quarta-feira, 26 de maio de 2021

Os 26 holandeses na Euro: Krul

A presença na Euro 2020 é a prova da reação de Tim Krul na carreira (Pro Shots/onsoranje.nl)

Ficha técnica
Nome: Timothy "Tim" Michael Krul
Posição: Goleiro
Data e local de nascimento: 3 de abril de 1988, em Haia
Clubes na carreira: Newcastle-ING (2006 a 2017), Falkirk-ESC (2007 a 2008, por empréstimo), Carlisle United-ING (2008 a 2009, por empréstimo), Ajax (2016 a 2017, por empréstimo), AZ (2017, por empréstimo), Brighton-ING (2017 a 2018) e Norwich City-ING (desde 2018)
Desempenho na seleção: 14 jogos, desde 2011 (14 gols sofridos)
Torneios pela seleção: Euro 2012 (não jogou), Copa de 2014 (1 jogo, nenhum gol sofrido) e Liga das Nações (2020/21)

Goiânia, 4 de junho de 2011. Tudo bem, era apenas um amistoso. Mas um jogo entre as seleções de Brasil e Holanda sempre chama alguma atenção, ainda mais com as lembranças do jogo entre ambas, na Copa de 2010. E se houve algum jogador que chamou a atenção naquele 0 a 0 no Serra Dourada, foi um jovem goleiro que fazia então sua primeira partida pela Laranja - e fez algumas ótimas defesas, principalmente no começo do segundo tempo. Dez anos depois, muito se passou na carreira daquele goleiro. Até mais coisas ruins do que boas. Mas ele conseguiu se manter no radar da seleção. E as circunstâncias provavelmente farão de Tim Krul o camisa 1 neerlandês na Euro.

A carreira adulta de Krul, aliás, nem começou nos Países Baixos. O goleiro de 1,93m até começou nas categorias de base do ADO Den Haag, após se iniciar no futebol num clube amador, o HVV Ras (sem contar experiências no handebol, na juventude). Entretanto, já em 2005, ao disputar a Euro sub-17, Krul chamou a atenção do Newcastle. Bastou: antes mesmo de chegar perto do grupo principal do Den Haag, o jovem de 17 anos foi contratado pelo clube inglês, em julho daquele 2005. Outra prova do quão promissor Krul era foi ser titular na boa campanha da Holanda no Mundial sub-17, terceira colocada no torneio jogado no Peru.

Enfim incluído no grupo principal do Newcastle, a partir de 2006, Krul foi ganhando experiência aqui e ali. Chegou até a jogar uma partida da Copa da UEFA 2006/07 (contra o Palermo italiano - vitória dos Magpies fora de casa, 1 a 0), mas começou a ser emprestado a vários clubes britânicos, como o Falkirk escocês e o Carlisle United inglês, para seguir ganhando ritmo. Nas seleções de base holandesas, o goleiro foi incluído na equipe sub-21 campeã europeia em 2007 - ainda reserva de Boy Waterman, já era um nome para o futuro.

Krul já estava no Newcastle desde as categorias de base. Quando teve a chance no time de cima, não largou mais (Alex Lifesey/Getty Images)

Enfim, a hora de Krul aparecer para valer no Newcastle chegou na temporada 2009/10: durante um jogo contra o West Bromwich Albion, o titular Steve Harper se machucou, o holandês entrou... e deixou boa impressão. Bastou: a partir de 2010/11, ele assumiu o posto titular entre as traves do clube de St. James' Park. Não o largaria nos cinco anos seguintes. E as atuações seguras no Newcastle, mostrando reflexos e porte físico respeitáveis para um goleiro, valeram para que chegassem, enfim, as chances na seleção holandesa. Nem tanto na sub-21: nas eliminatórias da Euro da categoria em 2011, uma falha de Krul acabou sendo decisiva para que a Holanda fosse eliminada pela Ucrânia na repescagem das eliminatórias, ficando de fora (3 a 1 na ida, 2 a 0 na volta). Mas a ascensão vivida pelo guarda-metas na Laranja principal compensou tudo: como escrito acima, Krul estreou na "miniturnê" sul-americana neerlandesa em 2011, justamente no amistoso contra o Brasil - ainda jogaria contra o Uruguai. Deixou boa impressão. Que já serviu para que ele fosse um dos três goleiros holandeses na Euro 2012 - mais como uma aposta para o futuro, abaixo do então titular Stekelenburg e de Michel Vorm na hierarquia.

Houve o vexame holandês naquela Euro, chegou Louis van Gaal para treinar a Oranje, e Krul perdeu um pouco de espaço: entre 2012 e 2013, só três jogos pela seleção. Ainda assim, o goleiro seguiu se destacando no Newcastle, então presença certa na Premier League. Por isso, continuou no radar das convocações de Van Gaal. E na roda-viva de camisas 1 que a Laranja viveu até a Copa de 2014, Krul acabou sendo um dos felizardos convocados para o Mundial no Brasil. A princípio, ficaria no banco de reservas, sem poder desafiar o titular Jasper Cillessen. A princípio... Porque, antes das quartas de final da Copa, contra a Costa Rica, Van Gaal e Frans Hoek, o treinador de goleiros daquela comissão técnica, informaram Krul: caso aquela partida fosse para os pênaltis, ele seria o escolhido para tentar pegar as cobranças. Só os três sabiam daquilo, e Krul achou que não seria necessário. 

Krul era reserva na seleção da Holanda. Bastou entrar e ser decisivo nas quartas de final da Copa de 2014 para impressionar muita gente (Jamie McDonald/Getty Images)

Pois foi: após 120 minutos, ele protagonizou uma das alterações mais polêmicas da história das Copas, substituindo Cillessen (que saiu irritado, por não saber do combinado). Pelo menos, tudo deu certo para a Holanda: Krul provocou constantemente os batedores costarriquenhos, pegou as cobranças de Bryan Ruiz e Michael Umaña, a Laranja foi às semifinais, e seu nome ficou marcado. A ponto de torná-lo, para muitos, um goleiro bem melhor do que Cillessen, algo que não era tão verdadeiro assim. Tanto que muitos estranharam o fato dele não ter entrado para outra decisão por pênaltis, contra a Argentina, nas semifinais - Van Gaal preferiu gastar a terceira alteração tirando o cansado Robin van Persie e colocando Klaas-Jan Huntelaar. O caminho parecia aberto para Krul ser titular da Laranja, mais cedo ou mais tarde. Até porque, no Newcastle, sua posição era absoluta.

Tudo isso mudou em 2015, num lance de azar. Por sinal, justamente pela seleção holandesa: em 10 de outubro, na penúltima rodada das eliminatórias da Euro 2016, Krul teve uma chance contra o Cazaquistão, por lesão de Cillessen no aquecimento. Pois nos minutos finais da vitória da Laranja (3 a 1), o goleiro subiu para pegar um cruzamento, caiu mal no chão e torceu o joelho. Teve de ser substituído nos acréscimos. E o diagnóstico foi cruel: rompimento do ligamento cruzado anterior. Era fim de temporada. Ali seu espaço se diminuiria. No clube e na seleção.

Enquanto Krul se recuperava da lesão, o irlandês Rob Elliot já tomara a vaga de titular no Newcastle. Na seleção, Cillessen seguia como a escolha primordial, e Jeroen Zoet tomara dele a posição de reserva imediato. Krul teria de recomeçar. Teria uma excelente chance para isso: no meio de 2016, já de volta aos treinos mas sem espaço no Newcastle, foi emprestado pelo clube inglês ao Ajax, para substituir justamente... Cillessen, a caminho do Barcelona. Tão logo terminasse a recuperação, poderia ser o titular Ajacied. Aí o destino atrapalhou novamente Krul: entre a saída de Cillessen e sua chegada, o técnico Peter Bosz decidiu dar chances a um jovem camaronês, André Onana. Pois Onana se encaixou tão bem na equipe de Amsterdã que relegou Krul à reserva. Jogar só no time B do Ajax não era bem o que pretendia com o empréstimo. Assim, logo em janeiro de 2017, o goleiro foi emprestado de novo, para outro clube holandês: o AZ.

Após a grave lesão no joelho que atrapalhou sua carreira, Krul recuperou algum ritmo de jogo no empréstimo ao AZ (Dean Mouhtaropoulos/Getty Images)

Ali, sim, Krul teve algum espaço: foi o titular da equipe de Alkmaar durante toda a metade final da temporada 2016/17. E até agradou. Ainda assim, o AZ não tinha condições de adquiri-lo em definitivo. O arqueiro voltou ao Newcastle, onde não seria utilizado. A solução foi deixar o clube inglês, após onze anos por lá: o Brighton foi seu destino, em busca do tempo perdido em campo. Porém, nem no clube das gaivotas sua situação melhorou: na disputa de posição, quem venceu foi o australiano Mat Ryan, e Krul só fez cinco partidas na temporada 2017/18. Seu lugar também não era no Brighton: após uma temporada, ele deixou o clube, rumo ao Norwich City, da segunda divisão. A seleção holandesa, toda a badalação de 2014, tudo isso parecia passado: o último jogo de Krul na Laranja tinha sido o da lesão, em 2015.

Mas no Norwich City, enfim, a reação que o goleiro buscava ganhou o embalo. De certa forma, simbolizou o crescimento dos Canários: foi titular absoluto na campanha do acesso à Premier League, em 2018/19. Seguiu titular na participação do Norwich City na Premier League, em 2019/20. Mesmo encerrada com rebaixamento, Krul demonstrara de volta a agilidade, os reflexos, a imposição no gol. Paralelamente, na seleção, Jeroen Zoet (reserva de Cillessen até então) vivia má fase, antes mesmo da pandemia. Bastou para que Frank de Boer assumisse a Laranja dando a Krul o retorno tão esperado: na sua primeira convocação, Krul era um dos chamados. E já retornou jogando: após cinco anos, reestreou pela seleção, na derrota para o México, num amistoso em outubro passado.

Só a chegada ao Norwich City fez Krul recuperar o ritmo de antigamente (Julian Finney/Getty Images)

De lá para cá, Krul seguiu com ritmo de jogo no Norwich City. Pela seleção, as várias lesões de Cillessen lhe abriram oportunidades inesperadas: jogou contra Bósnia e Polônia, nas últimas rodadas da Liga das Nações, em 2020. Nas eliminatórias da Copa de 2022, outro problema muscular do titular abriu caminho para que ele defendesse o gol neerlandês nas três primeiras partidas da campanha. Krul foi criticado por falhas na derrota para a Turquia, é verdade. Mas compensou nos clubes, sendo um dos nomes certos na escalação do Norwich City novamente promovido à Premier League.

Nem adiantaria muito: a princípio, Jasper Cillessen seria o titular da Holanda na Euro. No entanto, havia um teste positivo para o coronavírus no meio do caminho. Com o corte de Cillessen, Krul entrou na mira. Pelo menos, parece recuperar o momento bom que viveu antes da Copa de 2014. E se for necessário, deixou claro, com suas atuações em campo: tem firmeza e experiência para assumir o posto debaixo das traves. A firmeza, já tinha. A experiência veio com os traumas de 2014 até aqui.

(Pablo Morano/BSR Agency/Getty Images)


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