quarta-feira, 14 de junho de 2023

A Croácia teve mais

A Holanda sonhava com uma final na Liga das Nações. Teve menos talento e menos organização para conseguir isso do que a merecedora Croácia (Pro Shots)

A seleção masculina da Holanda (Países Baixos) tinha todo o direito de sonhar com o título da Liga das Nações: possui uma equipe razoável, jogaria em casa, alguns nomes poderiam ser decisivos num bom dia. Entretanto, jamais poderia ser chamada de favorita, contra uma seleção da Croácia que é até mais razoável do que ela. E numa semifinal equilibrada, os croatas foram mais, de fato. Em todos os aspectos. E mereceram a vitória por 4 a 2 em De Kuip, ganhando a vaga na final a que fizeram mais jus do que a Laranja.

A escalação da Holanda intercalou surpresas e previsibilidades. Surpresas, em algumas novidades: Lutsharel Geertruida dividiu a zaga com Virgil van Dijk, e Mats Wieffer foi escolhido em detrimento de Georginio Wijnaldum para formar o meio-campo com Teun Koopmeiners e Frenkie de Jong. Já a previsibilidade veio do ataque: o trio com Donyell Malen, Cody Gakpo e Xavi Simons, com Gakpo no meio da área (substituindo o cortado Memphis Depay), era comentado desde os treinos. Assim como também foi previsível que a Croácia tentaria controlar o jogo no meio-campo - com dois bons nomes, Marcelo Brozovic e Mateo Kovacic, a ajudar Luka Modric, em outra atuação previsivelmente exuberante. Desde o primeiro tempo, Modric não só bloqueava Frenkie de Jong, como ajudava os croatas.

O que não quer dizer que a Croácia atacasse muito - mesmo com velocidade pelos lados (mais uma surpresa, com Ivan Perisic começando na lateral esquerda), a única finalização digna de nota foi um chute de Andrej Kramaric - também rápido -, aos 31'. Do lado holandês, surpreendiam os avanços de Lutsharel Geertruida para ajudar no meio-campo, bem como a atuação de Mats Wieffer, mais desenvolto do que Koopmeiners com a bola nos pés. A tal ponto que ele foi fundamental na jogada do gol que abriu o placar, aos 34', ajeitando bem para o chute de Donyell Malen, numa de suas primeiras participações no jogo. Algo até curioso, tendo em vista que Xavi Simons decepcionava.

Mas a curta vantagem da Laranja (de azul na semifinal) não significava nada, diante de uma Croácia que sabe dosar seu ritmo e atacar na hora certa, como poucas seleções no mundo. Foi exatamente o que os axadrezados alvirrubros fizeram no começo do segundo tempo. Começou num chute de Kramaric para fora, aos 49'. Continuou com Mario Pasalic ajudando Kramaric e Perisic e aumentando a rapidez. E foi completado aos 55', quando Gakpo falhou ao perder a bola perto da área. Logo para Luka Modric. E o derrubou de forma desastrada na área: pênalti, convertido por Kramaric.

Luka Modric, com mais uma atuação iluminada, fez o que está acostumado a fazer: ditar o ritmo do jogo (Sebastian Frej/MB Media/Getty Images)

Era tudo que os croatas queriam. Porque a Holanda passou a ser desorganizada, apostando apenas em bolas longas para conseguir os ataques. Até ficou perto do empate aos 57' (Wieffer chutou por cima do gol, após Koopmeiners ajeitar perto da área) e aos 69' (Gakpo chutou fraco para defesa de Livakovic, após Malen cruzar). Porém, o controle da Croácia era total no jogo. Parecia que o time terceiro colocado da Copa passada "escolheria" a hora de marcar seu gol. De fato: aos 73', jogada rápida, Luka Ivanusec cruzou, e Pasalic completou para o 2 a 1 merecido. 

Era o início do "abafa". Dois mais experientes vieram - Georginio Wijnaldum e Steven Bergwijn. Ao substituir Dumfries, Noa Lang foi para a direita, e a Holanda ficou com três zagueiros e dois atacantes. Na zaga, Frenkie de Jong, recuado (até para escapar da marcação incansável de Modric). E no ataque... Virgil van Dijk, ao lado de Wout Weghorst, para aproveitar os cruzamentos que viriam sem parar. Só assim o empate viria, já que faltavam alternativas mais técnicas a uma Holanda inferior. E ele acabou vindo, até inacreditavelmente. Outras chances mais claras haviam sido perdidas, como a de Gakpo, livre na área, chutando para fora aos 90' + 1. Até que uma das várias bolas altas foi acertada: Van Dijk ajeitou de cabeça, e Noa Lang chutou para o empate em 2 a 2. Como na queda para a Argentina, na Copa, a Holanda jogara mal a maior parte do tempo... mas conseguira o empate na pressão.

Também como no Catar, há alguns meses, não foi nada que a Croácia não aguentasse. Ritmo mantido, bastou o começo da prorrogação para a organização novamente se impor à maluquice tática holandesa. Tanto que, aos 98', Bruno Petkovic pegou a bola, à frente de Teun Koopmeiners (outra atuação decepcionante pela seleção). Superou De Jong, fora de posição mesmo na zaga. E viu o espaço deixado por Van Dijk para chutar. Com a falha de posicionamento de Bijlow no gol, foi o 3 a 2 que recolocou a ordem das coisas no placar. 

O resto foi o visto na maior parte do jogo: Holanda atarantada, Croácia organizada. Aos 101', o erro de De Jong que quase levou a um gol contra exemplificou a má atuação e a desorganização - dele e do time. Mesmo com uma chance da seleção da casa para empolgar um pouco a torcida calada pelos adeptos croatas (Bergwijn chutou, Dominik Livakovic defendeu, e Noa Lang perdeu chance livre na área, aos 110'), a Croácia estava perto do quarto gol. Que quase veio com Pasalic, chutando no travessão aos 114'. Que afinal veio com Modric, dando fecho digno de mais uma atuação que mostrou o tamanho de seu talento.

E que mostrou também como a Croácia teve mais a mostrar do que a Holanda. Mais organização, mais calma, mais eficiência. Talvez porque a seleção croata seja, atualmente, mais do que a Holanda é.

Liga das Nações da UEFA - Semifinal

Holanda 2x4 Croácia

Data: 14 de junho de 2023
Local: De Kuip (Roterdã)
Árbitro: István Kovacs (Romênia)
Gols: Donyell Malen, aos 34', Andrej Kramaric, aos 55', Mario Pasalic, aos 72', Noa Lang, aos 90' + 6, Bruno Petkovic, aos 99', e Luka Modric, aos 116'

HOLANDA
Justin Bijlow; Denzel Dumfries (Noa Lang, aos 85'), Lutsharel Geertruida, Virgil van Dijk e Nathan Aké (Tyrell Malacia, aos 106'); Mats Wieffer (Georginio Wijnaldum, aos 75'), Frenkie de Jong e Teun Koopmeiners; Donyell Malen (Steven Bergwijn, aos 75'), Cody Gakpo (Marten de Roon, aos 106') e Xavi Simons (Wout Weghorst, aos 64'). Técnico: Ronald Koeman

CROÁCIA
Dominik Livakovic; Josip Juranovic (Josip Stanisic, aos 78'), Josip Sutalo (Bruno Petkovic, aos 91'), Domagoj Vida e Ivan Perisic; Mateo Kovacic (Lovro Majer, aos 85') e Luka Modric (Borna Barisic, aos 119'); Mario Pasalic, Marcelo Brozovic e Luka Ivanusec (Nikola Vlasic, aos 78'); Andrej Kramaric (Martin Erlic, aos 90'). Técnico: Zlatko Dalic

Um comentário:

  1. O time da Croácia e previsível e depende do erro pra fazer gol e foi isso que aconteceu.
    A Holanda não tem mentalidade de campeão ( se é que um dia teve) e pra provar o que estou falando, a Croácia vai perder a final.

    ResponderExcluir