segunda-feira, 12 de junho de 2023

Análise da temporada: dois caminhos

A queda brusca que o Ajax sofre já indicava um equilíbrio maior no Campeonato Holandês - e o Feyenoord aproveitou a brecha para festejar (Peter Lous/BSR Agency/Getty Images)


Terminou mais uma temporada do Campeonato Holandês. E ela mostrou dois lados muito distintos, que serão importantes nos destinos que o futebol pode (ou não) tomar no Reino dos Países Baixos.

De um lado, a atratividade. A decadência sofrida pelo Ajax, dominante nos anos recentes, abre espaço para um pouco mais de equilíbrio na disputa do título. A rigor, já era previsível, mas diante do domínio financeiro que tem, o clube de Amsterdã bem poderia manter sua força. Não soube trabalhar com isso, perdeu o foco... e o Feyenoord aproveitou a chance aberta para voltar a ser campeão. Mais do que isso: ao contrário do título anterior, 2016/17, o Stadionclub indica que tem organização maior para aproveitar o seu "momento" e seguir bem. Até porque o PSV, outro rival que poderia aproveitar a fragilidade atual do Ajax, também pena com limitações financeiras - e com os acontecimentos da reta final da temporada, terá de passar por mais uma reformulação. Com isso, o espaço se abre para clubes "médios-grandes" - ou seja, aqueles que podem aproveitar e aumentar os sonhos de, quem sabe, um título. Como AZ, Twente, Utrecht...

De todo modo, a atratividade segue pelo fato dos clubes holandeses mostrarem rendimento um pouco mais satisfatório nos torneios continentais. Certo, nem tanto pelo que se viu na Liga dos Campeões. Mas o bom desempenho em Liga Europa (Feyenoord) e Conference League (AZ), somado a trajetórias marcantes (Ajax na Liga dos Campeões 2018/19, Feyenoord na Conference League 2021/22), enfim levou os Países Baixos a superarem Portugal, no ranking da UEFA. Mais do que isso: os aproximou da França, no mesmo ranqueamento. Fatores que podem, quem sabe, realimentar o papel do país no futebol do Velho Continente.

O isqueiro que atingiu Davy Klaassen simboliza algumas chagas que ameaça a ascensão vista na Eredivisie, nos últimos tempos: o mau comportamento de alguns torcedores - e a falta de bom senso nas punições (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

Aí há a colisão com o outro caminho. Um caminho que mostrou problemas. Principalmente no comportamento da torcida, lembrado em coisas como o isqueiro atirado na cabeça de Davy Klaassen, durante o Feyenoord x Ajax da semifinal da Copa da Holanda - fato que interrompeu momentaneamente a partida, e forçou De Kuip a ter telões cercando o estádio, nas últimas partidas do Feyenoord em casa na temporada. Ou nos papelões sucessivos que a ala de "ultras" do rebaixado Groningen protagonizou, na agonia das rodadas finais. Ou até na violenta tentativa de invasão dos ultras do AZ às tribunas onde estavam familiares de jogadores do West Ham, após a derrota nas semifinais da Conference League. Fatos como esses assustaram tanto que o prefeito de Leeuwarden - cidade do Cambuur - chegou a ordenar o fechamento do setor do estádio para as torcidas visitantes, em algumas partidas. 

O que não quer dizer que a reação da federação foi totalmente adequada. Longe disso. Nas últimas rodadas da temporada, na primeira e na segunda divisões, foi comum ver jogos interrompidos em caso de copos plásticos que caíssem no gramado - mesmo que fosse apenas fruto da empolgação da torcida que comemorasse gols, sem intenção agressiva (tanto que os copos caíam perto da bandeira de escanteio). Fora de campo, talvez faça sentido reavaliar a questão dos play-offs. Tanto na parte de cima, disputando vaga na segunda fase preliminar da Conference League, quanto na parte de baixo, contra o rebaixamento. Tendo em vista que, nas últimas três temporadas, o quinto colocado (Feyenoord em 2021, AZ em 2022, Twente nesta) ganhou a vaga na Conference, para quê repescagem? E para quê a disputa contra o rebaixamento, sendo que somente três clubes da primeira divisão se salvaram nos últimos dez anos? Seria melhor a queda direta para os três últimos. Em suma: falta bom senso.

Bom senso que será altamente necessário, para que a federação holandesa - e a Eredivisie CV, entidade que comanda a liga - aproveitem o bom caminho. E cheguem mais perto de cumprir o potencial do Campeonato Holandês: uma liga que jamais estará perto das quatro grandes (Premier League inglesa, Serie A italiana, La Liga espanhola e Bundesliga alemã), mas que pode competir para ser "a melhor do resto". Com boas condições de conseguir isso.

Clique no nome de cada clube para o texto com a análise individual da temporada

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