sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Holanda na Copa feminina - as 23 convocadas: Van der Gragt

 
A Copa do Mundo será o ponto final da carreira de Van der Gragt como jogadora - e a zagueira chega a este ponto respeitadíssima pela entrega e dedicação (KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Stefanie van der Gragt
Posição: Zagueira
Data e local de nascimento: 16 de agosto de 1992, em Heerhugowaard (Holanda)
Clubes na carreira: AZ (2009 a 2011), Telstar (2011 a 2015), Twente (2015 a 2016), Bayern de Munique-ALE (2016 a 2017), Ajax (2017 a 2018 e 2020 a 2022), Barcelona-ESP (2018 a 2020) e Internazionale-ITA (desde 2022)
Desempenho na seleção: 101 jogos e 12 gols, desde 2013
Torneios pela seleção: Copa de 2015 (4 jogos, nenhum gol), Euro 2017 (6 jogos, nenhum gol), Copa de 2019 (7 jogos, 1 gol), torneio olímpico de 2020+1 (3 jogos, nenhum gol) e Euro 2022 (4 jogos, um gol)

(Versão revista e ampliada do texto de apresentação para o guia deste blog na Copa de 2019)

Pode faltar alguma técnica a Stefanie van der Gragt. Sua propensão a lesões pode ter sido grande, ao longo da carreira. Entretanto, sua trajetória no futebol lhe rendeu o respeito de quem acompanha o futebol feminino na Holanda (Países Baixos): desde a esplendorosa fase que a seleção de mulheres viveu entre 2017 e 2019, Van der Gragt tem sido titular absoluta da defesa, com dedicação e esforço no miolo de zaga. E a convocação para a Copa de 2023 é um reconhecimento merecido e final a "Stef". Afinal de contas, como ela própria anunciou em maio, os jogos em Austrália/Nova Zelândia serão os últimos de sua carreira dentro de campo. Uma carreira que começou com sacrifícios, mas que chegará a um final muito digno - e já tem passos garantidos para depois dela: Van der Gragt será a diretora de futebol feminino do AZ, que reativará sua equipe de mulheres a partir de 2023/24.

Como ocorreu com várias das jogadoras da seleção, Van der Gragt começou jogando entre garotos mesmo, no time infantil do Reiger Boys, clube amador de sua cidade natal. Inclusive, um de seus colegas de equipe também seguiu carreira profissional no futebol (Wesley Hoedt, com passagens pela seleção masculina da Holanda, atualmente no Watford-ING). De lá, a já adolescente foi para o Kolping Boys, time amador de Oudorp - e chegou até a participar de campeonatos amadores femininos com o Kolping Boys. Paralelamente, com a impossibilidade de viver do futebol feminino na época, ela acumulava outros empregos ao esporte, chegando a ser empacotadora na Lidl, tradicional rede holandesa de supermercados.

Só em 2009 a carreira de Van der Gragt no futebol começou para valer. Como previsível naqueles tempos, o AZ, então bicampeão da Eredivisie feminina, tinha poder financeiro para contratar quase qualquer mulher que se destacasse jogando bola. Foi o que aconteceu com a zagueira, que se transferiu para Alkmaar naquele ano - e conquistou o primeiro título da carreira, como parte do time tricampeão da Eredivisie Vrouwen em 2009/10. Na segunda temporada, 2010/11, mais um título pelo AZ: a Copa da Holanda. Aí, veio o impacto do fim da equipe feminina no clube de Alkmaar.

O AZ abriu a possibilidade de uma carreira para Van der Gragt no futebol feminino (az.nl/Divulgação)

Van der Gragt já tinha mostrado talento suficiente para atrair o interesse de outros clubes. E já em 2011 achou clube novo: o Telstar. Lá, sim, se tornou titular frequente. E também foi jogando no Telstar que ganhou a primeira chance na seleção holandesa: em 8 de março de 2013, num amistoso contra a Suíça, na Copa do Chipre, torneio amistoso. Foi insuficiente para ser convocada à seleção que disputou a Euro naquele ano. Mas a experiência ganha pela zagueira no Telstar, disputando a BeNeLeague (liga conjunta entre times belgas e holandesas), já valeu para que sua carreira ganhasse impulso decisivo nos anos que viriam.

O impulso veio em 2015. Em clubes, Van der Gragt foi para o Twente, que acabara de ser vice-campeão na última edição da BeNeLeague. Na seleção, foi convocada para a Copa do Mundo - e no Mundial, foi titular absoluta da zaga durante as quatro partidas das Leoas, ao lado de Mandy van den Berg. No Twente, veio o título holandês, em 2015/16. Como figura importante, a zagueira chamou a atenção do Bayern de Munique. E se foi para a equipe alemã, na metade de 2016, unindo-se à compatriota Vivianne Miedema no clube da Bavária.

Van der Gragt (camisa 3) já foi titular da Holanda na primeira Copa do Mundo - dela e da seleção (Kevin C. Cox/Getty Images)

Mas se Miedema era a principal atacante do Bayern, Van der Gragt ficou na reserva no time de Munique. Ainda assim, esteve na convocação de Sarina Wiegman para a Euro 2017. Começou aquela Euro na reserva, mas após entrar no lugar de Mandy van den Berg nas duas primeiras partidas, Van der Gragt virou titular de vez a partir da terceira partida na Euro. Resultado: enquanto Van den Berg, sua parceira de zaga na Copa de 2015, entrava em desgraça na seleção, Van der Gragt formou com a improvisada Anouk Dekker a defesa no histórico título das Leoas.

Van der Gragt até começou a Euro 2017 na reserva. Migrou para a titularidade - e comemorou jogando o título que deu o salto da Holanda no futebol feminino (Daniel Mihailescu/AFP/Getty Images)

Poderia ter sido o início da melhor fase da carreira da zagueira. Até porque a temporada 2017/18 começou com a contratação pelo Ajax, voltando a ser titular. Porém, Van der Gragt sofreu demais com lesões, no ano passado. Nem tanto na primeira metade de 2018, em que foi titular na "dupla coroa" do Ajax, campeão da copa e do campeonato holandeses. Mas nos meses finais do ano, a zagueira penou com lesão no joelho, que a tirou da reta final das Eliminatórias da Copa - inclusive, muitos creem que a ausência da zagueira prejudicou a Holanda na derrota por 2 a 1 para a Noruega, que fez com que a seleção tivesse de disputar a repescagem. Nesta, Van der Gragt também ficou de fora. O único consolo foi um novo clube. E que clube: em setembro de 2018, a zagueira rumou para o Barcelona.

Van der Gragt foi atrapalhada por lesões crônicas no Barcelona - mas quando pôde jogar, ajudou bastante a equipe catalã (Pro Shots)

Só que as lesões continuavam: em toda a sua passagem pelo clube espanhol, Van der Gragt foi e voltou do time titular, atormentada por problemas no joelho. Pelo menos, teve algum resultado esportivo com o Barça, vice-campeão da Liga dos Campeões feminina em 2018/19. Quando pôde, já voltou à zaga da seleção holandesa, na Copa Algarve, em 2019. E o esforço para chegar inteira à Copa do Mundo feminina, teve compensação quase plena. Na campanha do vice-campeonato, ela só foi poupada nos jogos contra Camarões e Canadá, ambos na fase de grupos. No mata-mata, não só Van der Gragt atuou em todas as partidas, como fez o gol que encaminhou a vitória por 2 a 0 contra a Itália, nas quartas de final. Mesmo com a má lembrança do pênalti cometido na decisão da Copa, que abriu o caminho do título dos Estados Unidos, a defensora foi novamente nome importante da Holanda num grande torneio. 

Van der Gragt superou as dores no joelho ao longo da temporada 2018/19 para chegar à Copa do Mundo com a Holanda - e teve papel preponderante na zaga, até marcando gols na temporada (Maddie Meyer/FIFA/Getty Images)

Só após a Copa cedeu novamente aos problemas no joelho: em setembro de 2019, passou por uma operação no menisco. Voltou em dezembro daquele ano. E mesmo com a pandemia de COVID-19 interrompendo a temporada 2019/20, pôde celebrar o título espanhol com o Barcelona. Foi o capítulo final de sua trajetória intermitente e importante: naquele ano, para ficar mais próxima da família, Van der Gragt decidiu retornar ao país natal - e ao Ajax. Com um ritmo menor de jogos no Campeonato Holandês, a zagueira enfim teve uma sequência maior na segunda passagem pelo clube de Amsterdã. Bastou para marcar presença em mais um torneio importante com a Holanda - o torneio olímpico de futebol feminino, em 2021. Porém, num período em que o Twente formava uma hegemonia no Campeonato Holandês, foram poucos títulos que as Ajacieden conquistaram - somente a Copa da Holanda, em 2021/22. Com Van der Gragt no miolo de zaga. 

Van der Gragt retornou ao Ajax. Com menos exigência no ritmo de jogo, pôde aparecer mais. E até comemorou um título (Angelo Blankespoor/Soccrates/Getty Images)

Também no Ajax, "Stef" decidiu transformar uma conquista num fim vitorioso: em fim de contrato, logo após a temporada 2021/22, a holandesa aceitou a proposta da Internazionale, para ter uma experiência jogando na Itália. Não sem antes emplacar a segunda Euro de sua carreira. E marcando mais um gol, no 3 a 2 contra Portugal, na fase de grupos. Como participaria da jogada do gol contra a Islândia, no sofrido 1 a 0 da última rodada das eliminatórias, que levou a Holanda à sua terceira participação numa Copa do Mundo.

E neste 2023 em que a Copa ocorrerá, Van der Gragt começou em clima de homenagens. Nas datas FIFA de abril, antes do amistoso contra a Alemanha, seus 100 jogos pela seleção foram homenageados com buquê de flores e um troféu, entregue pelo diretor de futebol da entidade, Nigel de Jong. Dias depois, as homenagens se ampliariam. Porque a zagueira usou seus perfis em mídias sociais para confirmar: pararia de jogar depois da Copa do Mundo. "Posso olhar com orgulho para uma carreira linda e vitoriosa, que ainda não acabou. Darei tudo para terminar bem a temporada com a Internazionale, e para ter uma boa atuação com a seleção na Copa. Depois dela, é hora de novos desafios".

Van der Gragt ainda teve uma rápida experiência no time feminino da Internazionale, para encerrar a carreira (Mattia Pistoia/Inter/Getty Images)

Na Inter, a temporada terminou com a quinta posição no Campeonato Italiano de mulheres. Na seleção, terminará em Austrália e Nova Zelândia. Os novos desafios já estão conhecidos, com o anúncio de que será a diretora de futebol feminino, no mesmo AZ em que começou a jogar. Mas até lá, Van der Gragt ainda terá algum tempo para ser útil e esforçada às Leoas Laranjas. Como quase sempre tem sido.

(Marcel van Hoorn/ANP/Getty Images)

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