Há nomes mais experientes, há nomes com certas qualidades que ela não mostra. Mas nenhum nome da seleção da Holanda atrai tantas expectativas para a Copa feminina quanto Lieke Martens (onsoranje.nl) |
Há a velocidade de Shanice van de Sanden. A capacidade de finalização de Vivianne Miedema. No meio-campo, a experiência de Sherida Spitse, o esforço de Jackie Groenen, a capacidade de criação de Daniëlle van de Donk. Na defesa, a firmeza de Stefanie van der Gragt. Entretanto, se há um destaque supremo da seleção da Holanda na Copa do Mundo feminina, é esta da foto acima. Uma atacante que une qualidades na armação das jogadas, quando volta ao meio-campo para pegar a bola. Que também sabe ser veloz, quando é necessário. Que mostra grandes qualidades na finalização, principalmente nos chutes colocados. E que, por tudo isso, é a grande candidata holandesa a brilhar na Copa: Lieke Martens.
Dá para dizer que Lieke nem demorou muito para se revelar capaz de chegar a grandes alturas na carreira. Começando no RKVV Montagnards (clube de Bergen, sua cidade natal), aos cinco anos de idade, a jogadora foi subindo pelos times infantis do clube. Até que, aos treze anos, Martens foi convidada para jogar num combinado regional selecionado pela federação holandesa na província de Limburg, onde fica Bergen. Com as atuações por aquele time, a criança encontrou espaço num clube amador maior: o Olympia '18, da cidade de Boxmeer - que trouxe Martens por conselho de alguém muito importante: Vera Pauw, técnica da seleção feminina adulta.
A partir de então, Lieke já merecia mais atenção. Algo confirmado em 2008, quando passou a fazer parte do projeto mantido pela federação em parceria com a HvA, universidade de Amsterdã, para descobrir talentos da Holanda no futebol feminino. Finalmente, a carreira profissional da atacante começou em 2009, quando ela foi contratada pelo Heerenveen. No clube da Frísia, o desempenho foi ruim: apenas dois gols em 18 jogos. Mas Martens usou suas atuações na seleção sub-19 da Holanda para provar o talento: na Euro Sub-19 realizada em 2010, ela foi titular na campanha das Leoas. Campanha ótima: a Holanda só parou nas semifinais, eliminada pela Inglaterra, nos pênaltis. Para a jovem, ficou melhor ainda: ela foi artilheira daquela Euro, com 4 gols, junto da alemã Turid Knaak. Naquela seleção sub-19, Martens acharia várias colegas que seguem com ela na seleção adulta atual: Merel van Dongen, Stefanie van der Gragt e Ellen Jansen, por exemplo.
Mas em clubes, dentro da Holanda, sua carreira começava de modo inconstante. De volta da Euro Sub-19, Martens se transferiu para o VVV-Venlo. Teve números razoáveis: no Campeonato Holandês da temporada 2010/11, marcou 9 gols em 20 jogos pelos Venlonaren. Mas só desabrochou a partir de 2011: nesse ano, a atacante se transferiu para o time feminino do Standard Liège, da Bélgica. No Standard Fémina, a holandesa já chegou conquistando a Supercopa feminina do país, com direito a dois gols na decisão desta Supercopa. Mais do que isso: jogando bem pelos Rouches, recebeu a primeira convocação para a seleção da Holanda, estreando num amistoso contra a China (22 de agosto, empate por 1 a 1).
Bastou para que a atacante ganhasse a chance num grande centro europeu do futebol feminino: foi contratada pelo FCR Duisburg, da Alemanha, em janeiro de 2012. Concluiu a temporada pelo Standard com ótimas marcas (25 jogos, 17 gols), e estreou pelo clube alemão a partir de julho. Na seleção, àquela altura, já marcara alguns gols - o primeiro em fevereiro, na vitória sobre a Itália, pela amistosa Copa do Chipre. Mais importante: Martens se consolidava na ponta esquerda, mostrando bom domínio de bola. Por isso, mesmo com o mau começo pelo FCR Duisburg (5 jogos e 20 gols, em 2012/13), já foi convocada pelo técnico Roger Reijners para a seleção feminina que disputou a Euro 2013. A campanha foi ruim: queda na fase de grupos. Mas já era uma experiência valiosa.
E assim Martens seguiu. Mediana para baixo no FCR Duisburg: só dois gols, em dez jogos no Campeonato Alemão da temporada 2013/14. E mesmo assim, titular absoluta da seleção da Holanda. Por isso, outro país tradicional do futebol feminino abriu espaço para ela: a Suécia, por meio do Kopparbergs/Götebörg, que contratou Martens para a temporada 2014/15. O desempenho de Lieke já melhorou um pouco: foram sete gols, em 19 jogos pela liga sueca. Mas na seleção, ela explodiu a partir de 2014: foram outros sete gols, nas Eliminatórias da Copa de 2015 - com destaque para dois, marcados contra a Escócia, na repescagem da qualificação. A Holanda alcançou a vaga na primeira Copa feminina de sua história. E nela, Martens brilhou mais: foi titular nas quatro partidas das Leoas Laranjas, e marcou o primeiro gol holandês num Mundial de mulheres, definindo com um chute colocado a vitória por 1 a 0 sobre a Nova Zelândia, em 6 de junho de 2015, na cidade canadense de Edmonton.
Martens chuta para fazer história contra a Nova Zelândia, na Copa feminina de 2015: o primeiro gol da Holanda num Mundial (Maddie Meyer/FIFA/Getty Images) |
Martens voltou do Canadá como um dos destaques da nova geração da Holanda que dominaria a seleção dali por diante. O ex-jogador Stefan Rehn, seu treinador no Kopparbergs/Götebörg, comparava sua capacidade de finalização à da compatriota Manon Melis, companheira de Martens na Copa. E após a liga sueca de 2015, com 5 gols em 18 jogos, Lieke mudou de clube: o Rosengard foi seu destino, já a partir de novembro. Enfim, a evolução notável na seleção se mostrou também em clubes: Martens fez 12 gols em 18 jogos, no Campeonato Sueco da temporada de 2016. Participou das vitoriosas campanhas do Rosengard na Copa da Suécia e na Supercopa da Suécia. Em 2017, seus números foram ainda melhores: 8 gols em 11 partidas pela Damallsvenskan. Enfim, a atacante chegava trazendo muita expectativa sobre seu desempenho na Euro feminina. Ainda mais porque a Holanda era o país-sede da Euro. E porque, antes mesmo do torneio continental, ela acertou a transferência para o Barcelona.
Pois mesmo a expectativa mais alta foi superada por Martens. Desde a estreia, a atacante dava um toque valioso de habilidade ao ataque da Holanda. Fez gol importantíssimo na vitória por 2 a 1 sobre a Bélgica, no jogo final da fase de grupos. Abriu o placar no triunfo sobre a Suécia, por 2 a 0, nas quartas de final. E deixou sua marca na final consagradora contra a Dinamarca, que rendeu o título às Leoas Laranjas. Mais do que isso: Lieke foi símbolo de ofensividade, de criatividade, de perigo ofensivo. Por isso, tão logo a Euro acabou, foi dela o prêmio de melhor jogadora do torneio. Mais do que isso: foi dela o prêmio de melhor jogadora do mundo, segundo a FIFA, em 2017.
Mais do que o título da Euro feminina, os títulos de melhor do torneio e de melhor do mundo para a FIFA impulsionaram Martens como craque a partir de 2017 (Pro Shots) |
Àquela altura, Martens já era titularíssima do Barcelona. Teve números razoáveis no Campeonato Espanhol feminino: foram 11 gols em 30 partidas. Se ficou faltando o título na Primera División Femenina (o Barcelona foi vice-campeão), veio a conquista da Copa de la Reina, a copa feminina da Espanha, em 2018. Finalmente, neste 2019, veio o vice-campeonato na Liga dos Campeões feminina. Na seleção, com habilidade e até experiência, Lieke se consolidou como o vértice mais notável do trio de ataque com Miedema e Van de Sanden: foram oito gols nas Eliminatórias da Copa.
Pelo respeito imposto na seleção, pela longa trajetória que já tem vestindo laranja, pela evolução que enfim vive em clubes, por tudo isso, dá para dizer: Miedema pode fazer os gols, Van de Sanden pode ser mais veloz, mas se há alguém que mais esperança atrai da torcida holandesa para a Copa do Mundo feminina, é Martens.
Ficha técnica
Nome: Lieke Elisabeth Petronella Martens
Posição: Atacante
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 16 de dezembro de 1992, em Bergen (Holanda)
Clubes na carreira: Heerenveen (2009 a 2010), VVV-Venlo (2010 a 2011), Standard Liège-BEL (2011 a 2012), FCR Duisburg-ALE (2012 a 2014), Kopparbergs/Götebörg-SUE (2014 a 2016), Rosengard-SUE (2016 a 2017) e Barcelona-ESP (desde 2017)
Desempenho na seleção: 102 jogos e 42 gols, desde 2011
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