quarta-feira, 26 de maio de 2021

Os 26 holandeses na Euro: Berghuis

 
Berghuis sempre vinha tendo boas atuações no Feyenoord, mas sem espaço na Holanda. Só que cresceu a tal ponto que agarrou a ponta esquerda titular quando a chance surgiu (Pro Shots/onsoranje.nl)

Ficha técnica
Nome: Steven Berghuis
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 19 de dezembro de 1991, em Apeldoorn 
Clubes na carreira: Twente (2011 a 2012), VVV-Venlo (2012, por empréstimo), AZ (2012 a 2015), Watford-ING (2015 a 2017) e Feyenoord (2016 a 2017, por empréstimo, e desde 2017)
Desempenho na seleção: 24 jogos e 2 gols, desde 2016 
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2020/21)

Há pelo menos quatro anos, Steven Berghuis é daqueles jogadores sobre os quais se diz que "carregam seu time nas costas". Tudo bem, pode ser exagero, mas o fato é que o atacante é indiscutível como destaque do Feyenoord - basta dizer que é o único convocado do clube de Roterdã para a seleção masculina dos Países Baixos. Pelo menos neste 2021, isso tem sido suficiente para fazer dele um titular muito provável da ponta-direita da Holanda na Euro. Seria o coroamento de uma carreira de muitas idas e vindas - tantas que Berghuis, para muitos, é desconhecido a ponto de soar como revelação.

A influência para Steven começar no futebol veio de casa: seu pai, Frank Berghuis, não só foi atacante - ponta-esquerda com passagem pelo PSV -, como atuou em um amistoso pela seleção holandesa (por sinal, amistoso justamente contra o Brasil, em 1989 - a Seleção venceu, 1 a 0). Todavia, a passagem de Berghuis "filho" por categorias inferiores foi incomum: o nativo de Apeldoorn passou por muitos clubes na adolescência. Começou no amador LAC Frisia. Depois, em 2007, foi para o AGOVV, já extinto, da cidade natal, então dividindo as categorias de base com o Vitesse. No ano seguinte, o atacante tentou a sorte em outro clube amador de Apeldoorn, o WSV.

Mas Berghuis só entrou no rumo da carreira para valer quando tomou o caminho do Go Ahead Eagles, em 2009. Foi exatamente naquele ano que o clube de Deventer fundiu suas categorias de base com as de Twente e Heracles Almelo. Já se destacando na ponta-direita, Steven rapidamente despontou nas seleções de abase: começou a jogar pela sub-19, em 2019. No ano seguinte, fez a transição para o Twente: assinou um contrato de dois anos com o clube de Enschede, já entrando no grupo do time B. E ainda na temporada 2010/11, o jovem teve sua participação na campanha dos Tukkers no vice-campeonato holandês: entrou no lugar de Ola John para atuar por 14 minutos, durante a goleada no clássico contra o Heracles Almelo (5 a 0, pela 19ª rodada da Eredivisie, em 19 de janeiro de 2011).

Na temporada 2011/12, Berghuis já começou a se alternar mais entre banco e titularidade no Twente: começou jogando, por exemplo, contra o Benfica, nos play-offs por vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões. Também teve sua primeira aparição na seleção sub-21 da Holanda. De quebra, marcou seu primeiro gol pelo Twente - aliás, marcou logo quatro, nos 8 a 1 sobre o Zwaluwen, pela segunda fase da Copa da Holanda. Entretanto, a época era de muitos atacantes para poucas vagas nos Tukkers: Luciano Narsingh, Quincy Promes, Luuk de Jong, Ola John, Marc Janko, Emir Bajrami... e Berghuis ainda era jovem. Para ter ritmo de jogo, foi emprestado ao VVV-Venlo, na metade daquela temporada. E teve sua utilidade: se o clube aurinegro precisou da repescagem para escapar do rebaixamento, o atacante colaborou com dois gols nas partidas decisivas.

Berghuis começou no Twente, passou pelo VVV-Venlo... mas só no AZ sua carreira teve espaço para embalar (VI Images/Getty Images)

De volta dos Venlonaren, Berghuis seguiu sem muita perspectiva no Twente. Aí chegou o AZ, no meio de 2012: o jovem atacante tomou o caminho de Alkmaar. Seguiria sem a titularidade plena na equipe, é verdade: na primeira temporada, 2012/13, foram 23 jogos pelo AZ no Campeonato Holandês, mas só dez como titular inicial, e sem gols. Ainda assim, Berghuis ganhava capacidade para mais posições além da ponta-direita: chegou a jogar no meio-campo, substituindo periodicamente nomes como Erik Falkenburg. De quebra, até festejou o primeiro título da carreira, com a Copa da Holanda. Em 2013/14, os números do atacante já foram melhores pela Eredivisie: 29 jogos, 9 gols, ajuda na campanha que levou o AZ à Liga Europa. E a última temporada de Steven em Alkmaar foi o seu ápice: em 2014/15, foram 22 jogos e 11 gols pelo Holandês. Nem uma lesão no início do campeonato o impediu de fazer bom trio de ataque com o americano Áron Jóhannsson e o neerlandês Guus Hupperts, levando o AZ ao terceiro lugar na liga.

O elogiável desempenho já valeu um espaço num centro mais competitivo: Berghuis foi uma das contratações do Watford para a disputa do Campeonato Inglês, em 2015/16. Porém, a chance de aparecer na Premier League foi perdida. Uma lesão logo na chegada aos Hornets e a desconfiança do técnico Quique Sánchez Flores sobre sua capacidade em jogar no esquema tático (um 4-2-3-1) tiraram boa parte do espaço do holandês na equipe aurirrubra: Berghuis só saiu do banco para jogar nove partidas na Premier League. Quique Sánchez Flores saiu, Walter Mazzarri chegou ao Watford, e o pouco espaço que Berghuis tinha se diminuiu ainda mais. Se restava um consolo, era apenas o de, enfim, estrear pela seleção principal da Holanda, num amistoso contra a Irlanda, em 27 de maio de 2016 - 1 a 1 em Dublin. Outro consolo era o de  encontrar cada vez mais o seu lugar em campo: a ponta-direita.

Berghuis pediu chances no Watford. Mas uma lesão e a falta de adaptação ao estilo no clube inglês encurtaram seu caminho por lá (watfordfc.com)

Foi apostando nessa posição que Berghuis teve uma chance voltando ao país natal, emprestado ao Feyenoord para a temporada 2016/17. O atacante não poderia ter feito melhor: já teve chance na primeira rodada do Campeonato Holandês, vindo a campo para os 16 minutos finais, contra o Groningen. Na terceira rodada, já foi titular no 1 a 0 diante do Heracles Almelo. Mais uma rodada, e Berghuis deixava a bola nas redes do Excelsior, numa goleada por 4 a 1. Enfim: o atacante virou titular, e teve sua importância no fim do jejum do Stadionclub, campeão da Eredivisie após 18 anos. Foram 30 jogos (25 como titular), sete gols e cinco passes para gol. Outros simbolizaram mais a campanha, como Dirk Kuyt e Nicolai Jorgensen, mas Berghuis tivera sua importância. Reabilitara a carreira. E conseguiria realizar seu desejo: o Feyenoord o contratou em definitivo logo que a temporada acabou.

Dirk Kuyt encerrou a carreira, Eljero Elia saiu... e a importância de Berghuis começou a aumentar no Feyenoord. Algo indicado pelos números crescentes pelo Campeonato Holandês, em 2017/18: 31 jogos, 18 gols, 12 passes para gol - até mesmo na apagada campanha Feyenoorder na Liga dos Campeões ele conseguiu deixar uma bola na rede, ainda que em derrota (2 a 1 para o Shakhtar Donetsk, na terceira rodada da fase de grupos). Além do mais, outro título de Copa da Holanda. Em 2018/19, foram menos gols pela Eredivisie (12), mas mais jogos (33) e também 12 assistências. E em 2019/20, antes da pandemia, se o Feyenoord começava a ensaiar chegar à disputa do título na Eredivisie - além de chegar à final da Copa da Holanda, que não aconteceria -, Berghuis era o grande responsável: em 24 aparições na liga, sete passes para gol e 15 gols, fazendo dele o goleador do campeonato que não pôde acabar (ao lado do nigeriano Cyriel Dessers, do Heracles Almelo).

Nomes vêm e vão do clube, mas há pelo menos quatro anos, os jogos deixam cada vez mais claro: Berghuis é o dono da bola no Feyenoord (Soccrates/BSR Agency)

Se se consolidava como a estrela praticamente solitária do Feyenoord, criando jogadas pela direita, se movimentando, marcando gols, sendo o único alvo de confiança da torcida, Berghuis já tinha mais dificuldades em termos de seleção. Não para ser incluído nas convocações: sempre figurou nelas, de 2017 em diante. Todavia, a grande concorrência no ataque dificultava demais a situação do jogador: só para as pontas, havia Steven Bergwijn, Ryan Babel e Quincy Promes à frente, na "hierarquia" sob Ronald Koeman. Foram só três jogos pela Laranja em 2018 (todos amistosos, todos vindo do banco), e dois em 2019, pelas eliminatórias da Euro.

A situação começou a mudar com a chegada de Frank de Boer: Berghuis já atuou em cinco partidas sob o atual treinador neerlandês em 2020, três delas como titular. Perdeu alguns gols, é verdade (como no 0 a 0 com a Bósnia, pela Liga das Nações), mas já deixou melhor impressão. E neste 2021, Berghuis enfim levou a importância na seleção a um nível parecido com a importância no clube. Pelo Feyenoord, na Eredivisie, os mesmos números de 2017/18: 31 jogos, 18 gols, 12 assistências. E pela seleção, não só a titularidade nos três jogos das eliminatórias da Copa, mas os dois primeiros gols pela Holanda - abrindo o placar contra Letônia, na segunda rodada, e Gibraltar, na seguinte.

Trocando em miúdos: Berghuis chega à Euro à frente dos concorrentes pela posição. Virou o jogo na seleção, graças ao que fez e continua fazendo no Feyenoord.

(Pro Shots)


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