sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Holanda na Copa feminina - as 23 convocadas: Lize Kop

 
Lize Kop estava muito perto de ser titular da seleção feminina na Holanda. Lesões sérias lhe tiraram o espaço, mas ela voltou, reagiu... e está de novo no grupo (KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Lize Kop
Posição: Goleira
Data e local de nascimento: 17 de março de 1998, em Wormer (Holanda)
Clubes na carreira: Ajax (desde 2017)
Desempenho na seleção: 7 jogos, desde 2019
Torneios pela seleção: Copa de 2019 (sem jogos), torneio olímpico de 2020+1 (sem jogos)

(Versão revista e ampliada do texto de apresentação para o guia deste blog na Copa de 2019)

Até 2021, era quase unânime: Lize Kop vinha sendo "formada" como a goleira titular para os próximos anos na seleção feminina da Holanda (Países Baixos). Sari van Veenendaal era indiscutível como a titular, mas a goleira do Ajax começava a se alternar como reserva imediata com Loes Geurts - e virava a primeira opção com mais frequência, com Geurts deixando pouco a pouco as convocações. Kop tinha tudo para ser titular em alguns anos... mas o destino negou, por ora. Um problema preocupante forçou a arqueira a ficar em recuperação até o começo da temporada 2022/23, a ascensão de Daphne van Domselaar embaralhou sua posição, mais goleiras passaram a ser testadas nas Leoas Laranjas... e só na reta final de 2022 é que Lize voltou às listas para defender a seleção. Estar na Copa de 2023, a segunda de sua carreira, novamente no banco de reservas, pode até parecer uma estagnação - mas é, na verdade, a comprovação de uma recuperação.

Desde que começou na seleção, aliás, Lize Kop era uma aposta para o futuro. Como várias jogadoras de futebol - e esportistas de outras modalidades também -, ela iniciou a carreira em 2014, no CTO Amsterdam (CTO - Centrum voor Topsport en Onderwijs, centros públicos comuns na Holanda, onde atletas treinam para o esporte de alto rendimento, além de morarem e estudarem). Tempos depois, a goleira migrou para a base do Ajax (junto de outra goleira, Paulina Quaye, também egressa do CTO). Paralelamente, também entrou para a base da seleção, jogando pela categoria sub-16 desde 2014. Já merecia atenção então: em 2016, Kop recebera a primeira convocação para a seleção adulta. Contudo, havia nomes muito mais experientes à sua frente. Além de Van Veenendaal, já então titular, havia Loes Geurts, Angela Christ (goleira do PSV, terceira convocada da posição para a Holanda na Copa de 2015 e na Euro 2017 - depois desta, encerrou a carreira) e Jennifer Vreugdenhil. Virar presença regular nas convocações ainda era um desafio para Kop.

Pelo menos, até 2018. Em janeiro do ano mencionado, Vreugdenhil sofreu uma lesão, e teve de ser cortada de uma semana de treinamentos da seleção de mulheres da Holanda (Países Baixos), no balneário de La Manga, na Espanha. Então, foi chamada Paulina Quaye, a supracitada colega dos tempos de CTO Amsterdam - àquela altura, Quaye estava no VV Alkmaar. Contudo, Kop também estava no radar. E foi lembrada para sua primeira convocação à seleção feminina adulta, sendo uma das três goleiras na Copa Algarve, habitual torneio amistoso no balneário homônimo português. Mais: Lize já se destacava na seleção feminina sub-20, que disputaria o Mundial da categoria no meio daquele mesmo 2018, na França. No torneio, foi titular na campanha que foi até às quartas de final, com tantos nomes que hoje são colegas de seleção adulta (de Victoria Pelova a Fenna Kalma, passando pelas companheiras de gol Daphne van Domselaar e Jacintha Weimar). Terminada a competição, Kop superou Quaye e Vreugdenhill e recebeu a aposta definitiva de Sarina Wiegman: já se integrou imediatamente às convocações da seleção adulta, como terceira goleira.

O destaque na seleção sub-20, em 2018, e a boa campanha pelo Ajax em 2018/19 fez Kop ganhar a disputa por vaga nas convocações da seleção (Erwin Spek/Soccrates/Getty Images)

Simultaneamente, tão logo a temporada 2018/19 começou, a arqueira de 1,72m já ganhou a vaga de titular no Ajax, com a saída da espanhola Eli Sarasola para o PSV. E Kop viveu boa temporada, sendo absoluta na meta da equipe vice-campeã da Eredivisie feminina e campeã da Copa da Holanda. Mais do que isso: na Copa Algarve de 2019, não só estava na lista chamada por Sarina Wiegman, como ganhou sua primeira partida pela seleção feminina adulta, no empate com a Polônia (1 a 1, em 4 de março). 

Agradou. Com a força física aliada à capacidade no gol, Lize Kop garantiu sua vaga como terceira goleira da Holanda (Países Baixos) na Copa do Mundo daquele 2019. Mesmo indo como aposta para o futuro, a goleira pôde viver no banco mais um capítulo da ascensão fulgurante da seleção neerlandesa de mulheres. Ao lado de Loes Geurts, viu a titular Van Veenendaal se destacar na Copa - e a Holanda ir até o vice-campeonato. A partir daquela histórica trajetória na França, já estava claro: se aquela época ainda era de Van Veenendaal e de Geurts, Kop seria o futuro.

Lize Kop ficou no banco na Copa de 2019. De lá, como um dos nomes para o futuro da Holanda, viveu e viu a histórica campanha do vice-campeonato mundial (Baptiste Fernandez/Icon Sport via Getty Images)

Aparentemente, o tal futuro nem demoraria tanto assim. A partir das primeiras convocações para as eliminatórias da Euro seguinte, no segundo semestre de 2019, Kop passou a ser a reserva imediata de Van Veenendaal. Em março de 2020, no Torneio da França, a goleira teve a sua segunda partida pela seleção, atuando no empate sem gols contra o Canadá, dentro do quadrangular amistoso. 

Foi quando começaram os problemas que atrapalharam o caminho aparentemente pavimentado de Kop. Em primeiro lugar, o óbvio problema que a pandemia de COVID-19 colocou no mundo, justamente dias depois da goleira defender a Holanda no Torneio da França. Os meses de isolamento se passaram, o futebol pôde ser reativado dentro de algumas restrições... e quando as partidas das eliminatórias da Euro foram retomadas, Kop continuou dentro do grupo de convocadas, e ainda foi titular em três partidas da campanha de qualificação no fim de 2020 (em outubro, nos 6 a 0 sobre Kosovo e nos 7 a 0 sobre a Estônia, por uma lesão lombar de Van Veenendaal, e em dezembro, com outros 6 a 0 sobre as kosovares). 

2021 chegou, e Lize Kop teve uma primeira atuação notável vestindo laranja - ou, no caso, verde, a cor de uniforme mais habitual para as goleiras holandesas. Em 24 de fevereiro daquele ano, num amistoso contra a Alemanha, a Holanda venceu o amistoso (2 a 1), e Kop fez algumas boas defesas, a ponto de receber elogios de Sarina Wiegman ("Lize está indo muito bem. Estamos nos preparando para os Jogos Olímpicos, e acho que Lize e Sari [Van Veenendaal] terão minutos para jogar"). 

Em 2021, Lize Kop começava a ter espaço jogando para valer na seleção feminina da Holanda (Países Baixos). Duas concussões atrapalharam tudo (Laurens Lindhout/Soccrates/Getty Images)

Aí, os problemas interferiram mais na forma da goleira. Na verdade, um problema só. Temível: concussão cerebral.

Em abril de 2021, durante treinos no Ajax - do qual era titular -, Kop tomou uma bolada forte na cabeça. Tão forte que ela lhe rendeu uma primeira concussão, tirando-a dos últimos jogos da temporada 2020/21, no Campeonato Holandês de mulheres e na Eredivisie Cup. Mais do que isso: a demora fez com que sua convocação para o torneio olímpico no Japão corresse risco, diante da ascensão de nomes como Daphne van Domselaar e Barbara Lorsheyd. Pelo menos, daquela vez, Kop ganhou. Correu contra o tempo, recuperou a forma e garantiu a convocação para os Jogos de Tóquio. E teve ali mais um sinal de avanço: mesmo com 22 jogadoras inscritas, apenas 18 tinham direito a serem relacionadas - e Kop foi a goleira escolhida para ficar no banco de reservas, em detrimento de Loes Geurts, também presente na delegação.

De volta dos Jogos Olímpicos, contudo, Lize Kop teve péssima surpresa. Já com a temporada 2021/22 em andamento, em agosto de 2021, a goleira sofreu mais uma concussão cerebral. E esta foi mais grave. Tão grave que praticamente a tirou da temporada - já tinha feito dois jogos pelo Ajax no Campeonato Holandês. Kop passaria quase um ano em recuperação do grave problema. E sentiria o impacto disso em seu espaço na seleção. No último dia de 2021, falando ao jornal Noordhollands Dagblad, lamentou: "Já estou em recuperação há quatro meses. Quando vai acabar? Eu não sei".

Só acabou na metade de 2022. A rigor, Kop já estava recuperada da concussão cerebral antes disso, mas preferiu, em suas próprias palavras, "descansar bem, tirar férias e ficar um tempo sem futebol" antes de voltar para valer. Ao voltar, teria de tirar de Regina van Eijk a titularidade no Ajax. Na seleção, ao longo daquele tempo de ausência, muita coisa mudara: se Van Veenendaal se contundira na Euro e encerrara a carreira, Daphne van Domselaar aproveitara a lacuna para se tornar a camisa 1 da Holanda (Países Baixos). Pelo menos no Ajax, Kop restabeleceu rápido sua posição: a partir da fugaz participação do time de Amsterdã nas fases preliminares da Liga das Campeãs, ela voltou a ser a titular do gol, como era até 2021.

Enfim recuperada, Lize Kop teve o prêmio pela persistência: foi titular absoluta do Ajax campeão holandês em 2022/23 (Patrick Goosen/BSR Agency/Getty Images)

Recuperada no clube, faltava se recuperar em termos de seleção. E o técnico Andries Jonker, recém-chegado para o comando, deu o voto de confiança que Lize Kop tanto queria. Convocou-a para a volta às Leoas Laranjas, ainda que na reserva, nas datas FIFA de setembro de 2022 - inclusa aí a partida decisiva contra a Islândia, nas eliminatórias da Copa, com a dramática vitória por 1 a 0 que pôs a Holanda no Mundial. Finalmente, em 11 de novembro, um ano e nove meses após sua partida anterior pela seleção, Kop voltou a entrar em campo como goleira titular dos Países Baixos, no amistoso com vitória sobre a Costa Rica (4 a 0).

A recuperação também foi "ajudada" ao longo da temporada. Porque a goleira voltou a ser absoluta no Ajax, que voltou a conquistar o título holandês feminino em 2022/23, após cinco anos. E é coroada agora: como em 2019, Lize Kop é uma das três guarda-metas da Holanda (Países Baixos) numa Copa do Mundo de mulheres. Pode parecer estagnação para quem desconhece. Tendo em vista o que ela passou entre o ano retrasado e o passado, é uma recuperação. E vale para agora o que valia há quatro anos: o futuro continua aí para Lize Kop.

(Patrick Goosen/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

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