terça-feira, 4 de junho de 2024

Tarefas quase cumpridas

Dar uma despedida digna a Lieke Martens, após doze anos de história marcante e vitoriosa. Tão importante quanto isso: aproximar-se da vaga direta na Eurocopa feminina, que virá no ano que vem. Para tudo isso, vencer as duas partidas contra a Finlândia, pelas rodadas das eliminatórias da Euro. Eram essas as tarefas que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) desejava cumprir, nestas datas FIFA. Quase conseguiu: até começou bem, ao vencer o primeiro jogo contra as finlandesas por 1 a 0. Contudo, o empate por 1 a 1 frustrou um pouco essas expectativas. Mais do que isso: ressaltou as falhas que persistem nas Leoas Laranjas, e que podem atrapalhá-las nas últimas rodadas da qualificação, já em julho, em meio às férias - algo muito criticado pelo técnico Andries Jonker, e por jogadoras como Jackie Groenen.

Na partida da sexta-feira passada, o ambiente em Roterdã, em Het Kasteel - o estádio do Sparta -, foi ótimo. Mais do que isso: a Holanda foi mais ofensiva, por obra e graça de Esmee Brugts. A ala esquerda foi constante opção de ataque, recebendo a bola para jogadas - e já experimentando chutes, como aos 2' e aos 9'. Damaris Egurrola Wienke, enfim, apareceu mais no meio-campo, ajudando na armação e iniciando a saída de bola. Daniëlle van de Donk, por sua vez, também se mostrou muito ativa na criação de jogadas, e até experimentou seus chutes, como aos 30', forçando a defesa da goleira Tinja-Riikka Korpela. Contudo, eram poucas opções demais para tentar vencer uma defesa finlandesa que se mostrava elogiavelmente fechada, com muitas jogadoras na área para impedir troca de passes e jogadas. E quando tinha espaço para contra-atacar, até finalizava, com Emmi Siren e Linda Sällström, ambas aos 25'. A primeira viu seu chute defendido por Daniëlle de Jong (boa estreia da goleira do Twente pela seleção); a segunda chutou para fora. Para piorar, um lance completamente involuntário levou a mais uma lesão entre as holandesas: numa falta cometida por Lynn Wilms, Damaris foi atingida no joelho por uma jogadora da Finlândia que tentou escapar do carrinho de Wilms - a meio-campista seria substituída no intervalo, e cortada da delegação no dia seguinte.

Contudo, o problema principal realmente estava na falta de criatividade da Holanda no ataque. Tanto para fazer jogadas, quanto para achar espaços dentro da defesa cerrada e esforçada da Finlândia. Só restavam os chutes. Num deles, Lieke Martens quase abrilhantou sua despedida, chutando no travessão aos 60'. Só mesmo um arremate rasteiro, veloz e forte de Lineth Beerensteyn, aos 64', após Dominique Janssen ajeitar escanteio cobrado por Sherida Spitse, para o 1 a 0 da vitória. Contudo, algumas entradas - Anni Hartikainen e Sanni Franssi, por exemplo -, a Finlândia foi até mais ofensiva, tendo chances de empate no fim (Oona Sevenius aos 88', Nea Lehtola aos 90' + 2). E outra holandesa se machucou: Esmee Brugts sentiu dores na perna, sendo ainda substituída. De todo modo, a vitória viera. Era importante. E serviu de base para uma alegre homenagem da torcida e das colegas a Lieke Martens, no seu último jogo em casa pela seleção.

Se a Holanda feminina sofreu com a falta de espaço para atacar, pelo menos a vitória ajudou a aumentar o brilho da despedida de Lieke Martens (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

Viagem feita à Finlândia, ficava para o segundo jogo, nesta terça, mostrar evolução. Principalmente ofensiva, setor que está sofrendo na Holanda (nos cinco jogos anteriores, só dois gols sofridos). Só que as dificuldades começaram antes mesmo do apito inicial na cidade de Tampere. Com dores desde a sexta, foi a vez de Esmee Brugts ficar de fora. Em que pesasse o primeiro jogo de Van Domselaar como goleira após sua cirurgia lombar, antes mesmo de voltar ao Aston Villa, o ataque já sofreria - restando a Chasity Grant tentar aproveitar sua chance, começando como titular pela primeira vez. Sofreu ainda mais ao ver que a Finlândia vinha mais ofensiva e pressionaria mais em casa - já começando aos 9', em boa chance perdida por Sällström, após Hartikainen (titular desta vez) ajeitar. Para piorar, até incrivelmente, as neerlandesas tiveram mais uma machucada: Victoria Pelova, substituída já aos 12'. Simplesmente a 11ª selecionável da Holanda com lesão recente - lista que já inclui Vivianne Miedema, Jill Roord, Kerstin Casparij, Caitlin Dijkstra...

Diante disso tudo, foi até incrível a sorte que as Leoas Laranjas tiveram para abrir o placar: aos 17', a goleira Korpela tentou sair jogando com um chute... que mandou a bola direto contra Beerensteyn, que esperou a bola cair para finalizar, antes mesmo que Korpela chegasse para tentar corrigir o próprio erro. E por muito tempo, foi só. Porque a Finlândia passou a repetir o cenário que a Holanda mais detesta: apostar nos contra-ataques, nos quais Sällstrom, e também Jutta Rantala, começaram a ganhar a bola de Sherida Spitse na corrida, para trazerem perigo. Das primeiras vezes, erraram o chute; nas segundas, Van Domselaar já teve de defendê-las. O primeiro tempo terminava já causando a pergunta: até quando a Holanda manteria a vantagem?

E a pergunta continuou rodando no segundo tempo: se Sällström chamara a atenção no primeiro tempo, Rantala apareceu mais no segundo tempo. A pressão na saída de bola impedia que as jogadoras holandesas saíssem com calma - de chances de gol das visitantes, somente uma tentativa de Beerensteyn (única opção ofensiva), aos 60'. E finalmente, o empate veio, já na reta final: um erro de Spitse, tocando a bola acidentalmente para Olga Ahtinen, que passou para Rantala enfim acertar a mira para o 1 a 1. Que quase virou 2 a 1 aos 88', em outro erro holandês: Marisa Olislagers permitiu a passagem de Rantala livre pela direita, esta cruzou, e Ahtinen, na pequena área, concluiu por cima.

Se o fim do jogo da sexta passada foi alegre, o desta terça foi sem graça. Lieke Martens saiu lamuriosa, assumindo a tristeza por não poder ajudar a adiantar o serviço para a classificação à Euro, em sua última partida pela seleção feminina da Holanda (Países Baixos). E mesmo que a tarefa esteja quase cumprida, mesmo que dois empates entre Itália e Noruega tenham até "colaborado" para as neerlandesas se aproximarem da vaga, todo cuidado continuará sendo pouco, pelo visto, tantos são os problemas.´

Eliminatórias da Euro feminina 2025 - Grupo A

Holanda 1x0 Finlândia
Data: 31 de maio de 2024
Local: Het Kasteel (Roterdã)
Árbitra: Frida Klarlund (Dinamarca)
Gol: Lineth Beerensteyn, aos 65'

HOLANDA
Daniëlle de Jong; Lynn Wilms, Sherida Spitse e Dominique Janssen; Victoria Pelova, Daniëlle van de Donk, Jackie Groenen, Damaris Egurrola Wienke (Chasity Grant, aos 46') e Esmee Brugts (Marisa Olislagers, aos 84'); Lieke Martens (Katja Snoeijs, aos 90' + 3) e Lineth Beerensteyn (Fenna Kalma, aos 90' + 3). Técnico: Andries Jonker

FINLÂNDIA
Tinja-Riikka Korpela; Emmi Siren (Nea Lehtola, aos 83'), Joanna Tynillä, Natalia Kuikka, Emma Koivisto e Olga Ahtinen; Oona Siren (Oona Sevenius, aos 70'), Ria Öling e Eveliina Summanen (Sanni Franssi, aos 46'); Jutta Rantala (Dana Leskinen, aos 83') e Linda Sällström (Anni Hartikainen, aos 76'). Técnico: Marko Saloranta


Finlândia 1x1 Holanda
Data: 4 de junho de 2024
Local: Tammelan (Tampere)
Árbitra: Sandra Bastos (Portugal)
Gols: Lineth Beerensteyn, aos 17', e Jutta Rantala, aos 77'

FINLÂNDIA
Tinja-Riikka Korpela; Emma Koivisto, Natalia Kuikka, Eva Nyström e Joanna Tynillä; Olga Ahtinen; Oona Siren (Olga Ahtinen, aos 68'), Eveliina Summanen e Anni Hartikainen (Oona Sevenius, aos 61'); Ria Öling; Jutta Rantala e Linda Sällström (Sanni Franssi, aos 67'). Técnico: Marko Saloranta

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Lynn Wilms, Sherida Spitse e Dominique Janssen; Chasity Grant, Jackie Groenen (Fenna Kalma, aos 90' + 5), Daniëlle van de Donk (Katja Snoeijs, aos 72'), Victoria Pelova (Wieke Kaptein, aos 12') e Renate Jansen (Marisa Olislagers, aos 71'); Lieke Martens e Lineth Beerensteyn . Técnico: Andries Jonker

Nenhum comentário:

Postar um comentário