sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Holanda na Copa feminina - as 23 convocadas: Nouwen

Nouwen foi outra defensora que acabou perdendo a titularidade na Holanda por ainda errar em excesso. Porém, ainda tem idade para evoluir e aprender. E vai, enfim, à Copa (KNVB Media/Divulgação)

Ficha técnica
Nome: Aniek Nouwen
Posição: Zagueira
Data e local de nascimento: 9 de março de 1999, em Deurne (Holanda)
Clubes na carreira: PSV (2016 a 2021), Chelsea-ING (2021 a 2023) e Milan-ITA (desde 2023, por empréstimo)
Desempenho na seleção: 40 jogos e 2 gols, desde 2019
Torneios pela seleção: Torneio olímpico de 2020+1 (4 jogos, sem gols) e Euro 2022 (3 jogos, sem gols)

Em 2019, ela já poderia ter ido à Copa do Mundo pela seleção feminina da Holanda (Países Baixos). A zagueira Aniek Nouwen chegou a viajar à França, nos últimos dias de preparação, por causa de uma lesão numa das convocadas - será citada ao longo desta apresentação. O problema foi resolvido, Nouwen ficou fora do Mundial... mas como consolo, ganhou da técnica Sarina Wiegman e das companheiras uma camisa, no modelo que foi usado na campanha do vice-campeonato, com o número 24. Era como se fosse a "primeira" fora das 23 relacionadas. De quebra, junto à família, ela acompanhou todos os jogos da campanha neerlandesa. Bonito, mas... Nouwen não estava jogando, não estava a postos para entrar em campo. Quatro anos depois, ela estará. Não haverá camisa 24, nem viagem às pressas, nem a ansiedade de saber se ficará entre as convocadas ou não. Nouwen estará na primeira Copa do Mundo de sua carreira. Mais uma chance para aprender e amadurecer com as titulares. Até para ganhar malícia em campo, cometendo menos erros do que (ainda) comete.

A inspiração para começar a jogar veio de um familiar - o irmão, Bryan, conforme ela revelou ao informativo PSV Supporter em 2020: "Eu ainda me lembro de que ia ver os jogos de Bryan, e já então eu disse aos meus pais: 'Também quero jogar bola'. Quando eu fiz seis anos, virei sócia do clube, e desde aquele momento eu jogo". Qual clube? O SV Deurne, clube amador da cidade natal. E na infância, Nouwen jogava até mais atrás da posição de zagueira: era goleira ("Eu era fisicamente forte e rápida, me destacava").  Somente em 2013 é que ela migrou para a posição em que viraria profissional. E não demoraria muito para dar o passo decisivo rumo a um clube profissional: em 2015, Nouwen partiu para o PSV. Foi quando também começou a jogar em seleções femininas de base da Holanda (Países Baixos), se alternando entre a sub-15 e a sub-17.

Mesmo jovem, Nouwen se estabeleceu rapidamente no PSV (Edwin van Zandvoort/Soccrates /Getty Images)

No clube de Eindhoven, Nouwen já se estabeleceu como titular em seu primeiro ano. Com bom porte físico, fixou-se na zaga, preferencialmente pela esquerda. E ali não só começou a virar um símbolo do time feminino do clube de Eindhoven, para o qual torce (em 2020, comentou: "Não sei como comecei [a torcer pelo clube]. (...) Não que eu xingue o juiz, mas eu acho legal participar dos eventos"). Começou a despontar como um futuro nome em termos de seleção. E isso foi simbolizado na migração para a seleção sub-17, em 2016. Nos dois anos seguintes, Nouwen foi titular absoluta da Holanda nas Euros da categoria. Em 2017, o time laranja chegou às semifinais (caiu para a Espanha); em 2018, jogando com a colega de geração Lynn Wilms, Nouwen fez parte de uma Holanda eliminada no saldo de gols, ainda na fase de grupos. De quebra, também figurou na convocação para o Mundial sub-20 de mulheres. E foi titular em toda a campanha de quadrifinalista da Holanda.

A titularidade no Mundial feminino sub-20 de 2018 fez Nouwen já virar candidata à vaga na seleção adulta da Holanda (Catherine Ivill/FIFA/Getty Images)

Mesmo sem títulos em nenhum desses torneios, já chamou a atenção da técnica Sarina Wiegman. E quando 2019 começou, não só Nouwen foi convocada pela primeira vez como a seleção adulta, como fez sua primeira partida por ela - em 4 de março, substituiu Lineth Beerensteyn aos 63' da derrota por 1 a 0 para a Polônia, na amistosa Copa do Algarve. Mais dois dias, e ainda pelo mesmo torneio, novamente Nouwen veio do banco, num jogo contra a China. Serviu para se consolidar na reta final de preparação para a Copa do Mundo feminina daquele ano. 

E veio o fato citado no começo deste texto. No último amistoso antes do Mundial, a lateral esquerda Kika van Es sofreu uma microfratura na mão. Precisou passar por cirurgia, arriscando-se a ser cortada. Por via das dúvidas, Sarina Wiegman chamou Nouwen para se integrar ao grupo, na França, com a perspectiva de ficar de vez entre as convocadas, em caso de corte de Van Es. Contudo, a lateral se recuperou da cirurgia, e ficou na Copa. Nouwen virou uma "espectadora de luxo", acompanhando as partidas nos estádios. Mas estava claro: sua vez logo chegaria.

Com uma lesão de Van Es a pouco tempo da Copa de 2019, Nouwen esteve muito perto de substituí-la. Mas viu o vice mundial da Holanda do lado de fora, mesmo (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

Chegou. Com pleno ritmo de jogo no PSV, Nouwen entrou de vez para a seleção feminina da Holanda, no segundo semestre de 2019. Na terceira rodada das eliminatórias da Euro, fez 90 minutos vestindo laranja pela primeira vez, numa vitória por 8 a 0 na Turquia. Só não foi além em sua evolução por causa da eclosão da pandemia de COVID-19. De todo modo, quando as condições mínimas para o futebol foram retomadas, no segundo semestre de 2020, com Stefanie van der Gragt em meio a lesões, a zagueira se tornou titular da seleção. Fez seu primeiro gol pela Holanda - nos 7 a 0 sobre a Estônia, de novo pelas eliminatórias da Euro (já então adiada). No PSV, já era uma das líderes do grupo, mesmo tão jovem. 

A despedida de Nouwen no PSV veio com um título: a Copa da Holanda 2020/21 (Laurens Lindhout/Soccrates/Getty Images)

E o meio de 2021 foi uma fase de fins de ciclo. Pelo clube em que começou, enfim Nouwen conquistou um título, a Copa da Holanda para mulheres. Àquela altura, já negociando com clubes de fora do país, enfim surgiu uma chance - aproveitada: em maio de 2021, antes mesmo da temporada acabar, a defensora foi anunciada como o novo reforço do Chelsea. Comemorava isso: "Após cinco temporadas, escolhi o desafio de me desenvolver numa grande competição internacional, num grande time inglês". E completando, Nouwen foi disputar o torneio olímpico como titular da Holanda. Porém, ali mostrou seu grande defeito dentro de campo: a lentidão no estilo de jogo. Mesmo começando como titular nas quatro partidas das Leoas Laranjas em Tóquio, era comum ver Nouwen com dificuldades para alcançar as adversárias na corrida. Ou mesmo recuos errados dela. Poucas jogadas exemplificaram melhor isso do que a bola curta demais, interceptada por Ludmila para fazer o terceiro gol do Brasil, no 3 a 3 entre as seleções na fase de grupos.

No Chelsea, Nouwen começou bem, ganhou títulos... mas teve queda brusca no segundo semestre de 2022 (Marc Atkins/Getty Images)

No Chelsea, Nouwen até começou lentamente, como reconheceu ao diário Eindhovense Dagblad: "Tive um pouco de azar, por ter sofrido uma pequena lesão [no começo], porque acho que estava bem (...)  Mas não se pode chegar a um grande clube e querer jogar tudo imediatamente". De todo modo, não só a holandesa conseguiu se estabelecer rapidamente na zaga dos Blues, como celebrou já uma "dupla coroa", com o Chelsea levando a copa e o campeonato ingleses na temporada 2021/22. Poderia ser o início de uma boa fase - até porque a Euro chegava, e Mark Parsons, sucessor de Sarina Wiegman, manteve Nouwen entre as titulares da Holanda, por preferir Dominique Janssen jogando na lateral esquerda. 

Deu quase tudo errado. Na Euro, Nouwen sofreu uma entrada no tornozelo que a tirou do jogo de estreia, contra a Suécia, ainda no primeiro tempo. Saiu de campo chorando, temendo o corte. Até ficou no torneio, mas perdeu a posição entre as titulares no decorrer do torneio continental. Começada a temporada 2022/23, a defensora perdeu o espaço que conquistara no Chelsea - foram apenas três jogos no Campeonato Inglês da temporada. E para manter as chances na seleção sob o novo técnico, Andries Jonker, Nouwen decidiu aceitar a proposta de empréstimo do Milan, em janeiro deste 2023.

No Milan, se não foi perfeita, Nouwen recuperou o ritmo de jogo de que precisava para seguir sendo convocada (Pier Marco Tacca/AC Milan/Getty Images)

Até deu certo. Nouwen foi titular em todo o returno do Campeonato Italiano pelas rubro-negras de Milão, terceiras colocadas na Serie A Femminile. Seguiu nas convocações da Holanda (Países Baixos). Contudo, até pela mudança de esquema (são três zagueiras nas escalações de Andries Jonker) e de posicionamentos (Sherida Spitse joga mais recuada, como "líbero"), passou a ficar mais no banco. E assim irá à Copa do Mundo. 

De todo modo, pelo menos Nouwen irá sem temores de perder a convocação na reta final. Está firme no grupo. E com seus 23 anos, ainda terá muito a evoluir.

(Hans van der Valk/BSR Agency/Getty Images)


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