quarta-feira, 26 de maio de 2021

Os 26 holandeses na Euro: Klaassen

 
Klaassen ficou um bom tempo longe da seleção. Bastou voltar ao Ajax, seu ninho futebolístico, para se reanimar, reaparecer na Laranja - e ir à Euro (Pro Shots/onsoranje.nl)

Ficha técnica
Nome: Davy Klaassen
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 21 de fevereiro de 1993, em Hilversum 
Clubes na carreira: Ajax (2011 a 2017 e desde 2020), Everton-ING (2017 a 2018) e Werder Bremen-ALE (2018 a 2020)
Desempenho na seleção: 22 jogos e 5 gols, desde 2014
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2020/21)

Quando surgiu no Ajax, Davy Klaassen prometia ser um meio-campista de muita utilidade para a seleção, principalmente no aspecto ofensivo. Inclusive, quando deixou Amsterdã rumo a passagens por centros mais visíveis do futebol europeu, parecia estar destinado ao destaque. O destino trouxe problemas que dificultaram as coisas para Klaassen. Eis que, de volta ao Ajax, ele voltou à boa fase. A ponto de chegar a esta Euro com grandes chances de começar o torneio como titular. Mais um caso, nesta seleção da Holanda, em que ninguém diria tal coisa há cerca de um ano.

O caminho de Klaassen foi semelhante ao de seus colegas de seleção - em especial, dos que começaram no Ajax. Na infância, passagens por equipes amadoras, só para bater bola recreativamente - em seu caso, foram o HVV De Zebra's e o HSV Wasmeer. Até o Ajax querer trazer o garoto para suas afamadas categorias de base, dando-lhe toda a formação futebolística. Foi o que aconteceu com o nativo de Hilversum, em 2003. No clube de Amsterdã, Klaassen passaria toda a adolescência.

Quando ela chegava ao final, também começaram a chegar as chances de Klaassen nas seleções neerlandesas de base: sub-16 entre 2008 e 2009, sub-17 entre 2009 e 2010, sub-19 entre 2010 e 2011... e neste 2011, já no segundo semestre, o meio-campista começou a se destacar. Primeiro, no time sub-19 do Ajax, finalista da Liga Jovem da UEFA na temporada 2011/12. Depois, já promovido para o grupo principal Ajacied, teve seu primeiro jogo pelo time de cima num torneio europeu - no caso, a Liga dos Campeões, vindo para os últimos cinco minutos dos 0 a 0 contra o Lyon, na fase de grupos, em 22 de novembro. Cinco dias depois, pela 14ª rodada do Campeonato Holandês daquela temporada 2011/12, contra o NEC, Klaassen também veio do banco, aos 36 minutos do segundo tempo... e demorou apenas 42 segundos para marcar seu primeiro gol pelo Ajax, na vitória por 3 a 0, fora de casa.

Já foi o suficiente não só para o jovem meio-campista que surgia renovar seu contrato com o Ajax até 2016, mas também para ter sua primeira chance como titular, no 1 a 0 sobre o RKC Waalwijk, pela 16ª rodada da Eredivisie. Naquele bicampeonato nacional conquistado na temporada 2011/12, foram quatro jogos e um gol. No tri que veio em 2012/13, ainda com Christian Eriksen e Viktor Fischer se destacando no Ajax, Klaassen ficou mais como opção no banco de reservas: só dois jogos no Campeonato Holandês, mais uma fugaz participação na Supercopa da Holanda. 

Klaassen nasceu e cresceu futebolisticamente no Ajax - e a partir da temporada 2013/14, começou a ganhar importância no time de Amsterdã (Paolo Luzani/Getty Images)

Em 2013/14, sim, o ponta-de-lança teve espaço para crescer e virar definitivamente titular no Ajax. Com Eriksen vendido ao Tottenham, Klaassen virou o principal responsável pela criação de jogadas no Ajax. Fazia mais do que isso: costumeiramente chegava ao ataque para finalizar, entrando na área. Com isso, virou um dos símbolos da campanha do tetracampeonato holandês, inédito na história dos Godenzonen: 26 jogos, 10 gols, um dos goleadores do time no torneio. Aparições nas campanhas do Ajax pela Liga dos Campeões e pela Liga Europa também. De quebra, seis jogos e um gol, na campanha do time B do Ajax pela segunda divisão holandesa. Tudo isso, coroado com a primeira aparição pela seleção principal da Holanda: Klaassen veio para os 18 minutos finais num amistoso contra a França, em março de 2014. Ainda foi insuficiente para estar nos trabalhos rumo à Copa do Mundo daquele ano. Mas ele já era nome para o futuro. E isso ficava claro no prêmio de "Revelação do Ano" ganho ao final da temporada 2014/15.

O futuro pareceu ter chegado em 2015. Pela seleção, Klaassen marcou seu primeiro gol, num amistoso contra a Espanha (2 a 0, em março). Pelo Ajax, seguiu predominantemente titular na temporada 2014/15 - e na temporada seguinte, com apenas 22 anos, já virou o capitão Ajacied. Era o centro das jogadas ofensivas, um raro jovem com espírito de liderança num time que conseguia ser ainda mais jovem. Mesmo num período turbulento do clube, vendo o PSV bicampeão holandês e caindo habitualmente já nas fases preliminares da Liga dos Campeões, Klaassen era dos raros nomes com atuações de nível constante e confiável. O momento da seleção holandesa masculina não era muito melhor (era até pior, a bem da verdade), mas o meio-campista ofensivo se estabelecia: nos jogos dos Países Baixos em 2016, Klaassen não só foi titular com mais frequência, como foi nome certo na campanha fracassada pelas eliminatórias da Copa.

A compensação veio na temporada 2016/17. Ainda sem títulos no Ajax, é verdade. Mas na equipe finalista inesperada na Liga Europa da temporada, Klaassen foi um capitão com voz de comando inquestionável na equipe - outros já brilharam mais ofensivamente do que ele, como Hakim Ziyech ou mesmo Kasper Dolberg, mas Klaassen era visto, no jargão da torcida, como um "ras-Ajacied": um nome que conhecia o Ajax como a palma da mão. Além do mais, no vice-campeonato holandês, seguiu mostrando a qualidade nos avanços ao ataque: pela Eredivisie, foram 14 gols (segundo goleador do Ajax na competição) e nove passes para gol. Em suma, aos 24 anos, Klaassen parecia maduro para ser experimentado em centros mais competitivos.

Se ainda começava em 2014, Klaassen já era um líder do Ajax finalista da Liga Europa em 2016/17 (AFP)

A chance chegou no meio de 2017: Klaassen chegou ao Everton, sob indicação de Ronald Koeman, então técnico dos Toffees. Se tudo desse certo, o meio-campista holandês poderia ter se estabilizado, num clube razoável do Campeonato Inglês. Mas... não deu. Já em outubro daquele ano, com os maus resultados do Everton, Ronald Koeman foi demitido. Seu substituto, Sam Allardyce, preferiu um estilo mais resguardado. E Klaassen foi um dos jogadores que mais saíram perdendo no clube azul de Liverpool: somente sete jogos pela Premier League, mais três pela Liga Europa, e pronto. O espaço na seleção holandesa, que estava firme em 2017, foi perdido logo que 2018 começou. Nem mesmo a chegada de Koeman à Laranja fez com que Klaassen retornasse às convocações.

Trocando em miúdos: Klaassen fracassara na Inglaterra, pelas dificuldades surgidas (e pela incapacidade de se adaptar a elas, diga-se de passagem). Precisou dar um passo atrás. Que veio na forma da transferência para o Werder Bremen, em julho de 2018. Se o clube alemão teve em 2018/19 a sua última temporada com desempenho honroso, o holandês teve grande parcela de contribuição nisso: foi titular em 33 dos 34 jogos dos Papagaios, fez 5 gols e deu passes para outros quatro. Números ofensivos menores? Não por falta de qualidade: na Alemanha, Klaassen se tornou um meio-campista mais completo, medindo melhor a quantidade de avanços, aprendendo a iniciar o jogo mais atrás, tornando-se mais um volante com boa saída de bola.

Klaassen deu um passo atrás, indo para um Werder Bremen em dificuldade. Mas lá, deu um passo à frente na carreira, ganhando mais força na marcação (AFP)

Em 2019/20, a importância de Klaassen no Werder Bremen cresceu mais - até pela péssima temporada do clube de Bremen: mesmo com o time precisando jogar a repescagem para se salvar na primeira divisão, já depois da eclosão da pandemia, o neerlandês foi capitão, novamente titular absoluto, e até marcou mais gols (7). Era suficiente para começava a ter seu nome novamente lembrado em termos de seleção. Mas faltava estar num clube menos turbulento do que o Werder Bremen estava.

Em agosto de 2020, apareceu a melhor chance possível para Klaassen restabelecer a carreira: uma volta ao Ajax. Se ainda fosse o Ajax que ele deixara em 2017, não seria o caso - à revista "Voetbal International", Klaassen comentava a falta de estímulo que sentia ao jogar pelo Ajax, no Campeonato Holandês, contra rivais pouco competitivos, com um time jovem, que mal resistia em campeonatos mais difíceis. Três anos depois, os Amsterdammers estavam reabilitados - principalmente por obra e graça da campanha na Liga dos Campeões 2018/19. Precisavam de um líder - e de um meio-campista ofensivo de qualidade, após as saídas de Hakim Ziyech e Donny van de Beek. Com o novo estímulo, com o Ajax revalorizado, Klaassen aceitou voltar.

De volta ao Ajax, mais completo, Klaassen foi destaque na boa temporada do clube de Amsterdã (ANP)

Foi a melhor decisão possível para ele. Se começou a temporada 2020/21 ainda mais resguardado, como um volante que iniciava o jogo, a lesão de Mohammed Kudus o "forçou" a retomar o estilo ofensivo com que ganhara espaço no começo da carreira. Deu tão certo que, em termos de seleção, chamou a atenção de um velho conhecido: agora técnico da Holanda, Frank de Boer (o mesmo que abrira espaço para Klaassen no Ajax) lhe deu a chance do retorno à Oranje, três anos depois, em novembro de 2020, na última rodada da fase de grupos pela Liga das Nações.

2020 acabou, 2021 começou, e Klaassen se fortaleceu. No título holandês do Ajax, voltou a mostrar o lado goleador: 12 gols em 29 jogos (fora três passes para gol). Bastou para chegar à seleção e tomar a vaga de Marten de Roon entre os titulares, com Frank de Boer desejando um time mais ofensivo - ainda que mais frágil defensivamente. Nas rodadas iniciais das eliminatórias da Copa de 2022, Klaassen foi um dos únicos a escapar com elogios da derrota para a Turquia, na estreia, com um belo gol. Também foi titular contra Letônia e Gibraltar, as partidas seguintes. E chega embalado à Euro, para comprovar a reação iniciada tão logo retornou ao velho ninho em Amsterdã. Foi um passo para trás - para dar dois à frente.

(Pro Shots)


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