sábado, 28 de dezembro de 2024

Laranja Mecânica, primeira e única: 9º capítulo - na bola e no pau

Foi somente ao vencer o Brasil que a Holanda se deu conta do que tinha conseguido na Copa de 1974. E a vitória comemorada foi dupla: na bola e nas faltas... (Reprodução/Fanpictures.ru)

Introdução









No fim do oitavo capítulo, soube-se da história ocorrida na festa de confraternização da delegação da Holanda (Países Baixos) na Copa de 1974, repercutida por jornais alemães em 2 de julho - e, só por isso, dando alguma dor de cabeça aos membros dela. Não tão grande, porque alguns meios holandeses se abstiveram de informar sobre evento particular. Mas grande a ponto de Rinus Michels ter pedido por uma entrevista coletiva no Waldhotel-Krautkrämer (já incluindo jornalistas brasileiros no recinto), para desdenhar: "Relatos como os que saíram nos jornais alemães pertencem a uma 'guerra fria', e ela vai começar de novo. Essa guerra fria começou, eu esperava até que começasse antes. O único objetivo é causar confusão, e qualquer coisa que eu diga a mais sobre isso será ridículo".

Da parte da imprensa holandesa, não só ela tomou o lado de sua seleção local (até obviamente), como alguns meios até mesmo romperam relações com veículos alemães - o De Telegraaf, por exemplo, deixou de compartilhar notícias com o Bild, como vinha fazendo até então. Já o Algemeen Dagblad, jornal concorrente, organizou outro evento para descontrair a delegação holandesa, em parceria com a emissora de televisão TROS. Um evento muito mais ameno, apenas reunindo cantores e humoristas se apresentando aos jogadores e à comissão técnica. Tanto que Rinus Michels até se arriscou a cantar.

Ainda assim, houve um jogador que amargou tudo aquilo: Johan Cruyff. A notícia chegara aos olhos da esposa Danny, e reza a lenda que ambos tiveram telefonema tenso já no dia 2. Para piorar, o principal jogador da Holanda (e da Copa, como pensava a maioria dos que acompanhavam o torneio) ficara doente na véspera do jogo contra o Brasil, por causa de uma gripe. Tudo isso influiu na declaração que Cruyff deu no dia 2, à emissora NOS e ao jornalista Joop Niezen, da revista Voetbal International, ressaltando o que já falava aqui e ali: "Esta é minha primeira e minha última Copa. Daqui a quatro anos, já terei 31 anos de idade, e vou encerrar minha carreira. Sempre disse isso, e continuo com a decisão".

Muito sendo falado fora de campo... mas havia ainda o Brasil no caminho da final, como adversário no último jogo do grupo A da segunda fase.

E o Brasil, como chegava?

Para a torcida brasileira, o mau humor predominava na Copa de 1974. Desde a primeira fase daquele torneio, o Brasil era considerado cauteloso demais (no popular: "retranqueiro"), e havia um culpado para a opinião pública: o técnico Zagallo. Na primeira fase, de fato, os resultados preocuparam, com empates sem gols contra Iugoslávia e Escócia - só uma vitória por 3 a 0 sobre o então Zaire, atual República Democrática do Congo, fez com que o Brasil chegasse à segunda fase, mas na segunda posição do grupo 2.

Na segunda fase, as coisas melhoraram um pouco para a Seleção. Se não brilhara nas duas vitórias - 1 a 0 na Alemanha Oriental, 2 a 1 na Argentina -, era unânime que as entradas de Zé Maria (lateral direita), Paulo César Carpegiani e Dirceu (ambos no meio-campo) haviam tornado o time mais rápido e mais esforçado em campo. Além do mais, havia Rivellino, Paulo César Caju e Jairzinho, sempre merecedores de respeito, destaques técnicos e remanescentes da fabulosa campanha do terceiro título mundial em 1970. E havia uma defesa respeitável, com Leão como um dos bons goleiros do Mundial, e Luís Pereira com status igual no miolo de zaga. Tanto que o Brasil só tomara um gol até ali na Copa, contra a Argentina.

Num Brasil contestado mas que reagia durante a Copa de 1974, o ataque era respeitado, mas a defesa da Seleção impressionava mais a Holanda (Masahide Tomikoshi)

Era esta defesa brasileira, e não o ataque, que mais preocupava os holandeses. Pelo menos é o que se nota nas declarações de imprensa. Como esta, de Rensenbrink, ao Algemeen Dagblad de 2 de julho de 1974: "O Brasil é muito forte, acima de tudo, na defesa. E esse time, fisicamente forte, só precisa de uma chance para fazer o gol". No mesmo diário, Johnny Rep alertava: "Defensivamente, [o Brasil] é um time muito forte, e atacando, é muito perigoso. Como nós. não perderam nenhum jogo na Copa, ainda". E Rinus Michels dava o alerta definitivo, ao De Telegraaf da mesma data: "Desde a estreia contra a Iugoslávia, eu já notei que o Brasil poderia ir longe na Copa. Há muita disciplina no time. Na Copa do México [1970], eles sempre ditavam o ritmo do jogo. Isso acontece menos agora, mas continua sendo um time muito perigoso".

Do lado brasileiro, os salamaleques eram elegantemente devolvidos. O De Volkskrant de 2 de julho de 1974, por exemplo, dava destaque à declaração de Marinho Chagas - considerado até ali um dos melhores laterais esquerdos da Copa: "O time [Holanda] joga de uma maneira muito diferente. Todo mundo fica se mexendo em zigue-zague, e quando você vê, você nem sabe quem são os zagueiros e quem são os atacantes. Para mim, este é o futebol do futuro". No Jornal do Brasil do 3 de julho da partida, Paulo César Caju alertava que o time não era só Cruyff: "Se a gente se preocupa com o Cruyff, o Neeskens acaba fazendo gol. No time deles ninguém tem posição definida. O negócio é marcarmos por zona, trabalharmos o dobro e partirmos com rapidez para o gol". Era exatamente a indefinição das posições que Zagallo elogiava, no mesmo JB: "Por isso é que gosto do futebol que os holandeses apresentam. O futebol da Holanda é alegre, e tenho certeza de que a partida de hoje será excelente".

Outra certeza que Zagallo dava: Cruyff não receberia marcação especial. Aliás, "Cruyff sem marcação" era uma das manchetes d'O Globo no dia da partida. O técnico brasileiro se justificava: "Sei que Cruyff é muito bom, mas da mesma maneira os holandeses devem estar preocupados com o Jairzinho, o Rivellino e o Marinho [Chagas]. Cruyff será marcado, sim. Porém, não teremos nada de especial para ele." O Algemeen Dagblad do dia da partida também trazia declarações do técnico brasileiro: "Não jogamos contra um jogador, jogamos contra um time. Cruyff não é o único bom jogador da Holanda". Finalmente, dias antes da partida, o De Volkskrant de 1º de julho de 1974 trazia a lembrança de Zagallo: "Não podemos esquecer que a Holanda enfrentou adversários mais frágeis do que nós".

Mas ficavam nisso, pelo menos oficialmente, os alertas de Zagallo a favor do Brasil. Não se encontraram declarações repercutidas depois, de que ele teria dito que Cruyff se chamava "Crush" (refrigerante de laranja popular à época), ou a frase "a Holanda é muito tico-tico no fubá, que nem o América dos anos 1950", ou mesmo que tivesse dito "já estou pensando na final contra a Alemanha". O único registro mais enfático foi o de Zagallo brincando com a torcida holandesa, em maior número no Waldstadion de Dortmund, indicando que tentaria transformar o mar laranja em suco.

Começa o jogo - e a briga

Jogo iniciado, a Holanda parecia mostrar que tentaria ser dominante como fora contra Argentina (mais) e Alemanha Oriental (menos). Tanto que a primeira falta da partida seria brasileira (Valdomiro em Neeskens, aos 2'). Mais alguns minutos, e aos 6', viria a primeira grande chance de gol, repetida até hoje em reportagens sobre aquele jogo - e sobre Johan Cruyff, de modo geral: Van Hanegem deixou a bola com Jansen, que cruzou da direita. Zé Maria rebateu parcialmente, Cruyff chutou e Leão fez defesa ótima - até hoje, o goleiro brasileiro se orgulha (com justiça) do "Número 14" achar aquela uma das melhores defesas que viu na carreira. E Leão não teria de prestar atenção só ali, porque, no escanteio da sequência, Van Hanegem mandou de voleio, por cima do gol. Só que o bom começo holandês ficou por ali.

Pausa incomum feita aos 10' - minuto de silêncio, impecável, em memória do presidente argentino Juan Domingo Perón, dois dias antes -, começou algo que só o tempo deixou claro: sim, o Brasil tentou atacar a Holanda. Do lado da Laranja, era unânime, como sempre foi: mais do que cuidados na defesa, o impacto psicológico de enfrentar o tricampeão mundial pesou por algum tempo em campo. E a Seleção, jogando de azul, se aproximou do ataque. Aos 11', dois impedimentos: primeiro de Paulo César Caju, depois de Valdomiro (aparecendo bastante na ponta direita). Logo depois, aos 13', Valdomiro chegou livre à área com a bola, mas hesitou na finalização, a bola passou por baixo de Jongbloed, e só então Krol afastou o perigo. Mais um pouco, e aos 16', Valdomiro bateu de fora da área, e o goleiro holandês defendeu.

Do meio do primeiro tempo adiante, mais um aspecto que só o tempo deixaria claro: as tantas faltas trocadas entre Brasil e Holanda (Países Baixos), com os holandeses cometendo mais faltas (30, contra 25 brasileiras), mesmo sem levarem cartões amarelos na etapa inicial, contra três brasileiros. Começou aos 18', com Van Hanegem derrubando Paulo César Caju no meio. Depois, aos 30', após Leão rebater chute de Rensenbrink, começaram as brigas, originadas por empurrão de Suurbier em Zé Maria: outros brasileiros tomaram as dores do zagueiro, holandeses também entraram no meio, e no fim, só Luís Pereira levou cartão amarelo. Foi a senha. Sem bola, Rivelino foi golpeado por Van Hanegem; aos 39', após disputa dura entre Rep e Zé Maria, o lateral direito brasileiro seguiu na jogada e agarrou Cruyff pelas pernas, também levando cartão amarelo. Mais dois minutos, e também sem bola, Marinho Peres bateu na cabeça de Neeskens, que caiu aparentemente desmaiado. 


Por sinal, na sequência deste último lance, o Brasil teve mais uma grande chance: Zé Maria cruzou, Dirceu ajeitou na entrada da área, Paulo César Caju bateu, a bola ricocheteou em Rijsbergen na área, e sobrou para Jairzinho bater para fora, rente à trave esquerda de Jongbloed. Antes disso, aos 25', já houvera uma chance que poderia ter colocado o time de Zagallo em vantagem: Rivellino passou a bola no meio, Dirceu ajeitou, e Paulo César Caju finalizou cruzado, também rente à trave direita. O lance foi invalidado, por impedimento de Caju. Impedimento por muito pouco.

Era claro, até por Jansen não ter aparecido tanto para ajudar o meio-campo, mais recuado, enquanto Cruyff ditava o jogo e Neeskens o acelerava: o Brasil estava pressionando a Holanda no ataque, tanto quanto a Holanda o fazia (em lances como chute de Rensenbrink, de fora da área, aos 33', pego por Leão). Se a torcida holandesa gritava mais - Neeskens era festejado, e quando deu a pancada na cabeça, Marinho Peres foi ofendido com o "hi, ha, hondelul" (no popular, "pinto de cachorro") -, o Brasil também tinha sua torcida aparecendo mais. De certa forma, um cenário que dava razão ao que Leão falou, em 2011, em depoimento aos pesquisadores Bernardo Borges Buarque de Hollanda e Bruno Romano Rodrigues, para o projeto de memória "Futebol, Memória e Patrimônio", parceria do Museu do Futebol com a Fundação Getúlio Vargas: "Nós só não ganhamos da Holanda e eliminamos a Holanda no primeiro tempo por uma questão de erros individuais. Poderíamos ter ganho".

Só no segundo tempo a Holanda se aprumaria.

A vitória mais comemorada

A Laranja tentara o gol, mas estivera nervosa no primeiro tempo. Como nunca tinha estado naquela Copa. Teria de resolver isso no segundo tempo. A tarefa seria facilitada por ótima atuação de Cruyff, superando a gripe para fazer o que já sabia: ditar o jogo, apontar posicionamentos, acelerar o jogo com passes em profundidade. Foi assim que surgiu o melhor jeito dos neerlandeses se acalmarem: um gol. Aos 50', após Dirceu cometer falta, Van Hanegem cobrou rápido, Neeskens ajeitou para Cruyff, este cruzou, e após leve desvio em Marinho Peres, a bola ficou à feição para Neeskens fazer 1 a 0, de carrinho, encobrindo Leão.

O gol de Neeskens foi a calma de que a Holanda precisava para, enfim, dominar o Brasil, somente no segundo tempo da partida (Bert Verhoeff/Anefo)

Ficar na frente do placar fez com que a Holanda tivesse mais espaço para atacar - algo notado pelos avanços mais frequentes de Jansen, e por tentativas como o chute de Neeskens, de fora da área, que Leão pegou aos 54'. O que não quer dizer que o Brasil não tentasse o ataque, ainda. Aos 59', Valdomiro ficara à feição para finalizar após cobrança de falta, mas estava impedido. E aos 63', um cruzamento despretensioso de Marinho Chagas foi espalmado, meio atabalhoadamente, por Jongbloed (que, como se nota, se tinha qualidades na reposição de bola e nas antecipações, era um goleiro desajeitado no posicionamento). Precisando virar o jogo para chegar à final, já que o empate era vantagem da Laranja, o Brasil tentou mudar o ataque, com a entrada de Mirandinha no lugar de Paulo César Caju.

Mas aos 65', veio o lance que para sempre estará na cabeça dos holandeses, como símbolo de que nada impediria a chegada à final. Ruud Krol, por exemplo, se emocionou ao descrever a jogada ao jornalista Auke Kok: teve liberdade para avançar (coisa que não vinha acontecendo na partida), tabelou com Rensenbrink, cruzou, e Cruyff chegou para escorar na pequena área e fazer o 2 a 0. Foi a senha para a torcida holandesa celebrar mais e mais. A vitória contra o Brasil estava próxima.

Só que algo comum em todo o jogo também continuou, mesmo com a vantagem holandesa: as brigas. Aos 67', Haan atingiu sem bola a virilha de Zé Maria; aos 69', após derrubar Rivellino, Rep levou cartão amarelo, e deu motivo para mais uma briga rápida entre brasileiros e holandeses. Mais quatro minutos, e Marinho Chagas foi derrubado por trás, por Suurbier - para revidar a falta, deu com as travas da chuteira na cara do lateral direito holandês. Mas somente o brasileiro levou amarelo do juiz alemão ocidental Kurt Tschenscher - criticado principalmente por dar cartões preferencialmente aos brasileiros, deixando apenas nas broncas as faltas holandesas, em maior número. Zagallo, inclusive, criticou a postura de Tschenscher, em declarações estampadas ao Jornal do Brasil: "Perdemos a possibilidade de conquistar o título, numa partida altamente técnica, mas várias vezes desvirtuada pela violência. Quero deixar claro que não foram os jogadores brasileiros que a iniciaram. O que os nossos fizeram foi apenas revidar as entradas brutais de alguns adversários, e que estavam sendo permitidas pelo juiz".

De todo modo, o cartão mais simbólico da violência daquele jogo veio depois, aos 84', e foi justo: com espaço e bola para seguir avançando, Neeskens foi atingido por um carrinho alto de Luís Pereira, prontamente expulso com o cartão vermelho. O zagueiro brasileiro saiu do campo tentando manter o Brasil por cima: contra a torcida holandesa que lhe atirava copos (no banco de reservas em frente, imediatamente os holandeses pediram que parassem com aquilo), "Luís Chevrolet" mostrava a camisa azul e fazia o número três com os dedos, indicando que a tradição maior no futebol era brasileira, três vezes campeões mundiais. O médico da delegação holandesa, Frits Kessel, chegou a exagerar, imaginando que Luís Pereira estivesse dopado, tal era a raiva do zagueiro.

Mesmo expulso, Luís Pereira (acalmado por Rivellino) fez questão de ressaltar aos torcedores holandeses: o Brasil é que já tinha tradição. Mas a vaga na final era da Laranja (Bert Verhoeff/Anefo)

Só que a final era holandesa. A comemoração da vaga na final era da Laranja. Jogo terminado em Dortmund, os brasileiros reconheceram que, jogo duro à parte, ela merecera (Rivellino: "Eles possuem um grande time, não resta a menor dúvida"; Paulo César Carpegiani: "A Holanda pratica um futebol que tem espetáculo e é de competição"). Rinus Michels falou ao diário Algemeen Dagblad de 4 de julho, dia seguinte, da suposta violência brasileira (por mais que, repita-se, a Holanda tivesse cometido mais faltas, em número): "O Brasil não perdeu só no futebol, perdeu também sua cara. A máscara dos brasileiros caiu". Neeskens, a vítima maior das faltas, também se impressionou, no mesmo jornal: "Eu já estou acostumado, mas nunca vivi nada igual. Eles faziam de tudo, principalmente se fosse sem bola. Faltas horríveis". Muitos anos depois, Ruud Krol se "orgulhou" da dureza da partida, em depoimento a Auke Kok: "O jogo teve tudo. Jogadas bonitas, briga, dureza. Foi uma luta. O juiz deixou muita coisa acontecer, e gosto disso, ver até onde posso ir. (...) É o bacana do futebol de alto nível. Éramos ótimos jogadores, podíamos jogar bem e bater. Faz parte do jogo".

E a Holanda vencera o Brasil. Na bola e no pau. Estava na final.


COPA DO MUNDO FIFA 1974 - SEGUNDA FASE - GRUPO A

Holanda 2x0 Brasil

Data: 3 de julho de 1974
Local: Waldstadion (Dortmund)
Árbitro: Kurt Tschenscher (Alemanha Oriental)
Gols: Johan Neeskens, aos 50', e Johan Cruyff, aos 65'

HOLANDA
Jan Jongbloed; Wim Suurbier, Arie Haan, Wim Rijsbergen e Ruud Krol; Wim Jansen, Willem van Hanegem e Johan Neeskens (Rinus Israël, aos 81'); Johan Cruyff; Robert Rensenbrink (Theo de Jong, aos 67') e Johnny Rep. Técnico: Rinus Michels

BRASIL
Leão; Zé Maria, Luís Pereira, Marinho Peres e Marinho Chagas; Paulo César Carpegiani, Rivellino e Paulo César Caju (Mirandinha, aos 61'); Valdomiro, Jairzinho e Dirceu. Técnico: Zagallo

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