Antes a repescagem era pela Liga Europa. Agora, quatro clubes da Holanda (Países Baixos) disputarão lugar na primeira edição da Liga de Conferências (UEFA) |
Até duas temporadas atrás, a repescagem após as 34 rodadas regulares do Campeonato Holandês era por uma vaga na segunda fase preliminar da Liga Europa (quem a ganhou foi o Utrecht, em cima do Vitesse). Seria assim em 2019/20... mas a eclosão da pandemia de COVID-19 não deixou. Agora que, pelo menos, a Eredivisie pôde terminar normalmente, quando os play-offs voltam, é pela segunda vaga preliminar, mas no novo torneio de clubes da UEFA: a Liga de Conferências, a Conference League, que terá sua primeira edição em 2021/22.
Em parte, a repescagem trará o esperado. Além do formato conhecido - quatro clubes, divididos em duas chaves de dois, em eliminação simples -, dois dos times que disputarão o lugar na Conference League são clubes habituados ao chamado "sub-topo", ou seja, à própria repescagem, vez por outra. No entanto, o aperto do calendário forçado pela pandemia transformou o "mata-mata" em "mata-morre": um jogo único na primeira fase, e os vencedores também jogarão pelo espaço na Conference em 90 minutos. Além do mais, um dos jogos trará um clube que já não disputa torneios europeus há muito tempo. E que nunca viu oportunidade tão grande para conseguir surpreender.
Feyenoord x Sparta Rotterdam (quarta-feira, 16h de Brasília)
Torcida desconfiada (no mínimo), atuações apáticas, clima de despedida generalizado: cabe a nomes como Berghuis darem um fim mais honroso à temporada do Feyenoord (Pro Shots)
Feyenoord (5º colocado na temporada regular)
Mesmo já tendo um time mais frágil do que Ajax ou PSV ou mesmo AZ, o Feyenoord pelo menos ostentava nível técnico suficiente para assegurar a vaga direta em torneios continentais. Em 2020/21, não deu. A inconstância dentro de campo (o time tanto podia fazer 3 a 1 no PSV quanto tomar 3 a 2 do AZ, tudo isso em pleno De Kuip), as atuações apáticas em muitos jogos, a excessiva dependência de Steven Berghuis e Jens Toornstra: tudo isso condenou o Feyenoord à repescagem. De quebra, o time vem de uma reta final melancólica na Eredivisie: só uma vitória nos últimos cinco jogos.
Além do mais, esta repescagem deve marcar a despedida de muitos jogadores do Stadionclub - por exemplo, o goleiro Nick Marsman e o zagueiro Eric Botteghin. Falando em despedidas, Dick Advocaat faz suas últimas partidas como treinador, no banco de reservas: talvez, os últimos jogos de sua carreira. O clima de abatimento também é aumentado por um fator independente do futebol: se o Feyenoord for à decisão da vaga, o jogo final não seria em De Kuip (afinal, Roterdã já sediará a final do Eurovision, conhecido festival europeu de música). Pelo menos, haverá torcida nesta quarta-feira. E pelo menos, o clube vem de vitória na última rodada: 3 a 0 no RKC Waalwijk. Com Berghuis se destacando, naturalmente. Será suficiente para evitar o pessimismo?
O Sparta Rotterdam mostrou firmeza e contou com destaques como Smeets (10) e Thy (no meio) para voltar a sonhar em disputar uma competição europeia (Pro Shots) |
Sparta Rotterdam (8º colocado na temporada regular)
Na última rodada da Eredivisie, eram três clubes disputando a última vaga nos play-offs. O Sparta Rotterdam foi o único deles a vencer, com 2 a 1 no Heerenveen fora de casa. Teve como prêmio a manutenção do sonho de voltar a disputar um torneio europeu, após 36 anos (a última aparição foi na Copa da UEFA, em 1985/86). Prêmio justo, para um time que apresentou, acima de tudo, competência para se estabilizar no meio da tabela, primeiro, e subir nas últimas rodadas - foram cinco vitórias nas seis partidas derradeiras da temporada regular.
Tudo isso se deveu à firmeza dos Spartanen. Em primeiro lugar, pelo próprio estilo tático do técnico Henk Fräser: primeiro se cuida da defesa, para depois tentar o ataque. Depois, em todos esses setores, nomes de destaque. O teuto-nigeriano Maduka Okoye se tornou goleiro titular no decorrer da temporada, e se converteu num dos bons goleiros do campeonato; Abdou Harroui é volante tão promissor que é titular da seleção sub-21 da Holanda; e o alemão Lennart Thy ficou responsável pelos gols (com Bryan Smeets como bom coadjuvante). Bastou para alcançar algo que o clube do bairro de Spangen não alcançava havia muito tempo. Diante da má impressão deixada pelo rival citadino Feyenoord na reta final, quem sabe a surpresa não seja ainda mais agradável no tradicional estádio Het Kasteel.
Utrecht x Groningen (quarta-feira, 13h45 de Brasília)
Van de Streek foi um dos catalisadores da reação do Utrecht no returno - que pode ser coroada agora (Pro Shots)
Utrecht (6º colocado na temporada regular)
Na primeira metade da temporada, os Utregs foram considerados a decepção do campeonato para muitos (este blog, incluso). Um time que parecia lento, previsível, sem a ofensividade que o tornou um dos mais agradáveis de serem vistos nos últimos anos, dentro do Campeonato Holandês - e que o fazia candidato a estar na repescagem quando as 34 rodadas terminassem. O 10º lugar ao final de 2020, já sob o novo técnico René Hake, parecia uma posição que só seria superada caso o estilo antigo voltasse. Pois bem: voltou. O returno mostrou o Utrecht reconhecidamente agradável.
Nos contra-ataques, sempre puxados pela velocidade de Gyrano Kerk, um álibi que rendeu resultados como o 6 a 0 no Willem II, simplesmente a maior vitória fora de casa da história do clube na Eredivisie. Além de Kerk, já um símbolo do time nas temporadas recentes, Sander van de Streek cresceu bastante, se alternando entre o meio-campo e o ataque. Também ficou notável a reação de Adam Maher, enfim vivendo boa fase na carreira, sendo um meio-campista de bons lançamentos. Tal reação foi exemplificada num simples jogo: na partida atrasada da 22ª rodada, já na reta final da liga, em abril, o Utrecht foi o único time a render um tropeço ao campeão Ajax - 1 a 1, em plena Johan Cruyff Arena.
O Groningen fez temporada regular, é um time confiável, tem bons nomes... mas Robben se recuperou durante boa parte da temporada para brilhar exatamente agora (Pro Shots) |
Groningen (7º colocado na temporada regular)
Certo, durante boa parte da temporada o clube alviverde do norte holandês mostrou regularidade elogiável. Teve técnica em Mohamed El Hankouri e Ahmed El Messaoudi, teve velocidade em Gabriel Gudmundsson, teve experiência em Sergio Padt - goleiro que se despede, em seus últimos jogos antes de ir para o Ludogorets-BUL. Os Groningers ainda podem se orgulhar de serem um dos únicos times a terem vencido o campeão Ajax, ainda no turno (1 a 0).
Mas era claro: quem todos esperavam ainda não estava em campo. Arjen Robben passou boa parte da temporada se recuperando de problemas musculares. Começou a voltar na reta final - e já na antepenúltima rodada, brilhou, com dois passes para gol na goleada sobre o Emmen (4 a 0) em seu primeiro jogo começando como titular. Voltou ao banco contra o AZ, na penúltima rodada, e sequer entrou em campo na derrota para o Zwolle, no último jogo da liga. Exatamente para este momento: o Groningen já sabia que disputaria a repescagem. Precisaria de Robben em ótimas condições. E o técnico Danny Buijs já sinalizou: "Ele começará como titular. E só sai de campo se estiver 5 a 0 para nós, aos 45 do 2º tempo". Se o atacante tem uma chance para mostrar que valeu a pena voltar, é a hora.
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