terça-feira, 25 de junho de 2024

As fragilidades apareceram

A Áustria era considerada capaz de vencer a Holanda (Países Baixos). E fez isso em grande estilo, deixando claras as fragilidades da Laranja e reforçando as dúvidas sobre ela (Julian Finney/Getty Images)

Até que a seleção da Holanda (Países Baixos) conseguiu controlar suas fragilidades inegáveis nos seus primeiros jogos nesta Euro 2024. Teve ataque e vontade para conseguir a virada sobre a Polônia, até conseguiu conter a França no 0 a 0 da sexta-feira passada... e já classificada, quis experimentar alguns jeitos de jogar (e alguns jogadores) contra a Áustria, no último jogo desta fase de grupos. Deu totalmente errado. Tudo que o time austríaco poderia fazer para surpreender, fez. Tudo em que a Laranja poderia errar, errou. E a derrota por 3 a 2, além de fazer a Oranje entrar por baixo nas oitavas de final - como terceira colocada do grupo D -, não só deixou claras as limitações que a equipe tem, como deixa sérias dúvidas se o caminho holandês na Euro passará das oitavas de final.

Com a vaga nas oitavas assegurada mesmo sem jogar, pela derrota da Albânia e o empate da Croácia (impedindo que alguém pudesse tirá-la dos melhores terceiros colocados), até valia a pena fazer experiências. E Ronald Koeman quis fazê-las, colocando Lutsharel Geertruida como lateral direito, devolvendo Joey Veerman aos titulares e dando a chance a Donyell Malen na ponta direita. Não demorou muito para se notar que elas deram errado, porque a Áustria fez o que deseja: dominar a posse de bola e pressionar desde o começo. Teve espaço para isso, principalmente na direita, em que Malen deixou espaços - e Geertruida ficou demais na área, junto aos zagueiros. Assim surgiu a lacuna que Patrick Wimmer quase aproveitou no primeiro minuto (cruzamento, e a bola passou por Marko Arnautovic). Assim surgiu o primeiro gol austríaco: Alexander Prass teve espaço pela esquerda com a bola, avançou, cruzou livre, e Malen foi desastroso ao tentar defender, dando um "carrinho" que mandou a bola para as redes, no gol contra.

Pior foi ver que, ao contrário da estreia contra a Polônia, a Holanda não reagiu. Seguiu lenta, sem a bola, constantemente superada. Apenas um jogador tinha atuação "perdoável": Tijjani Reijnders, que participou das únicas duas jogadas laranjas de perigo na primeira etapa (aos 14', chutou para fora após tabelar com Cody Gakpo; aos 23', lançou Malen, que perdeu gol, livre na área, finalizando torto). Bem mais intensa, bem mais ofensiva, a Áustria sempre ganhava as divididas. E voltava a aparecer com chutes a gol. Aos 30', Florian Grillitsch tentou num voleio, defendido por Bart Verbruggen - que salvou depois, aos 38', em sequência, um chute de Marcel Sabitzer e uma tentativa de Arnautovic. Àquela altura, uma "vítima" já tinha sido feita na Laranja: Joey Veerman, inapetente na criação de jogadas, sem velocidade alguma na ajuda à marcação, foi substituído já aos 34', por Xavi Simons. Até se lamentou, mas o meio-campista da camisa 16, de fato, não podia ser muito defendido.

Entre tantas atuações ruins dos Países Baixos, num primeiro tempo desastroso, Veerman foi a principal vítima (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

Até porque, pelo menos, no primeiro minuto do segundo tempo, Xavi Simons colaborou para o empate, acelerando contra-ataque bem finalizado por Cody Gakpo (que até melhorou, nos raros bons momentos holandeses). O problema veio na lentidão da defesa holandesa, que seguiu ao longo dos 90 minutos. A começar pelo segundo gol da Áustria, aos 59', em que Grillitsch teve liberdade para alcançar a bola na linha de fundo, cruzar, e ver Romano Schmid chegar livre para cabecear e fazer o 2 a 1. Restou ao selecionado dos Países Baixos tentar o "abafa", com as entradas de Micky van de Ven, Georginio Wijnaldum (que, novamente, também não colaborou muito) e... Wout Weghorst. Que não fez gol, mas ajudou no 2 a 2, aos 75', ajeitando de cabeça a bola para Memphis Depay completar - sem tocar a bola com a mão, como o VAR fez o juiz eslovaco Ivan Kruzliak notar. Com o empate entre França e Polônia, ter o empate que a manteria com a primeira posição do grupo D não seria nada mal para a Laranja.

Todavia, mesmo que merecimento seja algo muito relativo no futebol, se um time impressionava positivamente em campo, era a Áustria. Que assimilou o golpe do empate do melhor jeito possível: marcando o gol. E logo aos 80', com Sabitzer (talvez o melhor do jogo) deixando claro como a Holanda foi frágil na defesa: após o goleiro Patrick Pentz cobrar o tiro de meta, o meio-campo austríaco dominou, avançou com a bola, tabelou com Christoph Baumgartner, foi deixado livre por Virgil van Dijk (irreconhecível na zaga), e chutou quase sem ângulo para fazer o 3 a 2 da derrota holandesa.

Derrota que deixou muito claras as fragilidades da Holanda. Ou elas são protegidas de novo, ou é bem provável que o seu caminho na Eurocopa acabe contra o vencedor do grupo C ou do grupo E, já daqui a alguns dias. A confiança que nunca existiu por completo diminuiu ainda mais.

UEFA Euro 2024 - fase de grupos - Grupo D

Holanda 2x3 Áustria
Local: Estádio Olímpico (Berlim)
Data: 25 de junho de 2024
Árbitro: Ivan Kruzliak (Eslováquia)
Gols: Donyell Malen (contra), aos 6', Cody Gakpo, aos 47', Romano Schmid, aos 59', Memphis Depay, aos 75', e Marcel Sabitzer, aos 80'

HOLANDA
Bart Verbruggen; Lutsharel Geertruida, Stefan de Vrij, Virgil van Dijk e Nathan Aké (Micky van de Ven, aos 66'); Jerdy Schouten e Tijjani Reijnders (Georginio Wijnaldum, aos 66'); Donyell Malen (Wout Weghorst, aos 72'), Joey Veerman (Xavi Simons, aos 35') e Cody Gakpo; Memphis Depay. Técnico: Ronald Koeman

ÁUSTRIA
Patrick Pentz; Stefan Posch, Max Wöber, Philipp Lienhart (Leopold Querfeld, aos 62') e Alexander Prass; Nicolas Seiwald e Florian Grillitsch (Konrad Laimer, aos 62'); Patrick Wimmer (Christoph Baumgartner, aos 62'), Marcel Sabitzer e Romano Schmid (Andreas Weimann, aos 90' + 2); Marko Arnautovic (Michael Gregoritsch, aos 78'). Técnico: Ralf Rangnick

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Na conta do chá

A Holanda chegou muito perto de vencer a França na jogada da foto, mas teve o gol de Xavi Simons anulado. Ainda assim, o empate não foi tão ruim (Ralf Ibing/Firo Sportphoto/Getty Images)

A seleção masculina da Holanda (Países Baixos) já teve sua tarefa facilitada no que seria um dificílimo jogo contra a França, pela fase de grupos da Euro 2024: afinal de contas, Kylian Mbappé foi mesmo poupado, por causa do nariz machucado. E até começou pressionando tanto quanto a França, no primeiro tempo. Contudo, aos poucos o tempo passou, as duas seleções caíram de ritmo, um lance empolgante foi anulado (corretamente), e o 0 a 0 acabou sendo um resultado que ficou bom para as duas seleções, muito próximas de se classificarem às oitavas de final. Talvez até melhor para a Laranja, que afinal segue liderando o grupo D.

Em boa parte do primeiro tempo na Red Bu... melhor dizendo, no estádio de Leipzig, os dois times pareceram indicar que a saída era pela direita. Bastaram apenas alguns segundos para a Holanda fazer isso, aliás: um lançamento de Xavi Simons, do meio-campo, e Jeremie Frimpong já superou Théo Hernández na corrida, chegando à área com a bola (e mostrando por quê começava jogando: para forçar mais o lateral francês a ficar na defesa). A finalização saiu fraca, mas o goleiro Mike Maignan precisou desviar para escanteio. Se foi assim com a Laranja, a França não deixou por menos, embora tentasse a esquerda: logo aos 4', Adrien Rabiot ajeitou, Antoine Griezmann mandou de fora da área, e Bart Verbruggen precisou trabalhar, mandando para escanteio. Começo tão frenético fazia crer num jogo bastante ofensivo.

Diante disso, foi até previsível que a chance mais próxima de gol viesse... pela direita. Só que foi da França: aos 14', Marcus Thuram ajeitou, Rabiot entrou pela área livre (Tijjani Reijnders parou de persegui-lo), tocou para o lado, e Antoine Griezmann entrava na pequena área. Só que, na hora de chutar, o destaque ofensivo da França - afinal, Kylian Mbappé seguia no banco - falhou, se desequilibrou, e permitiu que Stefan de Vrij afastasse parcialmente (segundos depois, o próprio Griezmann bateu para fora). Os Países Baixos? Até criaram chances. Principalmente quando tinham espaço para o contra-ataque, ou mesmo em lançamentos longos, que tentassem aproveitar a velocidade de Frimpong, ou de Cody Gakpo. Mas quando houve a hora do chute, ou Maignan impediu - como aos 16', em chute de Gakpo -, ou se cometeram erros - como aos 26', quando Memphis, Frimpong e Gakpo tabelaram, mas o camisa 11 mandou para fora. 

Tais erros eram sinal de que o ritmo ia diminuindo ao longo do primeiro tempo. E continuou diminuindo no decorrer da segunda etapa. Se alguém tentava acelerar - pelo menos, até a metade da etapa complementar -, era a França. Não que causasse muitos problemas, mas tinha mais a bola, começava a acuar mais a Laranja... e tentava mais o gol. Primeiro, em chutes de fora - como os de N'Golo Kanté (novamente muito ativo ao correr pelo meio com a bola), aos 52', e Marcus Thuram, aos 60'. Depois, uma tentativa na área: Kanté passou, Ousmane Dembélé cruzou, mas Rabiot desviou sem rumo. Até que, aos 65', veio a grande chance francesa de abrir o placar: após um erro de Marcus Thuram, Kanté dominou a bola já na área, passou a Griezmann, este tentou, mas Bart Verbruggen - cada vez mais considerado um goleiro já seguro, mesmo com a pouca idade - evitou o gol. 

Verbruggen nem foi tão acionado no gol. Mas quando foi, evitou o gol da França (Maurice van Steen/ANP/Getty Images)

Para uma equipe apostando cada vez mais nos contra-ataques, a Holanda preocupava muito: não tinha espaço, não dominava a bola, não tinha nem velocidade. Só teve uma vez. E quando a teve... quase conseguiu a vitória. Aos 69', logo após um escanteio francês, Memphis Depay (muito criticado pela falta de velocidade e pelos erros de passe) chutou, e Maignan rebateu. Na sequência, Xavi Simons bateu... e fez o que lhe seria um gol consagrador, não fosse a posição irregular de Denzel Dumfries, desde a origem da jogada, terminando por estar à frente de Maignan quando a bola entrou. Discutível se sua posição atrapalhou... mas a regra assim diz, e o gol foi anulado de fato.

Pelo menos, a Holanda neutralizou as ofensivas francesas. Mostrou segurança defensiva. E se não conseguiu vencer, pelo menos minimizou os perigos de uma eliminação na fase de grupos, que seriam (bem) maiores em caso de derrota para a Áustria, na próxima terça-feira. Conseguiu um ponto, conseguiu controlar a França... e a vida segue, mesmo que se reclame do gol anulado aqui e ali.

UEFA Euro 2024 - fase de grupos - Grupo D

Holanda 0x0 França
Local: Red Bull Arena/Leipzig Stadium (Leipzig)
Data: 21 de junho de 2024
Árbitro: Anthony Taylor (Inglaterra)

HOLANDA
Bart Verbruggen; Denzel Dumfries, Stefan de Vrij, Virgil van Dijk e Nathan Aké; Jerdy Schouten (Joey Veerman, aos 73') e Tijjani Reijnders; Jeremie Frimpong (Lutsharel Geertruida, aos 73'), Xavi Simons (Georginio Wijnaldum, aos 73') e Cody Gakpo; Memphis Depay (Wout Weghorst, aos 79'). Técnico: Ronald Koeman

FRANÇA
Mike Maignan; Jules Koundé, William Saliba, Dayot Upamecano e Théo Hernández; Ousmane Dembélé (Kingsley Coman, aos 75'), Aurélien Tchouaméni, N'Golo Kanté e Adrien Rabiot; Antoine Griezmann e Marcus Thuram (Olivier Giroud, aos 75'). Técnico: Michal Probierz

domingo, 16 de junho de 2024

Ele, de novo

 A Holanda estreava até bem na Eurocopa, mas tinha dificuldades contra a Polônia. Coube a Wout Weghorst fazer o que já está acostumado: ser o "sapo" que vira o "príncipe", com o gol da vitória (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

Wout Weghorst continua sendo questionado, por falta (inegável) de qualidade técnica na seleção masculina da Holanda (Países Baixos). Assim como é inegável sua vontade de jogar pela Laranja. Ainda mais em grandes competições, como mostrou na Euro passada e na Copa de 2022. E na estreia nesta Euro 2024, contra a Polônia, coube ao camisa 9 mostrar utilidade de novo, entrando em campo e fazendo o gol da difícil vitória de virada, por 2 a 1. De novo, Weghorst se premiou - e premiou uma Holanda que, apesar dos pesares, criou boas chances de gol.

Sem Robert Lewandowski (que ainda apareceu, no aquecimento), a Polônia apostou num meio-campo de mais pressão, com Sebastian Szymanski escalado para, em tese, ajudar o meio-campo a pressionar a defesa. Em tese. Porque a Holanda já começou o primeiro tempo atenta, tendo a bola, criando chances. E desperdiçando todas. A começar num chute de Cody Gakpo, logo aos 2', que Wojciech Szczesny espalmou. Depois, aos 9', Jerdy Schouten (que avançou até mais do que se esperava) cruzou, e Tijjani Reijnders mandou para fora. Os Países Baixos prensavam a defesa polonesa, sem deixar muitos espaços para contra-ataque. Só que no primeiro a aparecer... escanteio. E aí, a Polônia puniu a defesa da Laranja como ela menos gosta: escanteio cobrado por Piotr Zielinski, Adam Buksa cabeceou no contrapé do goleiro Bart Verbruggen, 1 a 0 para a seleção alvirrubra. Mais um exemplo do "quem não faz, toma", sabedoria popular que o futebol costuma justificar.

Pelo menos, a equipe neerlandesa seguiu semelhante mesmo após tomar o gol. Continuou tendo a bola, continuou criando chances... mas continuou perdendo todas. Van Dijk, avançando em escanteio, quase fez belo gol de voleio, aos 20', evitado por estupenda defesa de Szczesny. Já Memphis Depay não tem muito como livrar sua responsabilidade ao errar, aos 22', após receber bola de Xavi Simons, livre na área, e mandar por cima do gol. Até que Gakpo, também tentando muito, contou com a sorte para acertar e fazer 1 a 1, aos 29': após erro de saída de bola pressionado por Nathan Aké, o camisa 5 passou ao atacante, que arriscou da entrada da área, viu a bola desviar em Bartosz Salomon, e enfim balançar as redes. Que poderiam até ter sido mais balançadas por holandeses na primeira etapa. Mas de novo, as chances foram perdidas: com Gakpo aos 42' (escorando cruzamento de Aké, aparecendo costumeiramente pela esquerda), e com Memphis Depay nos acréscimos, mandando rente à trave após lançamento preciso de Aké.

No primeiro tempo, a Laranja perdeu muitas chances de gol. Coube a Cody Gakpo aproveitar (Mohamad Hosaini/NurPhoto via Getty Images)

E o segundo tempo começou semelhante: a Polônia acuada, a Holanda tentando. Como fez aos 54', em grande chance que poderia ter sido melhor aproveitada: um contra-ataque iniciado num passe em profundidade de Tijjani Reijnders, estendido por Cody Gakpo, mas desperdiçado por Xavi Simons. Foi o bastante para o técnico polonês: Michal Probierz trouxe outro atacante com a entrada de Karol Swiderski, a Polônia passou a ter mais a bola, melhorou, e enfim criou chances, como ao 59', quando Bart Verbruggen enfim teve de trabalhar, defendendo chutes de Buksa e Zielinski. Ao mesmo tempo, o meio-campo da Laranja começou a perder espaço e fôlego: Schouten, Reijnders e Veerman caíram de produção. Era hora de algumas mudanças. Que começaram, com as vindas de Georginio Wijnaldum e Donyell Malen a campo. Malen já ajudou aos 65' - passou a bola para Denzel Dumfries chutar, perto do gol - e aos 70' - participando de triangulação, também completada por Dumfries, para a defesa de um seguro Szczesny.

Contudo, a Holanda precisava de mais, diante de uma Polônia bem fechada, que tinha mais técnica para aproveitar os contra-ataques com as entradas (não só de Swiderski, mas também de Jakub Piotrowski). Jeremie Frimpong veio acelerar o jogo pela direita, como costuma fazer. Não se deu tão bem. Quem fez isso foi Wout Weghorst: aos 83', um passe preciso de Nathan Aké por dentro, da esquerda - coroando excelente atuação -, e o camisa 9 dos Países Baixos nesta Eurocopa foi um "camisa 9", aproveitando o espaço e chutando forte para o gol da virada. O gol da vitória.

O gol que, se não resolve a situação da Holanda nesta Euro, quem sabe a deixe mais segura para os jogos contra França e Áustria. O gol que, se não faz de Wout Weghorst titular, pelo menos aumenta seu direito de pedir respeito...

UEFA Euro 2024 - fase de grupos - Grupo D

Holanda 2x1 Polônia
Local: Volksparkstadion (Hamburgo)
Data: 16 de junho de 2024
Árbitro: Artur Soares Dias (Portugal)
Gols: Adam Buksa, aos 16', Cody Gakpo, aos 29', e Wout Weghorst, aos 83'

HOLANDA
Bart Verbruggen; Denzel Dumfries, Stefan de Vrij, Virgil van Dijk e Nathan Aké (Micky van de Ven, aos 87'); Jerdy Schouten e Joey Veerman (Georginio Wijnaldum, aos 62'); Xavi Simons (Donyell Malen, aos 62'), Tijjani Reijnders e Cody Gakpo (Wout Weghorst, aos 81'); Memphis Depay (Jeremie Frimpong, aos 81'). Técnico: Ronald Koeman

POLÔNIA
Wojciech Szczesny; Jan Bednarek, Bartosz Salamon (Bartosz Bereszynski, aos 86') e Jakub Kiwior; Przemyslaw Frankowski, Taras Romanczuk (Bartosz Slisz, aos 55'), Piotr Zielinski (Jakub Piotrowski, aos 77') e Nicola Zalewski; Sebastian Szymanski e Kacper Urbanski (Karol Swiderski, aos 55'); Adam Buksa. Técnico: Michal Probierz

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Está bom mas está ruim

A Holanda aumentou as boas impressões rumo à Eurocopa, com mais uma goleada no último amistoso. Só que o corte de Frenkie de Jong (e provavelmente de Koopmeiners também) coloca um formigueiro atrás da orelha (Andre Weening/BSR Agency/Getty Images)

Se fosse só pelo resultado e pela atuação, o último amistoso da seleção da Holanda (Países Baixos) serviria para dar mais confiança rumo à Eurocopa. Afinal de contas, contra a Islândia, a Laranja achou boas soluções para a marcação visitante, teve boas atuações, e conseguiu mais uma goleada por 4 a 0 para elevar expectativas rumo à estreia contra a Polônia, no próximo domingo. Porém, pouco depois do apito final, surgiu uma das piores notícias que a Oranje poderia ter: Frenkie de Jong está fora da Euro, já que seu tornozelo machucado precisaria de mais tempo para se recuperar da lesão sofrida em março passado. O corte de um dos nomes fundamentais fez com que a incógnita em relação às possibilidades holandesas na competição seja tão grande quanto os elogios pela goleada. Talvez, até maior.

E mesmo se De Jong não fosse cortado, a Holanda já teria mais motivos para preocupação. Afinal, titular na escalação prévia para o jogo, Teun Koopmeiners se machucou no aquecimento. E é bem provável que seja mais um cortado, nos próximos dias (após o jogo, Ronald Koeman lamentou à emissora NOS: "Amanhã [terça-feira, 11] de manhã veremos, mas não tenho boas expectativas"). Ainda assim, desde o começo, a seleção laranja se impôs em De Kuip. Se a Islândia fechava os espaços pelo chão, para troca de passes, as bolas altas começaram a mostrar o caminho. Como aos 6', num chute de Joey Veerman para fora, após rebote de cobrança de Memphis Depay. Este também foi se destacando: aos 15', quase marcou após jogada individual (o goleiro Hákon Valdimarsson espalmou para fora), e aos 21', quase aproveitou o rebote desajeitado de Valdimarsson após cruzamento de Denzel Dumfries.

O gol de Xavi Simons - seu primeiro pela Laranja -, aos 23', completando triangulação começada em inversão por Tijjani Reijnders e continuada por Dumfries num cruzamento, confirmou esta capacidade holandesa. Mais chances aos 35' (Cody Gakpo, arremate cruzado que passou rente ao gol) e aos 39' (outra tentativa de Memphis Depay) deixaram claro: não só a Holanda se impunha no ataque, como nem perigos corria, diante de uma Islândia que surpreendera a Inglaterra no amistoso da semana passada. A única chance de gol islandesa foi aos 40', quando Johann Berg Gudmundsson inverteu o jogo, Jón Thorsteinsson se viu livre da marcação de Jerdy Schouten, tocou na saída do goleiro Bart Verbruggen... mas viu Nathan Aké impedir o gol, afastando a bola na pequena área. Um pequeno susto, numa atuação sem muitos problemas.

E que continuou boa logo no começo do segundo tempo. O gol já poderia ter vindo na triangulação Veerman-Memphis-Gakpo, rebatida por Valdimarsson, só que o último holandês mencionado estava impedido. Sem problemas: dois minutos depois, um escanteio cobrado por Veerman - boa atuação jogando adiantado -, Schouten e Aké desviaram de cabeça, e Virgil van Dijk marcou mais um gol nestas datas FIFA. Aí, com a vantagem mais consolidada, a Holanda pôde até ficar mais na defesa. E enfim, a Islândia apareceu mais: um erro de Tijjani Reijnders na marcação abriu chance para Gudmundsson bater (e Gakpo evitar, aos 54'). Depois, aos 70', Stefán Thordarson arriscou de longe, aproveitando o mau posicionamento de Verbruggen no gol... e a bola atingiu a trave direita do arqueiro holandês.

Participando das jogadas de ataque, tendo até um gol anulado, Memphis Depay fez bem seu papel (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

Bastaram esses sustos para a Laranja se recompor. Com alterações no ataque (Donyell Malen, Wout Weghorst, Jeremie Frimpong), a seleção da casa voltou a dominar a bola, voltou a ser mais acelerada... e voltou a fazer gols. Como aos 79', quando Memphis Depay lançou pelo alto e Malen teve caminho livre pela direita para dominar, chegar à área e fazer 3 a 0. Ou aos 81', quando a jogada que já dera certo contra o Canadá - cruzamento de Frimpong, gol de Memphis na pequena área - só não valeu por falta de Veerman na origem da jogada. Mesmo assim, nos acréscimos, houve tempo para Weghorst fazer o quarto gol, escorando cruzamento de Malen.

E haveria tempo para uma celebração de boas impressões que a Holanda dá. Se na Euro passada, os amistosos de preparação tiveram um empate com a Escócia (2 a 2) e uma vitória contra a Geórgia (3 a 0), agora duas goleadas por 4 a 0 convenceram um pouco mais. Só que veio o anúncio do corte de Frenkie de Jong. A alta desconfiança de que Koopmeiners também ficará fora da Euro. E tudo isso fez torcida e imprensa pensarem: a seleção da Holanda está boa, mas as notícias estão ruins.

Amistoso
Holanda 4x0 Islândia
Data: 10 de junho de 2023
Local: De Kuip (Roterdã)
Juiz: Evangelos Manouchos (Grécia)
Gols: Xavi Simons, aos 23', Virgil van Dijk, aos 49', Donyell Malen, aos 79', e Wout Weghorst, aos 90' + 3

HOLANDA
Bart Verbruggen; Denzel Dumfries (Lutsharel Geertruida, aos 75'), Stefan de Vrij, Virgil van Dijk e Nathan Aké (Micky van de Ven, aos 66'); Jerdy Schouten (Georginio Wijnaldum, aos 66') e Tijjani Reijnders; Xavi Simons (Jeremie Frimpong, aos 76'), Joey Veerman e Cody Gakpo (Donyell Malen, aos 75'); Memphis Depay (Wout Weghorst, aos 84'). Técnico: Ronald Koeman

ISLÂNDIA
Hákon Valdimarsson; Bjarki Bjarkason, Valgeir Fridriksson, Sverrir Ingason (Brynjar Bjarnason, aos 84') e Kolbeinn Finnsson; Arnór Traustason (Stefán Thórdarson, aos 46'), Hákon Haraldsson (Kristian Hlynsson, aos 84') e Johann Berg Gudmundsson. Mikael Anderson (Arnór Sigurdson, aos 62'), Andri Gudjohnsen e Jón Thorsteinsson (Isák Johannesson, aos 62'). Técnico: Age Hareide

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Até que valeu

Memphis Depay (à esquerda) e Frimpong tiveram motivos para festa: foram os destaques do amistoso contra o Canadá (ProShots)

Ao longo da semana - principalmente na entrevista coletiva antes do amistoso contra o Canadá, primeiro jogo de preparação para a Euro 2024 que vem aí -, o técnico Ronald Koeman elogiou: os treinos da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) estavam rendendo bem. E se faltava mostrar isso em campo, isso foi mostrado, com a goleada da Laranja por 4 a 0. Um teste que até valeu, ainda que sem garantia de que alguns nomes que entraram em campo também serão titulares na estreia na Euro, contra a Polônia, no próximo dia 16. Por isso, o jogo desta quinta-feira foi mais para testes.

Tantos testes, aliás, que permitiram a Koeman fazer experiências pedidas há muito. Como Micky van de Ven, jogando na lateral esquerda; Brian Brobbey, ao lado de Memphis Depay, no ataque; e... Jeremie Frimpong, enfim jogando como ala pela direita, num esquema com três zagueiros. Demorou um pouco para que os Países Baixos se impusessem, porque a seleção canadense (em preparação para a Copa América, na primeira partida sob o comando do técnico norte-americano Jesse Marsch) começou marcando a saída de bola, impedindo a troca neerlandesa de passes. Mesmo sem criar chances, bastou até para alguns chutes a gol - como o de Liam Millar, aos 9', mandando a bola na rede pelo lado de fora.

Só que, aos poucos, os espaços apareceram. Primeiro em jogadas de bolas paradas - como aos 16', quando Daley Blind cobrou falta e Georginio Wijnaldum (atuação questionada) cabeceou para fora. Depois, com a bola rolando. Principalmente pela direita, porque Frimpong logo começou a mostrar o nível de atuação que se esperava (e se desejava) dele pela direita. O camisa 12 tentou um chute para fora, aos 21'; passou a bola para Memphis Depay aos 29', mas o goleiro Dayne St. Clair pegou; quase fez aos 32', num arremate só bloqueado pelo zagueiro Moïse Bombito (assim como Derek Cornelius evitou que Wijnaldum marcasse, aos 38'); e tentou de novo aos 42', após Brian Brobbey ajeitar, para nova defesa de St. Clair. De quebra, nos acréscimos, Depay criou boa chance, lançando a bola em profundidade para Brobbey, que falhou na finalização. 

Brian Brobbey teve sua primeira chance como titular da Laranja (desta vez, de azul). Perdeu alguns gols, mas ajudou (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

Mesmo com o 0 a 0 no placar, a Holanda já passava uma boa impressão. Consolidada no começo do segundo tempo, com mais uma tentativa (chute de Ryan Gravenberch, aos 49'). Só faltava um gol. Que veio logo no minuto seguinte, em jogada dos dois destaques da partida: Frimpong cruzando, Memphis Depay concluindo na pequena área. Confirmava-se ali o brilho de Frimpong, que fez o segundo gol como tantas vezes mostrou no Bayer Leverkusen ao longo da temporada 2023/24: avançando com campo livre pela direita, e finalizando, após uma primeira tentativa bloqueada. Vitória encaminhada, Ronald Koeman pôde fazer algumas alterações. Duas delas, inclusive, participaram do lance do terceiro gol, aos 63': Donyell Malen chutando, e Wout Weghorst aproveitando o rebote do goleiro St. Clair. No fim, Virgil van Dijk (vindo do banco pela primeira vez, em suas 67 partidas defendendo a seleção laranja) transformou a vitória em goleada.

Uma goleada que foi relativizada, mas que, ao mesmo tempo, confirmou os motivos de elogio de Ronald Koeman. E que indica: pelo menos na preparação para a Euro, a Laranja está bem.

Amistoso
Holanda 4x0 Canadá
Data: 6 de junho de 2023
Local: De Kuip (Roterdã)
Juiz: Rohit Saggi (Noruega)
Gols: Memphis Depay, aos 50', Jeremie Frimpong, aos 57', Wout Weghorst, aos 63', e Virgil van Dijk, aos 83'

HOLANDA
Bart Verbruggen; Lutsharel Geertruida, Matthijs de Ligt (Stefan de Vrij, aos 71') e Daley Blind (Virgil van Dijk, aos 71'); Jeremie Frimpong (Steven Bergwijn, aos 62'), Jerdy Schouten, Georginio Wijnaldum, Ryan Gravenberch (Joey Veerman, aos 85') e Micky van de Ven; Memphis Depay (Donyell Malen, aos 62') e Brian Brobbey (Wout Weghorst, aos 62'). Técnico: Ronald Koeman

CANADÁ
Dayne St. Clair; Alistair Johnston (Dominick Zator, aos 56'), Moïse Bombito, Derek Cornelius e Alphonso Davies; Tajon Buchanan (Charles-Andreas Brym, aos 56'), Ismael Koné (Samuel Piette, aos 78'), Stephen Eustáquio (Mathieu Choiniere, aos 71') e Liam Millar (Jacob Shaffelburg, aos 46'); Jonathan David e Cyle Larin (Junior Hoilett, aos 71'). Técnico: Jesse Marsch

terça-feira, 4 de junho de 2024

Tarefas quase cumpridas

Dar uma despedida digna a Lieke Martens, após doze anos de história marcante e vitoriosa. Tão importante quanto isso: aproximar-se da vaga direta na Eurocopa feminina, que virá no ano que vem. Para tudo isso, vencer as duas partidas contra a Finlândia, pelas rodadas das eliminatórias da Euro. Eram essas as tarefas que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) desejava cumprir, nestas datas FIFA. Quase conseguiu: até começou bem, ao vencer o primeiro jogo contra as finlandesas por 1 a 0. Contudo, o empate por 1 a 1 frustrou um pouco essas expectativas. Mais do que isso: ressaltou as falhas que persistem nas Leoas Laranjas, e que podem atrapalhá-las nas últimas rodadas da qualificação, já em julho, em meio às férias - algo muito criticado pelo técnico Andries Jonker, e por jogadoras como Jackie Groenen.

Na partida da sexta-feira passada, o ambiente em Roterdã, em Het Kasteel - o estádio do Sparta -, foi ótimo. Mais do que isso: a Holanda foi mais ofensiva, por obra e graça de Esmee Brugts. A ala esquerda foi constante opção de ataque, recebendo a bola para jogadas - e já experimentando chutes, como aos 2' e aos 9'. Damaris Egurrola Wienke, enfim, apareceu mais no meio-campo, ajudando na armação e iniciando a saída de bola. Daniëlle van de Donk, por sua vez, também se mostrou muito ativa na criação de jogadas, e até experimentou seus chutes, como aos 30', forçando a defesa da goleira Tinja-Riikka Korpela. Contudo, eram poucas opções demais para tentar vencer uma defesa finlandesa que se mostrava elogiavelmente fechada, com muitas jogadoras na área para impedir troca de passes e jogadas. E quando tinha espaço para contra-atacar, até finalizava, com Emmi Siren e Linda Sällström, ambas aos 25'. A primeira viu seu chute defendido por Daniëlle de Jong (boa estreia da goleira do Twente pela seleção); a segunda chutou para fora. Para piorar, um lance completamente involuntário levou a mais uma lesão entre as holandesas: numa falta cometida por Lynn Wilms, Damaris foi atingida no joelho por uma jogadora da Finlândia que tentou escapar do carrinho de Wilms - a meio-campista seria substituída no intervalo, e cortada da delegação no dia seguinte.

Contudo, o problema principal realmente estava na falta de criatividade da Holanda no ataque. Tanto para fazer jogadas, quanto para achar espaços dentro da defesa cerrada e esforçada da Finlândia. Só restavam os chutes. Num deles, Lieke Martens quase abrilhantou sua despedida, chutando no travessão aos 60'. Só mesmo um arremate rasteiro, veloz e forte de Lineth Beerensteyn, aos 64', após Dominique Janssen ajeitar escanteio cobrado por Sherida Spitse, para o 1 a 0 da vitória. Contudo, algumas entradas - Anni Hartikainen e Sanni Franssi, por exemplo -, a Finlândia foi até mais ofensiva, tendo chances de empate no fim (Oona Sevenius aos 88', Nea Lehtola aos 90' + 2). E outra holandesa se machucou: Esmee Brugts sentiu dores na perna, sendo ainda substituída. De todo modo, a vitória viera. Era importante. E serviu de base para uma alegre homenagem da torcida e das colegas a Lieke Martens, no seu último jogo em casa pela seleção.

Se a Holanda feminina sofreu com a falta de espaço para atacar, pelo menos a vitória ajudou a aumentar o brilho da despedida de Lieke Martens (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

Viagem feita à Finlândia, ficava para o segundo jogo, nesta terça, mostrar evolução. Principalmente ofensiva, setor que está sofrendo na Holanda (nos cinco jogos anteriores, só dois gols sofridos). Só que as dificuldades começaram antes mesmo do apito inicial na cidade de Tampere. Com dores desde a sexta, foi a vez de Esmee Brugts ficar de fora. Em que pesasse o primeiro jogo de Van Domselaar como goleira após sua cirurgia lombar, antes mesmo de voltar ao Aston Villa, o ataque já sofreria - restando a Chasity Grant tentar aproveitar sua chance, começando como titular pela primeira vez. Sofreu ainda mais ao ver que a Finlândia vinha mais ofensiva e pressionaria mais em casa - já começando aos 9', em boa chance perdida por Sällström, após Hartikainen (titular desta vez) ajeitar. Para piorar, até incrivelmente, as neerlandesas tiveram mais uma machucada: Victoria Pelova, substituída já aos 12'. Simplesmente a 11ª selecionável da Holanda com lesão recente - lista que já inclui Vivianne Miedema, Jill Roord, Kerstin Casparij, Caitlin Dijkstra...

Diante disso tudo, foi até incrível a sorte que as Leoas Laranjas tiveram para abrir o placar: aos 17', a goleira Korpela tentou sair jogando com um chute... que mandou a bola direto contra Beerensteyn, que esperou a bola cair para finalizar, antes mesmo que Korpela chegasse para tentar corrigir o próprio erro. E por muito tempo, foi só. Porque a Finlândia passou a repetir o cenário que a Holanda mais detesta: apostar nos contra-ataques, nos quais Sällstrom, e também Jutta Rantala, começaram a ganhar a bola de Sherida Spitse na corrida, para trazerem perigo. Das primeiras vezes, erraram o chute; nas segundas, Van Domselaar já teve de defendê-las. O primeiro tempo terminava já causando a pergunta: até quando a Holanda manteria a vantagem?

E a pergunta continuou rodando no segundo tempo: se Sällström chamara a atenção no primeiro tempo, Rantala apareceu mais no segundo tempo. A pressão na saída de bola impedia que as jogadoras holandesas saíssem com calma - de chances de gol das visitantes, somente uma tentativa de Beerensteyn (única opção ofensiva), aos 60'. E finalmente, o empate veio, já na reta final: um erro de Spitse, tocando a bola acidentalmente para Olga Ahtinen, que passou para Rantala enfim acertar a mira para o 1 a 1. Que quase virou 2 a 1 aos 88', em outro erro holandês: Marisa Olislagers permitiu a passagem de Rantala livre pela direita, esta cruzou, e Ahtinen, na pequena área, concluiu por cima.

Se o fim do jogo da sexta passada foi alegre, o desta terça foi sem graça. Lieke Martens saiu lamuriosa, assumindo a tristeza por não poder ajudar a adiantar o serviço para a classificação à Euro, em sua última partida pela seleção feminina da Holanda (Países Baixos). E mesmo que a tarefa esteja quase cumprida, mesmo que dois empates entre Itália e Noruega tenham até "colaborado" para as neerlandesas se aproximarem da vaga, todo cuidado continuará sendo pouco, pelo visto, tantos são os problemas.´

Eliminatórias da Euro feminina 2025 - Grupo A

Holanda 1x0 Finlândia
Data: 31 de maio de 2024
Local: Het Kasteel (Roterdã)
Árbitra: Frida Klarlund (Dinamarca)
Gol: Lineth Beerensteyn, aos 65'

HOLANDA
Daniëlle de Jong; Lynn Wilms, Sherida Spitse e Dominique Janssen; Victoria Pelova, Daniëlle van de Donk, Jackie Groenen, Damaris Egurrola Wienke (Chasity Grant, aos 46') e Esmee Brugts (Marisa Olislagers, aos 84'); Lieke Martens (Katja Snoeijs, aos 90' + 3) e Lineth Beerensteyn (Fenna Kalma, aos 90' + 3). Técnico: Andries Jonker

FINLÂNDIA
Tinja-Riikka Korpela; Emmi Siren (Nea Lehtola, aos 83'), Joanna Tynillä, Natalia Kuikka, Emma Koivisto e Olga Ahtinen; Oona Siren (Oona Sevenius, aos 70'), Ria Öling e Eveliina Summanen (Sanni Franssi, aos 46'); Jutta Rantala (Dana Leskinen, aos 83') e Linda Sällström (Anni Hartikainen, aos 76'). Técnico: Marko Saloranta


Finlândia 1x1 Holanda
Data: 4 de junho de 2024
Local: Tammelan (Tampere)
Árbitra: Sandra Bastos (Portugal)
Gols: Lineth Beerensteyn, aos 17', e Jutta Rantala, aos 77'

FINLÂNDIA
Tinja-Riikka Korpela; Emma Koivisto, Natalia Kuikka, Eva Nyström e Joanna Tynillä; Olga Ahtinen; Oona Siren (Olga Ahtinen, aos 68'), Eveliina Summanen e Anni Hartikainen (Oona Sevenius, aos 61'); Ria Öling; Jutta Rantala e Linda Sällström (Sanni Franssi, aos 67'). Técnico: Marko Saloranta

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Lynn Wilms, Sherida Spitse e Dominique Janssen; Chasity Grant, Jackie Groenen (Fenna Kalma, aos 90' + 5), Daniëlle van de Donk (Katja Snoeijs, aos 72'), Victoria Pelova (Wieke Kaptein, aos 12') e Renate Jansen (Marisa Olislagers, aos 71'); Lieke Martens e Lineth Beerensteyn . Técnico: Andries Jonker

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Análise da temporada: repetitivo?

O PSV dominou o Campeonato Holandês 2023/24 de maneira tão inquestionável que pode apontar uma Eredivisie repetitiva. Nem tanto, pela oscilação de algumas forças (ProShots/Icon Sport/Getty Images)

Há algumas semanas, o ex-jogador de beisebol Robert Eenhoorn - de saída da diretoria geral do AZ - desabafou à revista Voetbal International sobre os aspectos em que o Campeonato Holandês poderia melhorar: "Uma liga forte depende, de fato, de duas coisas: como você divide o dinheiro? E como você protege os jogadores jovens? Nada mais. Se você protege menos as revelações e divide o dinheiro de maneira mais concentrada, nem preciso explicar que a competição se torna mais previsível. E se continua assim, não só [a liga] se torna menos interessante, mas também fica pior para conseguir pontos no coeficiente". Ao se olhar como terminou o Campeonato Holandês desta temporada 2023/24, nota-se que Eenhoorn tem lá sua razão. Mas que ela não é completa.

A razão é notável quando se vê que o PSV foi campeão de uma maneira dominante como poucas vezes o futebol do Reino dos Países Baixos viu. Por pouco, muito pouco, o clube de Eindhoven não se tornou, em termos estatísticos, o melhor campeão que a Eredivisie já viu. O domínio foi tão grande que nem mesmo as boas campanhas de quem veio logo atrás - Feyenoord e Twente, por exemplo - foram suficientes para  perturbar a caminhada dos Eindhovenaren rumo ao 25º título holandês de sua história. Então, de fato, seria possível apontar que a divisão do dinheiro está criando uma elite quase insuperável por lá. Já é tema de debates crescentes entre os clubes: o dinheiro dos direitos de transmissão de televisão do Campeonato Holandês, por exemplo, não tem nenhum critério de igualdade numa porcentagem, com a quantidade sendo apenas definida pelos resultados de cada clube nas últimas dez temporadas. E a persistência da venda dos direitos locais para a ESPN, pelos próximos cinco anos, mesmo com uma proposta de operadoras de tevê a cabo considerada mais lucrativa para os clubes, foi alvo de críticas.

Contudo, de nada adiantaria dinheiro sem organização. Aí entrou um certo equilíbrio, que tornou esta Eredivisie menos repetitiva do que poderia ser. Que o diga o Ajax, que viveu sua temporada mais problemática em algum tempo, mergulhando numa crise que parece só ter solução a médio prazo. E isso abriu uma lacuna para clubes do chamado "sub-topo" sonharem de um jeito mais concreto com participação em torneios europeus. Mais do que isso: a lacuna foi aproveitada inesperadamente por um "penetra", o Go Ahead Eagles, que normalmente fica na metade inferior da tabela (ora mais tranquilo, ora tentando escapar das últimas posições). Mais ainda: clubes que um dia sonharam até com o título viram a realidade se impor à megalomania. E se impor de um jeito cruel. Que o diga o Vitesse. Há onze anos, na temporada 2012/13, chegou a aspirar ao título; agora, rebaixado, luta pela própria sobrevivência profissional.

Então, o Campeonato Holandês teve certa previsibilidade, sim. Os clubes perderam alguma força - até em termos de competições europeias, tiveram uma temporada menos inspirada do que em 2022/23. Mas a Eredivisie não foi repetitiva, ainda que nivelada por baixo. Hora de avaliar como foram os 18 clubes:

Análise da temporada: Vitesse

O técnico Edward Sturing tentou, os jogadores também, mas o Vitesse caiu. Pior: o Vitesse corre risco de ser extinto. E a torcida está se mobilizando para que a derrota não seja definitiva (Getty Images)

Colocação final: 18º lugar, com 6 pontos (6 vitórias, 6 empates e 22 derrotas - punido pela federação com a perda de 18 pontos, em razão de dívidas) - rebaixado diretamente
No turno havia sido: 18º lugar, com 11 pontos (atrás pelo menor número de gols pró)
Time-base: Room; Arcus, Oroz (Isimat-Mirin/Cornelisse), Hendriks e Mica Pinto; Aaronson e Meulensteen (Tielemans); De Regt (Hadj-Moussa), Kozlowski e Boutrah; Van Ginkel
Técnicos: Phillip Cocu (até a 12ª rodada) e Edward Sturing (interino, depois efetivado, desde a 13ª rodada) 
Maior vitória: Heerenveen 1x3 Vitesse (33ª rodada)
Maior derrota: PSV 6x0 Vitesse (30ª rodada)
Principais jogadores: Paxten Aaronson (meio-campista) e Anis Hadj-Moussa (atacante) 
Artilheiro: Marco van Ginkel (atacante), com 7 gols  
Quem deu mais passes para gol: Kacper Kozlowski (meio-campista), com 5 passes)
Quem mais partidas jogou: Eloy Room (goleiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado pelo Cambuur (segunda divisão), nas quartas de final
Competições continentais: nenhuma

Dor. Se fosse possível resumir a temporada 2023/24 do Campeonato Holandês para o Vitesse em uma só palavra, foi esta. Claro que havia irritação da torcida - como não se irritar, ao ver que o time nunca embalava sob o comando de Phillip Cocu, ao ver derrotas constrangedoras como os 5 a 1 sofridos para o Go Ahead Eagles (11ª rodada), ao ver na última posição um time que, há dois anos, desafiou na segunda fase da Conference League a Roma, que seria campeã do torneio? Porém, mais do que se irritar, a torcida sofria. Afinal de contas, não era só a temporada péssima que era motivo de sofrimento. Havia algo pior: com o time vendido pelo empresário ucraniano Valeriy Oyf em 2022, sem nunca achar comprador, vendo a proposta do fundo do norte-americano Coley Parry travar no processo burocrático da federação holandesa - e, no fim, ser negada -, as dívidas começavam a se acumular sem pagamento. E a KNVB começava a sinalizar com o perigo da perda da licença profissional para disputar campeonatos. Algo muito pior do que qualquer rebaixamento. Diante disso, conseguir uma campanha razoável na Copa da Holanda, chegando às quartas de final, foi até elogiável. Porque, na Eredivisie, a via-crúcis aumentava a dor da torcida. A começar pela 18ª rodada, a primeira do returno: tomando 2 a 1 do Feyenoord em casa, alguns torcedores até invadiram o campo, contra uma decisão da arbitragem. 

Era só o começo de uma sequência de cinco derrotas seguidas, que mergulharam de vez o Vites na última posição. Chegou a haver alguma esperança na 22ª rodada (empate com o Volendam, 1 a 1) e na 23ª (vitória sobre o Excelsior - 2 a 1). Mas logo ela acabava. Por mais que o técnico Edward Sturing se esforçasse, por mais que houvesse leves esperanças nas boas atuações do ponta-direita Anis Hadj-Moussa, tudo isso se esboroava - Hadj-Moussa logo brigou com Sturing, e logo anunciou sua transferência para o Feyenoord. Entre a 27ª e a 30ª rodadas, mais quatro derrotas: a última delas, 6 a 0 para o PSV, praticamente sacramentando que o clube de Arnhem seria rebaixado, após 35 anos. Era melhor um fim trágico ou uma tragédia sem fim? A federação decidiu pelo clube: puniu as dívidas e a falta de um planejamento financeiro confiável ao tirar 18 pontos, antecipando o rebaixamento antes da 31ª rodada, ao tornar a pontuação negativa. Se servia de consolo, houve vitórias que a impediram (na 31ª, 3 a 2 no Fortuna Sittard, em grande jogo de Paxten Aaronson, dos raros destaques; na 33ª, 3 a 1 no Heerenveen, em grande atuação do velho ídolo Marco van Ginkel; e na última rodada, 2 a 2 com o Ajax, tendo jogado até melhor. Àquela altura, já havia se iniciado uma "vaquinha virtual" para arrecadar o valor da licença profissional, para a segunda divisão. O técnico Edward Sturing brincou, com o apoio da torcida: "Parece até que somos campeões". Mas a dívida ainda não foi paga, e o prazo já tem data de validade: 17 de junho. A torcida só espera pelo pagamento, e o ajuda, para que possa continuar vendo o Vitesse dentro de campo. Algo que, para ela, supera qualquer dor.

Análise da temporada: Volendam

O Volendam de Damon Mirani sofreu desde o começo. Esforçou-se para tentar escapar de seu destino. Mas no fim, sempre dava errado. E o rebaixamento foi inevitável (Gerrit van Keulen/ANP/Getty Images)

Colocação final: 17º colocado, com 19 pontos (4 vitórias, 7 empates e 23 derrotas - rebaixado diretamente)
No turno havia sido: 17º lugar, com 11 pontos (na frente pelo maior número de gols pró)
Time-base: Mio Backhaus; Plat (Buur), Mirani, Benamar e Flint (Cox); Twigt, De Haan e Le Roux (Maulun); Booth (Semedo), Mühren e Ould-Chikh (Johnson)
Técnicos: Matthias Kohler (até a 14ª rodada), Michael Dingsdag (interino, na 15ª, 16ª e 33ª rodadas) e Regillio Simons (a partir da 17ª rodada)  
Maior vitória: Volendam 3x1 Excelsior (10ª rodada)
Maior derrota: Twente 7x2 Volendam (33ª rodada)
Principal jogador: Robert Mühren (atacante) 
Artilheiro: Robert Mühren (atacante), com 8 gols  
Quem deu mais passes para gol: Bilal Ould-Chikh (atacante), com 7 passes
Quem mais partidas jogou: Damon Mirani (zagueiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado pelo Excelsior Maassluis (terceira divisão), na primeira fase
Competições continentais: nenhuma

Desde o começo da temporada 2023/24 do Campeonato Holandês, ficava claro que o Volendam teria muitas dificuldades de escapar do rebaixamento. Dentro de campo, só duas vitórias e um empate nas primeiras dez rodadas. Fora dele, a briga entre a diretoria de futebol e a diretoria geral rendeu a saída coletiva da primeira - o que incluiu a saída do técnico Matthias Kohler. E ser eliminado por um clube amador logo na primeira fase da Copa da Holanda não colaborou muito para melhorar a situação. O pior é que esforço não faltava. Nem do time, nem do técnico. Do primeiro lado, o goleiro nipoalemão Mio Backhaus até fazia boas defesas, a defesa bloqueava espaços, mas as derrotas invariavelmente vinham (foi bem assim contra o Feyenoord, na 15ª rodada, quando o time segurava empate em 1 a 1, em De Kuip, até tomar o 3 a 1 nos acréscimos). Do segundo, Regillio Simons - para informar, pai de Xavi Simons - tentava alterar o ataque, tentava variar o esquema (com dois ou três zagueiros)... e nada.

Continuou sendo nada no returno. O time só foi vencer de novo na 29ª rodada, num jogo que era até contra adversário direto contra o rebaixamento (3 a 2 no RKC Waalwijk). Porém, até ali, já tinham sido seis derrotas e três empates - um dos quais, aliás, praticamente decidiu o título, já que foi contra o Feyenoord (0 a 0, 28ª rodada), permitindo que o PSV consolidasse a vantagem que já tinha. Com essa sequência de um empate e uma vitória, o Volendam chegou a ter um pouco mais de esperança de empatar. Ainda mais porque o Vitesse foi vitimado pela punição da federação, perdendo pontos e caindo para a lanterna. Porém, a realidade logo se impôs: nas últimas cinco rodadas, cinco derrotas. Rebaixamento direto confirmado, com um 4 a 1 sofrido em casa para o Ajax (31ª rodada). E a incapacidade de mudar a situação expressa nos dois jogos finais da temporada. Contra o Twente, fora de casa, na penúltima rodada, a "Outra Laranja" até teve a vantagem duas vezes - 1 a 0 e 2 a 1 -, mas não só tomou a virada, como viu o Twente disparar para a goleada por 7 a 2. E contra o Go Ahead Eagles, em casa, na rodada derradeira, os Volendammers tiveram uma estreia boa (o goleiro Kayne van Oevelen), seguraram o empate... mas no fim, viram os visitantes de Deventer fazerem 2 a 1. É isso: o Volendam se esforçava. Mas tendo quase todos os piores desempenhos - pior mandante, pior visitante, pior no turno e no returno, defesa mais vazada -, nunca teve condições de evitar seu destino final: a queda, após dois anos de Eredivisie.

Análise da temporada: Excelsior

O Excelsior (que teve no goleiro Van Gassel, à direita, um destaque) caiu após um bom começo. E mesmo após todos os notáveis esforços, acabou sendo rebaixado. Com requintes de crueldade (Hans van der Valk/BSR Agency/Getty Images)

Colocação final: 16º lugar, com 29 pontos (atrás pelo pior saldo de gols - 6 vitórias, 11 empates e 17 derrotas) - rebaixado na repescagem de acesso/permanência/descenso
No turno havia sido: 12º lugar, com 12 pontos (na frente pelo maior saldo de gols)
Time-base: Van Gassel; Horemans, Nieuwpoort (Benita), El Yaakoubi e Widell (Zagré); Baas e Sandra (Goudmijn); Sanches Fernandes, Driouech (Duivestijn) e Lamprou; Parrott
Técnico: Marinus Dijkhuizen
Maiores vitórias: Excelsior 4x0 Volendam (30ª rodada) e Excelsior 4x0 Heracles Almelo (33ª rodada) 
Maiores derrotas: AZ 4x0 Excelsior (25ª rodada) e Feyenoord 4x0 Excelsior (34ª rodada) 
Principal jogador: Couhaib Driouech (meio-campista/atacante) 
Artilheiro: Troy Parrott (atacante), com 10 gols  
Quem deu mais passes para gol: Couhaib Driouech (atacante), com 6 passes
Quem mais partidas jogou: Stijn van Gassel (goleiro), com 38 partidas - as 34 da temporada regular, mais as quatro da repescagem de acesso/permanência/descenso
Copa nacional: eliminado pelo Groningen (segunda divisão), nas oitavas de final
Competições continentais: nenhuma

O Excelsior começou a temporada dando a impressão de que seria surpresa tão grande quanto o Go Ahead Eagles foi. Chegou até a frequentar a quinta posição, entre a sétima e a oitava rodada. Só que os caminhos se separaram, a partir daí. Enquanto o time de Deventer partiu para confirmar a surpresa e garantir vaga na Conference League via repescagem, o Excelsior foi para baixo. Não venceria mais no primeiro turno - quatro empates e quatro derrotas. Ainda assim, a queda parecia controlável. Quando nada, porque o time do bairro de Kralingen, em Roterdã, tinha no goleiro Stijn van Gassel um dos melhores do campeonato, com reflexos apurados e grande agilidade. Na frente, havia vários nomes responsáveis por boas jogadas - principalmente Couhaib Driouech, meia habilidoso a ponto de ser considerado como futura contratação do PSV e futura convocação da seleção da Holanda - e responsáveis por gols - como o irlandês Troy Parrott, emprestado pelo Tottenham. Só que nem assim o Excelsior tomou jeito. Uma sequência ruim no início do returno - seis derrotas, entre a 20ª e a 25ª rodadas - jogou de vez o time na luta para escapar do rebaixamento.

Restava ao Excelsior fazer o possível para escapar disso. E o time fez. Se continuou perdendo até jogos em que vendia caro a derrota (como o 2 a 0 sofrido em casa para o futuro campeão PSV, na 28ª rodada), pelo menos ficou invicto contra adversários nas últimas posições, empatando com o RKC Waalwijk (1 a 1, na 26ª rodada) e goleando o Volendam (4 a 0, na 30ª rodada). Como, aliás, Volendam e Vitesse já estavam sendo rebaixados, pelo menos havia a chance de tentar a salvação via repescagem. Com o bom ataque, o clube ainda se animou buscando a salvação direta: empatou com o Ajax (2 a 2, 31ª rodada) e goleou o Heracles Almelo (4 a 0, em casa, na 33ª e penúltima rodada - na volta de Driouech, recuperado de problema muscular). Ainda assim, como antepenúltimo colocado, o Excelsior foi mesmo disputar a permanência no "purgatório" da repescagem. E continuou fazendo o possível. Fez muito bem na "semifinal" contra o ADO Den Haag, vencendo os dois jogos (2 a 1 fora na ida, 7 a 1 em casa na volta). Só que na final, para jogar a permanência contra o NAC Breda - que buscava o acesso após cinco anos -, o desastre de dois jogadores expulsos abriu caminho para uma goleada do time de Breda na ida (6 a 2). Parecia o fim. Na volta, em casa, o Excelsior se esforçou e fez sua parte, abrindo incríveis 4 a 0. Só que um gol sofrido, de Caspar Staring, tornou a goleada dolorosa: mesmo com 4 a 1, o Excelsior enfim caiu. Fez o possível. Mas não ameniza a dor de um rebaixamento que talvez pudesse ser evitado.

Análise da temporada: RKC Waalwijk

O RKC Waalwijk sofreu durante toda a temporada. Mas com alguns gols de David Min (foto) e bons resultados esparsos, conseguiu se segurar na primeira divisão (Bart Stoutesdijk/ANP/Getty Images)

Colocação final: 15º lugar, com 29 pontos (na frente pelo melhor saldo de gols - 7 vitórias, 8 empates e 19 derrotas)
No turno havia sido: 16º lugar, com 14 pontos
Time-base: Vaessen; Lelieveld, Gaari (Adewoye), Van den Buijs e Meijers (Lutonda); Roemeratoe e Oukili; Cleonise (Niemeijer), Lokesa e Seuntjens; Min (Kramer)
Técnico: Henk Fräser
Maior vitória: Heracles Almelo 0x5 RKC Waalwijk (32ª rodada)
Maior derrota: RKC Waalwijk 0x4 PSV (4ª rodada)
Principais jogadores: Etienne Vaessen (goleiro) e David Min (atacante)
Artilheiro: David Min (atacante), com 10 gols  
Quem deu mais passes para gol: Julian Lelieveld (lateral direito/zagueiro), com 4 passes
Quem mais partidas jogou: Julian Lelieveld (lateral direito/zagueiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado pelo Utrecht, na primeira fase
Competições continentais: nenhuma

Desde que o Campeonato Holandês começou, o RKC Waalwijk dava a impressão de que sofria com as várias mudanças por que passara desde a ótima campanha passada (9º lugar, sonhando até com aparição na repescagem valendo vaga na Conference League). Muitos jogadores haviam deixado o clube, a mudança de técnico representou grande mudança tática - ao invés da ofensividade de Joseph Oosting, que foi para o Twente (onde fez trabalho esplendoroso), os cuidados defensivos de Henk Fräser. Resultado: desde o primeiro turno, o clube veio sofrendo com a proximidade das últimas posições, terminando o primeiro turno no 16º lugar que o forçaria a disputar a repescagem contra o rebaixamento. Para piorar, houve o susto da concussão cerebral que o goleiro Etienne Vaessen - destaque dos Waalwijkers até ali - sofrera, ficando fora de algumas rodadas. 2023 acabou, 2024 começou, e os problemas continuaram. 

Houve algumas mudanças importantes, é verdade - a consolidação de uma tática com dois volantes protegendo a defesa; o retorno do atacante Mats Seuntjens, após malograda passagem pelo Fortuna Sittard; e a evolução do atacante israelense David Min, empurrando para a reserva o experiente Michiel Kramer. Ainda assim, o RKC passou boa parte do returno na temida 16ª posição. Começou de maneira preocupante (seis derrotas, entre a 17ª e a 24ª rodadas). Só que partiu de uma vitória direta e importante - 3 a 1 no Vitesse, que seria lanterna, na 25ª rodada - para uma sequência de três empates, que se não o fez decolar, pelo menos o colocou na 15ª posição, que garantiria a salvação direta. É bem verdade que duas derrotas seguidas na reta final - 3 a 2 para o Volendam, na 29ª rodada, e 3 a 2 para o AZ (após ter 2 a 0 de vantagem), na 30ª - ameaçaram por a leve reação a perder. Mas Min seguiu com seus gols, e na 32ª e antepenúltima rodada, veio o placar da salvação: 5 a 0 no Heracles Almelo, fora de casa. Por quê salvação? Porque mesmo sem ganhar nas duas últimas rodadas - 1 a 1 com o Zwolle na penúltima, derrota por 3 a 1 para o campeão PSV na derradeira -, o RKC Waalwijk se salvou diretamente na Eredivisie, pelo saldo de gols maior do que o do Excelsior (-18 a -23). Cinco gols de diferença. Os cinco gols feitos contra o Heracles... Mesmo assim, é óbvio: o sofrimento deve ser evitado em 2024/25.

Análise da temporada: Heracles Almelo

Hornkamp fez muitos gols, e escapou das críticas ao ajudar o Heracles Almelo. O que não quer dizer que a torcida está contente: a volta à Eredivisie foi de sufoco (Pieter van der Woude/BSR Agency/Getty Images)

Colocação final: 14º lugar, com 33 pontos (9 vitórias, 6 empates e 19 derrotas)
No turno havia sido: 15º lugar, com 15 pontos
Time-base: Brouwer; Roosken (Bakboord), Sonnenberg (Wieckhoff/Leerdam), Hoogma e Oppegard (Willems); De Keersmaecker e Vejinovic; Limbombe, Hrustic (Bruijn/Sankoh) e Engels (Hansson); Hornkamp
Técnico: John Lammers (até a 15ª rodada), Hendrie Krüzen (interino, na 16ª rodada) e Erwin van de Looi (a partir da 17ª rodada) 
Maior vitória: Heracles Almelo 5x0 AZ (28ª rodada)
Maior derrota: Heracles Almelo 0x6 PSV (11ª rodada)
Principal jogador: Jizz Hornkamp (atacante)
Artilheiro: Jizz Hornkamp (atacante), com 10 gols  
Quem deu mais passes para gol: Emil Hansson (atacante), com 6 passes
Quem mais partidas jogou: Michael Brouwer (goleiro) e Mario Engels (meio-campista), que jogaram todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado pelo HHC Hardenberg (terceira divisão), na primeira fase
Competições continentais: nenhuma

Até que o começo do Heracles Almelo vinha sendo regular, no bom sentido, sem grandes sustos. Contudo, a partir da 10ª rodada (3 a 0 sofridos para o Heerenveen), a coisa começou a degringolar em Almelo. Logo depois, veio a eliminação na Copa da Holanda, logo na primeira fase, para um clube amador. E o primeiro turno terminou com cinco derrotas nas últimas sete rodadas do primeiro turno para os Heraclieden. Técnico demitido (John Lammers), novo treinador (Erwin van de Looi), e uma dúvida ficava: a equipe alvinegra conseguiria retomar alguma regularidade? Não era sem motivo o medo: bastava lembrar que o rebaixamento em 2021/22 tivera algo de inesperado e repentino, com derrotas nas últimas jogadas levando à disputa da repescagem - e nela, uma derrota para o Excelsior, quando o clima já era de desespero total. O filme quase teve sequência, mas o Heracles fez sua parte previamente desta vez.

Quando nada, porque Jizz Hornkamp ajudou bastante. Recuperado de lesão no tornozelo sofrida na primeira rodada da temporada, o atacante voltou para o returno e foi garantia de gols, marcando nove vezes. Em alguns jogos, aumentava a esperança da torcida de que os Almelöers conseguiriam até coisa melhor do que garantir a permanência - nos 2 a 0 no Go Ahead Eagles, na 26ª rodada, e principalmente nos 5 a 0 sobre o AZ, duas rodadas depois, quando um primoroso final de primeiro tempo - dois gols em dois minutos - fez o time deslanchar para a goleada. Quando houve, na rodada seguinte, outra vitória tão inesperada quanto saborosa (2 a 1 no Sparta Rotterdam, fora de casa, de virada), o medo do rebaixamento parecia definitivamente afastado, com o time ficando na 13ª posição. Só que uma sequência viria assustar a torcida em Almelo: quatro derrotas, entre a 30ª e a 33ª rodadas, incluindo aí pesadas goleadas para times na zona de baixo da tabela (5 a 0 sofridos para o RKC Waalwijk, na 32ª rodada, em casa, e 4 a 0 para o Excelsior, na rodada seguinte). Só a pontuação baixíssima dos rebaixados Vitesse e Volendam, e uma pequena vantagem para os citados RKC e Excelsior (quatro pontos, mais do que uma vitória), possibilitaram a permanência. O empate sem gols - e sem graça... - contra o Fortuna Sittard, na última rodada, foi um fecho coerente para uma volta problemática à Eredivisie - 19 derrotas, terceiro clube a mais perder na temporada. A torcida só olha, desconfiada, como se fosse uma mãe a livrar o filho de uma bronca, mas com a paciência bem perto do fim.

Análise da temporada: Almere City

O Almere City de Hansen (de costas) e Koopmeiners pontuou quando precisava. Por isso, conseguiu garantir mais um ano na primeira divisão, contra as expectativas (Patrick Goosen/BSR Agency/Getty Images)

Colocação final: 13º lugar, com 34 pontos (7 vitórias, 13 empates e 14 derrotas)
No turno havia sido: 14º lugar, com 16 pontos
Time-base: Bakker; Akujobi (Mbe Soh), Jacobs, Van Bruggen, Barbet e Floranus; Koopmeiners, Robinet e Resink (Ritmeester van de Kamp/Peña); Van la Parra e Hansen (Cathline)
Técnico: Alex Pastoor
Maior vitória: Almere City 5x0 Vitesse (16ª rodada)
Maior derrota: Feyenoord 6x1 Almere City (3ª rodada)
Principal jogador: Thomas Robinet (atacante) 
Artilheiro: Thomas Robinet (atacante), com 11 gols  
Quem deu mais passes para gol: Peer Koopmeiners (meio-campista), com 9 passes
Quem mais partidas jogou: Thomas Robinet (meio-campista/atacante), que jogou 33 partidas
Copa nacional: eliminado pelo Fortuna Sittard, nas oitavas de final
Competições continentais: nenhuma

Nem foi necessário esperar o primeiro turno acabar para já se saber: o Almere City podia até ser novato na primeira divisão, mas iria se esforçar ao máximo para não ser rebaixado. E até já deixara sinais de que poderia se manter nela, desde a mudança tática (passar a jogar com três zagueiros), a primeira vitória (2 a 0 no Utrecht, fora de casa, na 7ª rodada) e a maior vitória da temporada (5 a 0 no Vitesse, na 16ª rodada, já na reta final do primeiro turno). De lá até o fim da temporada, as "Zwarte Schapen" ("Cabras Negras") conseguiram eclipsar as falhas que tinham, graças a alguns bons nomes que tiveram na temporada. No meio-campo, principalmente: enquanto Thomas Robinet se adiantava costumeiramente ao ataque - isso quando não era escalado na dupla de atacantes -, Peer Koopmeiners aproveitava muito bem o empréstimo do AZ, protegendo a defesa adicionalmente e também criando boas jogadas com seus lançamentos.

Com tudo isso, o Almere conseguiu controlar seus danos. Foi o time a mais empatar neste Campeonato Holandês - 13, em 34 rodadas -, mas isso o ajudou a ficar sem perder contra adversários diretos contra o rebaixamento no returno (uma vitória sobre o Excelsior, empates contra Volendam, Vitesse, RKC Waalwijk e Heracles Almelo). Foi o terceiro pior mandante da liga? Compensou sendo um pouco melhor como visitante (11º). Conseguiu até vencer o Zwolle, que terminou melhor colocado (1 a 0, fora de casa, na 22ª rodada). E comprovou sua evolução ao pegar o vice-campeão Feyenoord: se fora goleado na 3ª rodada - 6 a 1 -, perdeu "só" por 2 a 0 na 23ª rodada. Com os pontos que conseguiu pela sequência de empates - seis, entre a 24ª e a 29ª rodadas -, conseguiu garantir a manutenção na primeira divisão até por antecipação. E nem mesmo ser goleado na última partida da Eredivisie (NEC 4 a 1) tirou o ar de comemoração do Almere City, por ter ficado para mais um ano na liga, contrariando muitos prognósticos. Agora, terá de dar o próximo passo sem aquele julgado por muitos como o principal responsável pelo feito: o técnico Alex Pastoor, que já saiu.

Análise da temporada: Zwolle

Mesmo na parte de baixo da tabela, tendo piorado no returno, o Zwolle conseguiu cativar a torcida com um jeito ofensivo - com Lennart Thy (centro) marcando gols -, e nem sofreu muito para se manter mais um ano na Eredivisie (Vincent Jannink/ANP/Getty Images)

Colocação final: 12º lugar, com 36 pontos (9 vitórias, 9 empates e 16 derrotas)
No turno havia sido: 11º lugar, com 18 pontos
Time-base: Schendelaar; Van Polen, Kersten, Lam e MacNulty; El Azzouzi (Krastev) e Van den Berg; Reijnders (Velanas), Namli e Vellios (Van der Water); Thy
Técnico: Johnny Jansen
Maior vitória: Volendam 0x5 Zwolle (14ª rodada)
Maior derrota: Zwolle 1x7 PSV (23ª rodada)
Principais jogadores: Younes Namli (meio-campista) e Lennart Thy (atacante) 
Artilheiros: Lennart Thy (atacante), com 13 gols
Quem deu mais passes para gol: Younes Namli (meio-campista), com 7 passes
Quem mais partidas jogou: Sam Kersten (zagueiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado pelo AFC Amsterdam (terceira divisão), na primeira fase
Competições continentais: nenhuma

Compare-se a situação do Heerenveen com a do Zwolle: se o clube da Frísia terminou na 11ª posição, descontentando sua torcida com a morosidade de seu jogo, os Zwollenaren terminaram abaixo, mas parecem ter empolgado mais a torcida. Não que tivessem jogado muito melhor (para se ter um exemplo, o clube foi o quarto pior mandante), mas chegaram a se aproximar da zona da repescagem por vaga na Conference League, com duas vitórias seguidas - 1 a 0 no Vitesse, na 19ª rodada, e 2 a 0 no Sparta Rotterdam, na 20ª rodada. Mais do que isso: manteve o estilo ofensivo com que subiu à primeira divisão, na temporada passada. Talvez ofensivo até demais. Afinal de contas, na maior goleada sofrida - 7 a 1 para o PSV, em casa, na 23ª rodada -, a fragilidade defensiva foi notável, com o futuro campeão holandês avançando pelos lados, como queria, quase sem oposição. 

Em outras partidas, se os gols não foram sofridos, foi pela qualidade do goleiro Jasper Schendelaar, titular da seleção sub-21 da Holanda. Ainda assim, na frente, compensava a habilidade da dupla grega Odysseus Velanas-Apostolos "Tolis" Vellios, a qualidade conhecida de Younes Namli na criação de jogadas, os gols de Lennart Thy. Até a velocidade de gente que vinha mais de trás - como o lateral hispano-irlandês Anselmo García MacNulty - empolgava a torcida. Tudo isso bastou para que os Zwollenaren controlassem o perigo de rebaixamento. Já garantissem a permanência na primeira divisão na 31ª rodada, ao vencerem o Heracles Almelo em casa (3 a 1). E pudessem terminar a temporada com festa, mesmo por derrota (Twente 2 a 1), celebrando o lateral direito Bram van Polen, deixando o clube após 18 anos para encerrar a carreira jogando por um clube amador, em 2024/25 - com direito a cerveja de graça para a torcida, após o jogo. Agora, é ver se o estilo ofensivo seguirá, com a perda já confirmada de Lennart Thy para um clube da Ásia, ainda não revelado.