sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Holanda na Copa feminina - as 23 convocadas: Renate Jansen

 
Experiente, dedicada, esforçada: Renate Jansen nunca foi titular, mas é jogadora de utilidade inegável na Holanda. E emplaca mais um grande torneio pela seleção (KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Renate Jansen
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 7 de dezembro de 1990, em Abbenes (Holanda)
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2008 a 2015) e Twente (desde 2015)
Desempenho na seleção: 55 jogos e 4 gols, desde 2010
Torneios pela seleção: Euro 2017 (4 jogos, nenhum gol), Copa de 2019 (1 jogo, nenhum gol), torneio olímpico de 2020+1 (2 jogos, nenhum gol) e Euro 2022 (não jogou)

(Versão revista e ampliada do texto de apresentação para o guia deste blog na Copa de 2019)

Quando se comenta as jogadoras ofensivas da seleção feminina da Holanda (Países Baixos), muito se fala nos nomes mais experientes: Lieke Martens, Daniëlle van de Donk, Jill Roord, Lineth Beerensteyn. Em menor escala, as novidades também são evocadas: Victoria Pelova e Esmee Brugts. Aqui e ali, as ausências de Vivianne Miedema e Fenna Kalma serão recordadas. Certamente, Renate Jansen é a atacante menos lembrada das Leoas Laranjas. E ainda assim, poucos nomes entre as 23 convocadas para a Copa do Mundo têm tanta experiência quanto ela. Capacitada a jogar tanto mais recuada, criando jogadas, quanto no meio da área, como referência ofensiva, a ponta-de-lança de 32 anos pode ser mais discreta, mas está sempre a postos na seleção holandesa, há seis anos, pelo menos. E mesmo com poucas chances, emplaca mais um grande torneio na equipe.

Renate começou a jogar já numa tenra idade: aos 5 anos, já dava seus chutes no SV Abbenes, da cidade natal - o pai e um tio eram técnicos no clube amador. E lá ela ficou, até os 15 anos de idade, quando continuou a trajetória na base do VV Kagia, outra agremiação amadora. Àquela altura, Jansen já se consolidava como atacante, atuando preferencialmente no meio da área, tendo a finalização como sua principal qualidade.

Numa família entretida com o futebol, incentivo não lhe faltou para seguir a carreira. Esta ganhou o impulso decisivo em 2007: não só a atacante se transferiu para o Ter Leede, mais uma equipe amadora, como simultaneamente passou a fazer parte do projeto de formação de jogadoras mantido pela parceria entre a federação holandesa e a HvA, universidade de Amsterdã. Em um ano, o talento de Renate Jansen foi notado definitivamente: ela recebeu a primeira chance num time profissional, indo estrear na equipe feminina do ADO Den Haag, que já disputava o Campeonato Holandês. Por sinal, a responsável por trazer a atacante ao clube de Haia foi uma tal Sarina Wiegman, então treinadora do Den Haag.

No clube auriverde, Renate virou titular desde o começo. Já na primeira temporada completa pelo ADO Den Haag (2008/09), foram 23 jogos e 9 gols. A partir de 2010, novo salto de desempenho: nesse ano, já veio a primeira convocação de Jansen para a seleção feminina da Holanda - e a primeira partida, em 1º de abril, contra a Eslováquia, pelas Eliminatórias da Copa de 2011, substituindo Kirsten van de Ven nos últimos oito minutos. Finalmente, na temporada 2010/11, foram 21 jogos e 14 gols de Jansen pela Eredivisie Vrouwen. Mas o ápice veio na temporada 2011/12: o ADO Den Haag ganhou a "dupla coroa" na Holanda, sendo campeão na copa e na liga holandesas, e Jansen foi a goleadora do time na Eredivisie - foram 10 gols em 18 jogos.

A partir da temporada 2012/13, porém, as coisas mudaram um pouco. A Eredivisie se uniu ao campeonato feminino da Bélgica para formar a BeNeLeague, e o ADO Den Haag ficou apenas com a quinta posição. Mas Jansen seguiu bem: 15 gols em 28 jogos. Na temporada seguinte da BeNeLeague, então, foi ainda melhor: em 25 partidas, 21 bolas da atacante nas redes. Todavia, a concorrência era ingrata na seleção. Havia Van de Ven, Manon Melis, as revelações que eram Lieke Martens e Vivianne Miedema... e Renate Jansen passava longe da Laranja. Ficou fora da Euro 2013 e da Copa de 2015.

Renate Jansen já tivera bons momentos no ADO Den Haag, e seguiu confiável no Twente (twenteinsite.nl)

O tempo passou, a Eredivisie voltou a ser disputada isoladamente, e era hora de Jansen buscar novos ares. A chance apareceu no melhor lugar possível: o Twente, vice-campeão da BeNeLeague, considerado o melhor time feminino da Holanda então, trouxe a avante, que deixou o ADO Den Haag após 109 gols em 181 jogos. O primeiro ano passado em Enschede foi melhor do que se podia imaginar: 13 gols em 23 jogos, e Renate era parte importante do Twente campeão feminino na Holanda.

Melhor ainda: o bom desempenho no Twente levou Renate de volta ao radar das convocações para a seleção da Holanda. Sob o comando de Arjan van der Laan, vieram alguns amistosos em 2016. Mas foi com uma velha conhecida como técnica das Leoas que a atacante voltou de vez às chamadas. Sarina Wiegman levou Jansen para a disputa da Copa Algarve em 2017. Principalmente, a incluiu entre as 23 convocadas para a Euro sediada na Holanda. E no marcante título europeu da Oranje, Renate Jansen entrou em quatro partidas, incluindo a final. Quando Miedema se cansava naquele torneio, ou quando a velocidade já não era a mesma para Lieke Martens e Shanice van de Sanden, Jansen servia como uma importante referência no ataque, para reter a bola.

Assim, Jansen continuou no Twente. Marcando menos gols, é verdade - seis em 2016/17, 8 em 2017/18, 7 na temporada 2018/19. Mas seguiu titular na equipe feminina dos Tukkers, campeã feminina holandesa em 2018/19. E seguiu como opção experiente na seleção holandesa de mulheres, sendo novamente mencionada por Sarina Wiegman entre as convocadas para a Copa de 2019. Entraria ainda menos do que na Euro de dois anos antes - mas novamente provou sua utilidade: nos 2 a 1 contra o Canadá, último jogo pela fase de grupos, Renate veio para os três minutos finais do tempo regulamentar (mais acréscimos), no lugar de Van de Donk. Sua função: prender a bola no ataque, evitando que as canadenses criassem muitas jogadas e pressionassem em busca do empate. Foi exatamente o que a camisa 13 da Holanda no Mundial fez, naquele pouco tempo em campo. Missão cumprida, presença marcada na campanha do vice-campeonato mundial - ainda que fugaz.

Na Copa de 2019, Renate Jansen esteve em campo por poucos minutos. Mas cumpriu a tarefa para a qual era necessária contra o Canadá, na fase de grupos (Eric Verhoeven/Soccrates/Getty Images)

E nos dois anos que Sarina Wiegman passaria ainda à frente da equipe laranja após o vice na Copa de 2019, Renate Jansen continuou como uma convocada pouco utilizada, mas confiável quando necessário. Prova disso veio nas primeiras rodadas das eliminatórias da Euro feminina, no segundo semestre daquele ano: com Lieke Martens ainda se recuperando de uma cirurgia no pé, a atacante foi a escolhida para ser titular (jogaria 73 minutos) nos 4 a 2 sobre a Eslovênia, na terceira rodada da qualificação, em 4 de outubro. Mais dois meses, e, vinda da reserva, Jansen jogou 12 minutos na goleada por 8 a 0 na Turquia. E quando 2020 já começava, em março, a poucos dias da eclosão da pandemia de COVID-19, ela esteve no Torneio da França, participando de todos os jogos do quadrangular amistoso - e até começando como titular contra o Canadá. Veio a pandemia, o futebol parou, o futebol voltou... e Renate Jansen continuou nas convocações da Holanda. Foram mais dois jogos em 2020; mais três em 2021; e finalmente, a presença no grupo que viajou ao Japão para o torneio olímpico de futebol feminino. Nele, Renate fez mais dois jogos (contra Zâmbia e China, na fase de grupos). E nas duas goleadas - 10 a 3 nas zambianas, 8 a 2 nas chinesas -, ela colaborou: dois passes para gol.

Três títulos da Vrouwen Eredivisie, duas Eredivisie Cup, uma Copa da Holanda: o Twente foi soberano no futebol feminino do país entre 2020 e 2022, e Renate Jansen, como capitã, levantou todas as taças (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

Mesmo longe da titularidade, por quê Renate seguia sendo convocada? Por causa do papel cada vez mais preponderante dela no grande momento que o time feminino do Twente viveu. Como capitã das Tukkers, jogando mais recuada - como uma espécie de "camisa 10" -, ela só não conquistou títulos em 2019/20, temporada interrompida na Holanda pela pandemia. A partir de 2020/21, as taças do futebol feminino se empilharam em Enschede: bicampeonato holandês (2020/21 e 2021/22), duas Eredivisie Cup (2021/22 e 2022/23), uma Copa da Holanda (2022/23), e a Supercopa feminina de 2022. Em todas essas conquistas, como capitã que já era, Renate erguia as taças - ou as salvas de prata, no caso. E saltava de produção em relação a gols. Pela Vrouwen Eredivisie, foram 12 gols em 2020/21, 17 em 2021/22... com isso, Renate chegou a uma marca importante. É a maior goleadora dos 16 anos de história do Campeonato Holandês de mulheres: desde 2007, marcou 130 gols.

Tamanha regularidade manteve Renate Jansen como uma opção sempre confiável para a seleção holandesa. A atacante continuou sendo convocada por Mark Parsons: sob o comando do anglo-americano, fez somente um jogo, mas esteve no grupo que foi à Euro de mulheres no ano passado, mesmo sem jogar nenhum minuto. Parsons saiu, Andries Jonker chegou... e Jansen foi uma das veteranas sempre presente nas convocações. Colaborou no jogo mais decisivo para o trabalho do técnico atual - começou como titular no dramático 1 a 0 na Islândia, última partida das eliminatórias, que rendeu a vaga direta na Copa do Mundo. Neste ano, mesmo com só uma partida pela Holanda (os 4 a 0 na Áustria, amistoso em fevereiro), Jansen esteve em todas as convocações da seleção de mulheres.

E estará em mais uma Copa do Mundo. Como última opção de ataque da Holanda, aos olhos de torcida e imprensa. O que não quer dizer, nem de longe, que jamais será considerada para entrar em campo. Caso as Leoas Laranjas precisem, Renate Jansen estará a postos. Como tem sido há muito tempo.

(Patrick Goosen/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

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