Veltman pode até ser questionado. Pode até merecer esse questionamento por algumas falhas. Bem ou mal, está na Euro - seu segundo grande torneio pela Holanda (Pro Shots/onsoranje.nl) |
Ficha técnica
Nome: Joël Veltman
Posição: Lateral direito/zagueiro
Data e local de nascimento: 15 de janeiro de 1992, em Ijmuiden
Clubes na carreira: Ajax (2012 a 2020) e Brighton-ING (desde 2020)
Desempenho na seleção: 27 jogos e 2 gols, desde 2013
Torneios pela seleção: Copa do Mundo (2014 - 2 jogos, nenhum gol) e Liga das Nações (2020/21)
De todos os convocados da seleção holandesa rumo à Euro, talvez Joël Veltman seja dos mais contestados. Em primeiro lugar, sequer é titular. Em segundo lugar, mesmo com tanto tempo de Ajax, sempre atraiu desconfianças da torcida, por alguns erros - em momentos decisivos, inclusive. Ainda assim, Veltman já está há alguns anos no radar da seleção holandesa. Na maioria das vezes, esteve no banco, mas é dos únicos que também já tem Copa do Mundo no currículo pela Laranja. Por isso, Frank de Boer preferiu optar por sua experiência, levando-o ao torneio continental.
Veltman é mais um dos oriundos do Ajax que são conhecidos nos Países Baixos como "ras-Ajacieden" - ou seja, aqueles jogadores que foram da infância à idade adulta no clube de Amsterdã, que o conhecem como a palma da mão. Chegou à famosa "De Toekomst", a escola de formação do Ajax, em 2001, vindo do VV Ijmuiden, da homônima cidade natal. E lá ficou ganhando experiência - principalmente, jogando na zaga.
Em 2009, Veltman ficou mais perto da carreira principal: não só foi promovido ao time de juniores do Ajax, mas também teve sua primeira convocação para uma seleção de base da Holanda - no caso, a sub-17, pela qual jogou a Euro da categoria, na qual a Laranja foi vice-campeã. O desenvolvimento dentro do Ajax foi retardado por uma grave lesão no ligamento cruzado do joelho, mas Veltman conseguiu se recompor. Em 2011/12, fez parte da campanha do vice-campeonato do Ajax na NextGen Series, a "Liga dos Campeões" das equipes sub-20. Já foi relacionado para os jogos do time principal Ajacied naquela temporada, mesmo sem entrar em campo. E finalmente, na temporada 2012/13 do Campeonato Holandês, Veltman já atuou em sete jogos da campanha que levou o Ajax ao tricampeonato.
E tão logo Toby Alderweireld, então titular da zaga do Ajax, partiu rumo ao Atlético de Madrid, Veltman foi ocupar a lacuna, ao lado do finlandês Niklas Moisander. Embora ainda fosse parte do time B (fez três jogos, com um gol), o novato já foi nome frequente no Ajax consagrado tetracampeão holandês: foram 25 jogos, com dois gols marcados - um deles, confirmando a vitória num Klassieker contra o Feyenoord. Mas esta lembrança boa foi contrabalançada por um mau feito contra o Barcelona, na Liga dos Campeões, pela fase de grupos: colocou o time em maus lençóis ao cometer um pênalti, ser expulso e permitir o empate do time espanhol, antes do Ajax vencer por 2 a 1.
Sim, Veltman esteve na Copa de 2014 - e em partidas importantes: a goleada contra a Espanha e a semifinal contra a Argentina (Amin Mohammad Jamali/Getty Images) |
Ainda assim, a impressão geral que Veltman deixara era positiva. Principalmente para um nome importante: Louis van Gaal, técnico da seleção holandesa à época. Que deu ao zagueiro a primeira chance na Laranja, ainda em 2013, num amistoso contra a Colômbia, em novembro. E que, em meio a várias apostas, o incluiu na lista dos 23 convocados para a Copa de 2014. Já era um grande feito para um novato de 22 anos. Ficou ainda mais notável porque Veltman teve duas aparições, em dois jogos marcantes da campanha do terceiro lugar neerlandês na Copa: veio para os últimos 13 minutos dos 5 a 1 contra a Espanha, na estreia, e atuou nos acréscimos da decisão do terceiro lugar, contra o Brasil.
Ao longo da temporada 2014/15, Veltman foi perdendo espaço na seleção holandesa - só faria um jogo nela, em 2015, num amistoso contra o País de Gales. E mesmo no Ajax, a torcida começou a se acostumar com a inconstância: o zagueiro podia colaborar nos momentos bons, mas nos ruins, suas falhas começaram a ser apelidadas pejorativamente como "Veltmannetjes" (tradução popular, algo como "Veltmanadas"). Um desses maus momentos foi na Liga dos Campeões daquele 2014/15: de novo na fase de grupos, de novo contra o Barcelona, de novo Veltman foi expulso - mas daquela vez, o Barcelona venceu, por 2 a 0. Mas, bem ou mal, sua ajuda nos ataques do Ajax era saudável: foram quatro gols no Campeonato Holandês. Em 2015/16, atuou em todas as partidas do clube na Eredivisie.
E dali por diante, uma mudança tática começou a reabilitar Veltman no clube: uma lesão no titular Kenny Tete causou seu deslocamento para a lateral direita. Ali, sim, o jogador se fortaleceu na carreira. Deixou de ser tão visado pela torcida, ofereceu utilidade nos avanços, foi um dos raros nomes de maior experiência no jovem time que alcançou a final da Liga Europa, na temporada 2016/17. Até mesmo na seleção Veltman recuperou seu espaço: ainda que mais em amistosos, ocupou frequentemente a lateral direita - e até deu vazão a um lado goleador: fez dois gols, seus únicos pela Laranja até agora, num amistoso contra a Costa do Marfim, em junho de 2017. De quebra, com a saída de Davy Klaassen para o Everton, ele se tornara o capitão do Ajax.
A boa fase foi interrompida por uma grave lesão: como ocorrera na juventude, um rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho direito, em abril de 2018 (contra o VVV-Venlo, na antepenúltima rodada do Campeonato Holandês), tirou Veltman dos campos. Quando voltou, contra o Flamengo, na Florida Cup, em janeiro de 2019, o jovem Matthijs de Ligt já recebera a braçadeira de capitão. Na lateral direita, Noussair Mazraoui era mais um a tomar o espaço. Mas Veltman logo se tornou jogador importante de novo: na empolgante reta final do Ajax naquela temporada 2018/19, com a campanha de semifinalista da Liga dos Campeões e o título holandês, o lateral direito recebeu a preferência sobre Mazraoui, sendo titular em boa parte dos jogos marcantes do Ajax naquela época - o 2 a 1 sobre a Juventus, em Turim, que levou o time de Amsterdã às semifinais da Champions, foi o exemplo maior.
As lesões atrapalharam Veltman - e também interferiram na mudança de seu posicionamento em campo (ANP Pro Shots) |
Veio a temporada 2019/20, De Ligt deixou o Ajax, e Veltman voltou a ser escalado preferencialmente como zagueiro, após muito tempo. Como lateral, conseguiu até boa sequência na seleção, participando de três jogos nas eliminatórias da Euro, ainda em 2019. Porém, o final do ano trouxe uma falha que começou a sinalizar o fim do caminho no Ajax que tanto conhecia: Veltman foi o único a dar condição para Rodrigo Moreno fazer o gol do Valencia, em plena Johan Cruyff Arena, no 1 a 0 que eliminou os Ajacieden na fase de grupos da Liga dos Campeões 2019/20, de modo até surpreendente.
No Brighton, se está num clube em posição ruim na Premier League, pelo menos Veltman joga com menos pressão do que nos tempos de Ajax (brightonandhovealbion.com) |
A desconfiança da torcida voltou a níveis altos, só amainados quando a pandemia se impôs como assunto importante. E Veltman aproveitou a pausa forçada - e a pressão em que vivia - para buscar novos ares: após 19 anos de Ajax (oito só no grupo principal), tomou o caminho do Brighton, na metade do ano passado. No clube inglês, não só se estabeleceu como titular, como ofereceu alguma ajuda ofensiva no time das gaivotas: em 28 jogos pelo Campeonato Inglês, fez um gol e deu passe para outro. O desempenho no Brighton bastou, pelo menos, para que Veltman fosse lembrado por um velho conhecido: Frank de Boer, que lhe dera a primeira chance no Ajax, e que, recém-chegado à seleção holandesa, fez de Veltman o titular da lateral direita holandesa, enquanto Denzel Dumfries se recuperava da COVID-19.
Frank de Boer ainda testou Kenny Tete na direita, nos primeiros jogos dos Países Baixos em 2021. Mas a experiência de Veltman pesou. Ele está de volta, e está na Euro. Mais um sinal de que os pontos positivos do lateral/zagueiro ofuscam os negativos, no fim das contas...
(Laurens Lindhout/Soccrates/Getty Images) |
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