihattaren (de frente) e Malen (9) já começa a se impor no PSV, também classificado (ANP) |
Veio o segundo tempo, e, aí sim, o PSV engrenou: em 16 minutos, fez 3 a 0 e encaminhou a vaga na fase de grupos da Liga Europa. Entre uma semana e outra, o time se afinou nos treinamentos. Nomes novos, como Cody Gakpo e Mohamed Ihattaren, se entrosaram definitivamente aos titulares. Chegaram reforços que podem acrescentar algo, como Ritsu Doan (meio-campo) e Kostas Mitroglou (atacante). E o que se viu nesta quinta, em Nicósia, no Chipre, no jogo de volta, foi tranquilizador: uma equipe com autoridade, resistindo facilmente aos ataques do Apollon, e partindo decisiva para a goleada por 4 a 0 no segundo tempo. Posições que pareciam cheias de incerteza no PSV, como a zaga e a lateral esquerda, agora já têm nomes que podem se consolidar (na lateral, o francês Olivier Boscagli; na zaga, há o retorno de Daniel Schwaab e o promissor alemão Timo Baumgartl). Donyell Malen parece mais e mais acostumado ao miolo do ataque. Enfim, o PSV se animou.
É o mesmo caso do Feyenoord. Quando o time de Roterdã começou o caminho na Liga Europa, o objetivo era só um: evitar o vexame de 2018/19, quando a queda foi precoce - para o Trencín, da Eslováquia, na terceira fase preliminar. E o começo da temporada do Stadionclub no Campeonato Holandês colocou várias pulgas atrás da orelha dos torcedores, com três magros empates, algo nunca acontecido antes na história do clube. Na terceira fase preliminar da Liga Europa, contra o Dinamo Tbilisi georgiano, o Feyenoord abriu 1 a 0 de vantagem, mas só engrenou rumo aos 4 a 0 após ficar com um homem a mais em campo. E na volta, em Tbilisi, chegou a levar 1 a 0, numa falha da defesa - só teve a certeza de que nada de errado ocorreria quando Eric Botteghin empatou.
O Feyenoord controla a pressão da torcida: se está mal na Eredivisie, chegou bem aos grupos na Liga Europa (BSR Agency) |
Aí, como em Eindhoven, as contratações ajudaram a equipe a se estabilizar. Jaap Stam ganhou nomes capazes de assumir a titularidade - como o português Edgar Miguel Ié, que sucedeu Jan-Arie van der Heijden (de saída, e questionado) no miolo de zaga e já caiu nas graças da torcida. Embora ainda tenha o que melhorar fisicamente, o velho conhecido Leroy Fer estabilizou o meio-campo do Feyenoord. Steven Berghuis mostra a capacidade de sempre no ataque. E entre os novatos vindos da base, o meio-campista Orkun Kökcü já parece nome frequente no time titular. O resultado foi visto nos play-offs, com duas vitórias categóricas sobre o Hapoel Be'er Sheva, de Israel: 3 a 0 tanto na ida em De Kuip, quanto na volta, na cidade israelense de Berseba. Ainda há o que melhorar na Eredivisie, mas a vaga na fase de grupos da Liga Europa dá o tempo que o Feyenoord precisava para definir de vez o time.
Se PSV e Feyenoord ganharam um "salvo conduto" para continuarem à procura da melhor escalação, o AZ já estava com o time definido desde o começo. E tendo o caminho mais longo na Liga Europa (desde a segunda fase preliminar), a equipe de Alkmaar mostrou um estranho hábito: dificuldades no jogo de ida, facilidades no jogo de volta. Foi assim contra o primeiro adversário, o Häcken-SUE: 0 a 0 decepcionante em Alkmaar, 3 a 0 tranquilos na Suécia. Na terceira fase preliminar, contra o Mariupol, da Ucrânia, outra vez o jogo de ida foi perturbado pelo alto número de chances de gol perdidas: 0 a 0 preocupante. Já na partida de volta, o ataque aproveitou suas chances. Resultado: 4 a 0, e Alkmaarders nos play-offs por um lugar nos grupos.
Porém, aí veio o adversário mais árduo: o Royal Antwerp, da Bélgica, com um time formado por muitos jogadores experientes (o goleiro Sinan Bolat, o lateral Ritchie de Laet, o atacante Dieumerci Mbokani). Prometia dificuldades. Pior ainda foi ver o inesperado acidente da queda de parte da cobertura do AFAS Stadion, em Alkmaar, impedindo temporariamente jogos em casa. Mandando a partida de ida em Enschede, no estádio do Twente, o AZ penou: levou o 1 a 0, e só no final conseguiu o empate. Na volta, em Bruxelas, a classificação foi a mais dramática possível.
Nem era necessário: a expulsão precoce de Mbokani (carrinho duro em Ron Vlaar) deixou o AZ em superioridade numérica por mais de uma hora. Mas o time, novamente, perdia chances e mais chances, pelo nervosismo e pela falta de precisão na pontaria. O drama aumentou quando Didier Lamkel Zé fez 1 a 0 para o Royal Antwerp - mas uma chance se abriu quando Lamkel Zé comemorou no alambrado, levou o segundo amarelo e foi expulso. Ainda assim, a eliminação estava próxima, mesmo com um time altamente promissor - com destaque para o ataque. E foram justamente dois dos integrantes do trio ofensivo que salvaram o AZ, aos 90': Oussama Idrissi cruzou, e Calvin Stengs completou para o 1 a 1 que levou o jogo à prorrogação. Com mais homens em campo e vantagem psicológica, a prorrogação premiou o talentoso AZ: 4 a 1 e vaga nos grupos.
Com três clubes na Liga Europa e um na Liga dos Campeões, o futebol da Holanda vê abertas as chances de, quem sabe, ter mais boas histórias para contar na temporada. Só ter uma boa história, como a do Ajax na Liga dos Campeões passada, já era bom. Mas mais é sempre melhor. Até para poder ganhar mais facilidades e mais vagas diretas, no futuro.
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