segunda-feira, 27 de maio de 2019

As 23 Leoas: Van de Donk

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Van de Donk aparece pouco aos olhos de torcida e imprensa, mas já é titular absoluta da seleção da Holanda há muitos anos - e pode virar protagonista, se necessário (onsoranje.nl)



Daniëlle van de Donk é até pouco falada na seleção feminina da Holanda. Não se destaca publicamente quanto as três atacantes das Leoas, não tem a experiência e a vitalidade de Sherida Spitse. Mas Van de Donk talvez seja a meio-campista tecnicamente mais capacitada na seleção: tem qualidade na criação das jogadas e na distribuição da bola em campo. Não à toa, já é titular da Laranja há pelo menos seis anos. E a não ser por um desastre nos dias finais de preparação, estará a postos como camisa 10 para mais um torneio grande pela seleção.

Van de Donk repetiu em sua trajetória um traço comum a muitas de suas companheiras de seleção: começou jogando num time amador da cidade natal - no caso, o SV Valkenswaard. Dali, foi para outro clube amador, de cidade vizinha: o VV Una, de Veldhoven. Entretanto, tão logo o futebol feminino holandês recebeu o impulso da profissionalização (com o advento da Eredivisie feminina, em 2007), a adolescente já recebeu atenção. Em clubes, Van de Donk achou espaço no Willem II, sendo contratada em 2008 - e marcando um gol em 18 jogos, pelo campeonato. No mesmo ano, em setembro, passou a jogar pela seleção sub-19, contra a Dinamarca - e já marcou um gol.

Foi suficiente para que a técnica da seleção principal, Vera Pauw, já incluísse a novata de 17 anos na convocação para um jogo contra a Bélgica, nas Eliminatórias da Euro 2009. Van de Donk já agradava, e só teve o desenvolvimento da carreira retardado por uma grave lesão: no meio da temporada 2009/10 do campeonato feminino da Holanda, a armadora sofreu um rompimento de ligamentos no joelho. Só voltou ao Willem II com a temporada seguinte já em andamento. Mas se adaptou rapidamente aos Tricolores (foram 21 jogos e 4 gols na liga). Mais importante: o técnico Roger Reijners se lembrou da meio-campista, voltou a convocá-la para a seleção principal, e Daniëlle estreou pela Holanda em 15 de dezembro de 2010, na vitória por 3 a 1 sobre o México, no Pacaembu, em jogo pelo Torneio Internacional Cidade de São Paulo, certame amistoso.

Sem muito espaço no meio-campo do Willem II após a lesão, Van de Donk mudou de ares na temporada 2011/12: se foi para o VVV-Venlo. Nos Venlonaren, pôde dar vazão ao estilo mais ofensivo: criando as jogadas e chegando ao ataque, ela marcou 8 gols em 18 jogos. Na seleção, seguiu merecendo chances, vinda do banco, marcando o primeiro gol contra a Sérvia, nas Eliminatórias da Euro 2013. E veio outra grande chance, com a contratação para o time feminino do PSV - então, em parceria com o FC Eindhoven. E a temporada 2012/13 da BeNeLeague (campeonato conjunto entre times femininos de Bélgica e Holanda) serviu para a explosão de Daniëlle: foram 14 gols em 22 jogos pelo PSV/FC Eindhoven. Concluindo, a meio-campista foi convocada para a Euro 2013 - e foi titular da Holanda, na campanha com a eliminação precoce na fase de grupos.

Já na Copa de 2015, Van de Donk era titular da seleção da Holanda (Shaughn Butts/Edmonton Journal)
Mesmo com a má campanha na Euro, já se sabia que Van de Donk estava pronta para ser a principal criadora ofensiva da seleção da Holanda. A temporada 2013/14 da BeNeLeague deu essa certeza: foram 31 gols em 24 partidas pelo PSV/FC Eindhoven, com a meio-campista sendo o destaque do time na temporada. Faltaram os títulos - no máximo, houve um vice-campeonato na Copa da Holanda. Mas Daniëlle manteve o bom nível em 2014/15: 10 gols em 18 jogos pela BeNeLeague. Assim, também se garantiu na convocação para a primeira Copa do Mundo feminina de que a Holanda participou, em 2015 - e na Copa, Van de Donk se destacou como a principal armadora da seleção.

A participação no Mundial já fazia o futebol feminino chamar atenção na Holanda, mas ainda não facilitava a vida da meio-campista, que lamentou ao diário De Volkskrant, em 2015: "A rigor, eu sou jogadora profissional. Mas não acho que o mundo me veja assim. Se você vê como vivemos, somos profissionais. Mas eu estudo, outras trabalham. É uma combinação estranha. Eu moro com meus pais e jogo no PSV. Se eu gastar muito, vai faltar dinheiro. Daí eu prefiro poupar para estudar”. Pelo menos, após a Copa, as preocupações profissionais diminuíram: Van de Donk se transferiu para o Kopparbergs/Göteborg, da Suécia, podendo manter a carreira no campo. Ficou pouco no clube: 18 jogos e 4 gols pela temporada 2015/16 do Campeonato Sueco. Mas só ficou pouco porque uma chance ainda maior apareceu para ela.

Van de Donk se preocupava com a sequência da carreira profissional, após a Copa de 2015. As transferências para Suécia (Kopparbergs/Göteborg) e Inglaterra (Arsenal) resolveram isso (Getty Images)
A chance surgiu pelo Arsenal: o clube inglês acertou a contratação da meio-campista, ainda no fim de 2015. E no ano seguinte, ela já estreou pelos Gunners, podendo celebrar, enfim, o primeiro título da carreira: a Copa da Inglaterra, ganha sobre o Chelsea, com a meio-campista como titular. Coisa melhor ainda viria em 2017: titular da seleção holandesa por todo esse tempo, "Daan" (seu apelido) foi óbvia presença na Holanda durante a Euro feminina. Não só foi titular em todas as partidas da campanha da Laranja (só saía nos acréscimos, para dar lugar a Jill Roord), mas também marcou o segundo gol na vitória contra a Inglaterra, nas semifinais. E mesmo pouco falada, Van de Donk foi fundamental para o título da Holanda.

De lá para cá, Van de Donk seguiu como nome certo no Arsenal, pelo qual conquistou o título da Copa da Liga Inglesa, na temporada 2017/18, e o título inglês desta temporada. Na seleção, ela segue como dona da camisa 10, criando as jogadas de ataque - e às vezes, até as finalizando, como no amistoso contra o Chile, em março, quando a Holanda fez 7 a 0 com três gols dela. Não restam dúvidas: Van de Donk chega capacitada para ser titular absoluta da Laranja na Copa. E se for necessário, a coadjuvante pode virar protagonista.

Ficha técnica
Nome: Daniëlle van de Donk
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 5 de agosto de 1991, em Valkenswaard (Holanda)
Clubes na carreira: Willem II (2008 a 2011), VVV-Venlo (2011 a 2012), PSV/FC Eindhoven (2012 a 2015), Kopparbergs/Göteborg-SUE (2015) e Arsenal-ING (desde 2015)
Desempenho na seleção: 88 jogos e 16 gols, desde 2010

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