sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Holanda na Copa feminina - as 23 convocadas: Van de Donk

 
De 2019 até agora, Van de Donk viveu altos e baixos. Os baixos, inclusive, colocaram até sua carreira em risco. Mas ela os superou para chegar à Copa como titular firme (KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Daniëlle van de Donk
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 5 de agosto de 1991, em Valkenswaard (Holanda)
Clubes na carreira: Willem II (2008 a 2011), VVV-Venlo (2011 a 2012), PSV/FC Eindhoven (2012 a 2015), Kopparbergs/Göteborg-SUE (2015), Arsenal-ING (2015 a 2021) e Lyon-FRA (desde 2021)
Desempenho na seleção: 139 jogos e 34 gols, desde 2010
Torneios pela seleção: Euro 2013 (3 jogos, nenhum gol), Copa de 2015 (4 jogos, nenhum gol), Euro 2017 (6 jogos, 1 gol), Copa de 2019 (7 jogos, nenhum gol), torneio olímpico (4 jogos, nenhum gol) e Euro 2022 (4 jogos, 1 gol)

(Versão revista e ampliada do texto de apresentação para o guia deste blog na Copa de 2019)

Quem olha o meio-campo da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) já se acostumou a ver Daniëlle van de Donk por lá há cerca de dez anos, pelo menos. Até se justifica, pela capacidade que "Daan" apresenta na criação de jogadas de ataque, sendo até mais ofensiva por lá do que pelo clube em que joga. Porém, de 2019 até agora, Van de Donk passou por várias provações na carreira - uma delas, séria a ponto de até ameaçar a carreira. De todo modo, conseguiu se recuperar. E cada vez mais experiente, é mais uma titular certa da Holanda no Mundial que chega, o terceiro de sua carreira.

Van de Donk repetiu em sua trajetória um traço comum a muitas de suas companheiras de seleção: começou jogando num time amador da cidade natal (muito próxima a Eindhoven, aliás) - no caso, o SV Valkenswaard. Dali, foi para outro clube amador, de cidade vizinha: o VV Una, de Veldhoven. Entretanto, tão logo o futebol feminino holandês recebeu o impulso da profissionalização (com o advento da Eredivisie de mulheres, em 2007), a adolescente já recebeu atenção. Em clubes, Van de Donk achou espaço no Willem II, sendo contratada em 2008 - e marcando um gol em 18 jogos, pelo campeonato. No mesmo ano, em setembro, passou a jogar pela seleção sub-19, contra a Dinamarca, e já marcou um gol.

Foi suficiente para que a técnica da seleção principal, Vera Pauw, já incluísse a novata de 17 anos na convocação para um jogo contra a Bélgica, nas Eliminatórias da Euro 2009. Van de Donk já agradava, e só teve o desenvolvimento da carreira retardado por uma grave lesão: no meio da temporada 2009/10 do campeonato feminino da Holanda, a armadora sofreu um rompimento de ligamentos no joelho. Só voltou ao Willem II com a temporada seguinte já em andamento. Mas se adaptou rapidamente aos Tricolores (foram 21 jogos e 4 gols na liga). Mais importante: o técnico Roger Reijners se lembrou da meio-campista, voltou a convocá-la para a seleção principal, e Daniëlle estreou pela Holanda em 15 de dezembro de 2010, na vitória por 3 a 1 sobre o México, no Pacaembu, em jogo pelo Torneio Internacional Cidade de São Paulo, certame amistoso.

Sem muito espaço no meio-campo do Willem II após a lesão, Van de Donk mudou de ares na temporada 2011/12: se foi para o VVV-Venlo. Nos Venlonaren, pôde dar vazão ao estilo mais ofensivo: criando as jogadas e chegando ao ataque, ela marcou 8 gols em 18 jogos. Na seleção, seguiu merecendo chances, vinda do banco, marcando o primeiro gol contra a Sérvia, nas Eliminatórias da Euro 2013. E veio outra grande chance, com a contratação para o time feminino do PSV - então, em parceria com o FC Eindhoven. E a temporada 2012/13 da BeNeLeague (campeonato conjunto entre times femininos de Bélgica e Holanda) serviu para a explosão de Daniëlle: foram 14 gols em 22 jogos pelo PSV/FC Eindhoven. Concluindo, a meio-campista foi convocada para a Euro 2013 - e foi titular da Holanda, na campanha com a eliminação precoce na fase de grupos.

Já na Copa de 2015, Van de Donk era titular da seleção da Holanda (Shaughn Butts/Edmonton Journal)

Mesmo com a má campanha na Euro, já se sabia que Van de Donk estava pronta para ser a principal criadora ofensiva da seleção da Holanda. A temporada 2013/14 da BeNeLeague deu essa certeza: foram 31 gols em 24 partidas pelo PSV/FC Eindhoven, com a meio-campista sendo o destaque do time na temporada. Faltaram os títulos - no máximo, houve um vice-campeonato na Copa da Holanda. Mas Daniëlle manteve o bom nível em 2014/15: 10 gols em 18 jogos pela BeNeLeague. Assim, também se garantiu na convocação para a primeira Copa do Mundo feminina de que a Holanda participou, em 2015 - e na Copa, Van de Donk se destacou como a principal armadora da seleção.

A participação no Mundial já fazia o futebol feminino chamar atenção na Holanda, mas ainda não facilitava a vida da meio-campista, que lamentou ao diário De Volkskrant, em 2015: "A rigor, eu sou jogadora profissional. Mas não acho que o mundo me veja assim. Se você vê como vivemos, somos profissionais. Mas eu estudo, outras trabalham. É uma combinação estranha. Eu moro com meus pais e jogo no PSV. Se eu gastar muito, vai faltar dinheiro. Daí eu prefiro poupar para estudar”. Pelo menos, após a Copa, as preocupações profissionais diminuíram: Van de Donk se transferiu para o Kopparbergs/Göteborg, da Suécia, podendo manter a carreira no campo. Ficou pouco no clube: 18 jogos e 4 gols pela temporada 2015/16 do Campeonato Sueco. Mas só ficou pouco porque uma chance ainda maior apareceu para ela.

Van de Donk se preocupava com a sequência da carreira profissional, após a Copa de 2015. As transferências para Suécia (Kopparbergs/Göteborg) e Inglaterra (Arsenal) resolveram isso (Getty Images)

A chance surgiu pelo Arsenal: o clube inglês acertou a contratação da meio-campista, ainda no fim de 2015. E no ano seguinte, ela já estreou pelos Gunners, podendo celebrar, enfim, o primeiro título da carreira: a Copa da Inglaterra, ganha sobre o Chelsea, com a meio-campista como titular. Coisa melhor ainda viria em 2017: titular da seleção holandesa por todo esse tempo, "Daan" (seu apelido) foi óbvia presença na Holanda durante a Euro feminina. Não só foi titular em todas as partidas da campanha da Laranja (só saía nos acréscimos, para dar lugar a Jill Roord), mas também marcou o segundo gol na vitória contra a Inglaterra, nas semifinais. E mesmo pouco falada, Van de Donk foi fundamental para o título da Holanda.

Ao longo daqueles anos, Van de Donk seguiu como nome certo no Arsenal, pelo qual conquistou o título da Copa da Liga Inglesa, na temporada 2017/18, e o título inglês desta temporada. Na seleção, também continuou como dona da camisa 10, criando as jogadas de ataque - e às vezes, até as finalizando. Chegou à Copa do Mundo de 2019 como titular absoluta da Holanda. Se não chegou a brilhar no Mundial na França, manteve seu status: jogou todas as partidas, ajudou na criação ofensiva, e mesmo oscilando aqui e ali, melhor em alguns momentos e pior em outros, foi um dos nomes firmes na campanha do vice-campeonato.

Van de Donk passou discretamente na Copa de 2019, mas foi titular absoluta no vice-campeonato da Holanda (Sebastian Gollnow/Picture Alliance/Getty Images)

A carreira de Van de Donk começaria a passar por mudanças a partir de 2021. Em clubes, manteve seu bom nível: seguiu titular no Arsenal, sem se machucar muito. E tão logo começou a perder o espaço no time inglês, ao longo da temporada 2020/21, só esperou a temporada acabar para acertar a transferência para o Lyon. Na seleção da Holanda, não só era a dona da camisa 10, como até apareceu mais no torneio olímpico em Tóquio: nas quatro partidas das Leoas Laranjas, deu quatro passes para gol. Em suma: sua boa fase seguia. Até 26 de novembro de 2021.

Antes mesmo de perder totalmente o espaço no Arsenal, Van de Donk rumou para o Lyon - e se mantém como titular experiente por lá, antes e após a lesão (Romain Biard/Icon Sport/Getty Images)

Nesta data, a Holanda entrou em campo contra a República Tcheca, pelas eliminatórias da Copa do Mundo feminina, fora de casa. Já teve grandes dificuldades: só conseguiu o empate em 2 a 2 com um gol de Stefanie van der Gragt, nos acréscimos. E viu um drama começar para Van de Donk: uma lesão sofrida no segundo tempo, na região do calcanhar, forçou a sua substituição pela atacante Joëlle Smits, aos 73'. Dias depois, se teve a noção da gravidade do problema: a meio-campista sofrera o rompimento total de um tendão auxiliar ao tendão calcâneo. Teria de ficar fora pelos meses seguintes. A convocação para a Euro que viria ficava a perigo - e até a carreira, de certa forma.

Van de Donk passou o fim de 2021 e todo o primeiro semestre de 2022 em recuperação. Teve certos problemas, documentados em "Chasing the Euros", sequência de três vídeos produzidos pelo site oficial da seleção com todo o seu processo de reabilitação no Lyon. E no fim, teve a compensação. Voltou a ser relacionada no Lyon logo na final da Liga dos Campeões 2021/22, na qual acompanhou do banco o título com goleada (4 a 1 no Barcelona). Mais alguns dias, e em 1º de junho, não só voltou a ter minutos jogando pelo novo clube, como teve seu primeiro gol, nos 4 a 0 sobre o FF Issy, pela 22ª rodada do Campeonato Francês. Já serviu, até como um final feliz da série mencionada, para que Mark Parsons a convocasse à Euro que começaria no mês seguinte.


E na Euro feminina, Van de Donk retomou rapidamente a importância para a seleção holandesa. Não só por ter estado nas quatro partidas pelo torneio continental, suportando mais minutos do que o esperado para quem voltava de lesão, mas por voltar a aparecer em momentos importantes. Um deles merece destaque: a Holanda passava apuros contra Portugal, na fase de grupos. Até fizera 2 a 0, mas não só tomara o empate, como estava bem mais ameaçada de levar a virada. Coube à meio-campista acalmar as colegas, ao marcar, com um belo chute, o gol da vitória por 3 a 2 sobre as portuguesas.

A participação digna na Euro 2022 ajudou Van de Donk a se restabelecer mais rapidamente no Lyon. Ao longo da temporada 2022/23, ela retomou seu papel importante na equipe francesa, sendo mais titular do que reserva, ativa nas conquistas da copa e do campeonato francês. Na seleção, mesmo com as mudanças táticas, a meio-campista continua absoluta - e chegará assim à Copa. De certa forma, neste ciclo entre Copas, foi a mais regular das convocadas holandesas na posição. Com lesão e tudo.

(Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images)

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