terça-feira, 25 de junho de 2019

Faz parte

Holanda se aliviou na última hora contra o Japão. Terá desafio ainda maior contra a Itália (Pim Ras Fotografie)

Quando o último jogo das oitavas de final da Copa do Mundo começou, em Rennes, a Holanda pareceu envolver o Japão. Parecia que a estratégia para superar a baixa estatura da Nadeshiko (bolas altas, apostando na velocidade de Shanice van de Sanden e Lieke Martens pelas pontas) iria levar a uma classificação fácil das Leoas Laranjas às quartas. Nada mais ilusório: as nipônicas impuseram o toque de bola acelerado, empataram o jogo, atormentaram um cansado time holandês no segundo tempo. Aí, numa das únicas vezes em que a Laranja conseguiu rondar a área da goleira Ayaka Yamashita, veio um pênalti. Que Martens converteu, para ser a salvadora, o nome da vitória que deu a vaga nas quartas.

Martens desvia para o belo gol que abriu o placar: enfim, ela apareceu (FIFA/Getty Images)

Enfim, a camisa 11 teve uma atuação digna de nota na Copa. E não só pelo gol: desde o começo da partida no Roazhon Park, Martens enfim teve o espaço que precisava para ser mais veloz com a bola e participar ativamente das jogadas. Foi o que aconteceu com apenas cinco minutos de jogo no Roazhon Park: Lieke cruzou, Vivianne Miedema tentou finalizar de primeira, e o gol só não se consumou pela aparição de Aya Sameshima, bloqueando a bola para um escanteio. De certa forma, seu bonito gol aos 17' - desvio com a parte externa do pé, após escanteio cobrado por Sherida Spitse - premiava as aparições mais constantes do maior destaque da seleção holandesa.

Com a atuação segura do meio-campo (Daniëlle van de Donk criando as jogadas, Jackie Groenen como o "carrapato" das japonesas e Sherida Spitse ajudando a defesa), a Laranja estava sossegada. Tão sossegada que perdeu o controle do jogo. Por vezes estabanada nas tentativas de carrinhos, Groenen começou a ser superada por Yui Hasegawa. Ainda apostando nos lançamentos longos, a defesa quase sempre mandava as bolas para a saída antecipada da goleira Yamashita. A posse da esférica foi ficando mais com o Japão. E as coisas se dificultaram: impondo velocidade na troca de passes, as nipônicas conseguiram o empate antes do intervalo, com bela triangulação entre Mana Iwabuchi, Yuika Sugasawa e Hasegawa, a autora do 1 a 1.

Tinha ficado difícil? Ficaria ainda mais no segundo tempo. A velocidade e a boa ocupação de espaços por parte do Japão ("Às vezes parecia que havia 20 japonesas em campo", se impressionou Vivianne Miedema) foi prensando a Holanda em seu campo de defesa. O meio-campo já não tinha a bola. O ataque "morria" de inanição. E as quatro da linha de trás sofriam cada vez mais com os avanços. As chances das japonesas demoraram, mas apareceram. Aos 64', em chute de Emi Nakajima rebatido no susto pela goleira Sari van Veenendaal; aos 71', em arremate de Hasegawa rente à trave; aos 76', quando Iwabuchi mandou a bola na rede pelo lado de fora; aos 79', quando Hina Sugita acertou o travessão; e aos 80', quando Van Veenendaal novamente apareceu com destaque, espalmando chute de Yuka Momiki (que entrou muito bem no jogo, melhorando as chegadas ao ataque).

Martens apareceu - e reapareceu para confirmar a dramática vitória (AP)

Sarina Wiegman fazia o que era possível: colocava Jill Roord para melhorar o meio-campo, devolvia Kika van Es ao time, tirava a cansada Van de Sanden para dar lugar a Lineth Beerensteyn. Pois foi justamente da atacante da camisa 21 que surgiu o lance salvador, aos 88' - ela cruzou, Miedema complementou, e a bola desviou no braço da zagueira Saki Kumagai. A juíza Melissa Borjas apitou o pênalti imediatamente, demorou em conversas com o VAR, mas confirmou sua marcação. Lieke Martens conseguiu manter alguma frieza: "Eu me sentia bem, aí perguntei a Sherida [Spitse, cobradora das bolas paradas] se eu poderia bater. Ela me deu a bola imediatamente". E a camisa 11 marcou o seu terceiro gol pela Holanda em Copas do Mundo, na mais apropriada das horas. Restava ao Japão aquela incômoda impressão do "quem não faz, toma". Faz parte.

Mas após o alívio, certamente virão críticas a novo sofrimento da Holanda na Copa do Mundo feminina. A defesa segue frágil - a não ser por Van Veenendaal, que mostrou firmeza quando exigida nesta terça. O meio-campo ainda perde muitas divididas. E o ataque segue tímido quando enfrenta um time com defesa forte e bem postada. É exatamente o caso da Itália, adversária do próximo sábado em Valenciennes. Além do mais, as Azzurre parecem viver o caso do time que se encaixa na hora certa. Há segurança na defesa, com Sara Gama comandando as ações. Velocidade no lado do meio, com Aurora Galli. E um ataque merecedor de respeito, com Valentina Giacinti, Cristiana Girelli e Barbara Bonansea entre as melhores atacantes da Copa.

Tudo isso, diante de uma Holanda que ainda não sabe encontrar variações satisfatórias para seu jogo. Será um grande desafio. Faz parte de uma Copa do Mundo. Até porque a Laranja conseguiu passar do seu desafio nas oitavas de final.

Copa do Mundo feminina - oitavas de final
Holanda 2x1 Japão
Data: 25 de junho de 2019
Local: Roazhon Park (Rennes)
Árbitra: Melissa Borjas (Honduras)
Gols: Lieke Martens, aos 17' e aos 90'; Yui Hasegawa, aos 43'.

Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Dominique Bloodworth, Stefanie van der Gragt e Merel van Dongen (Kika van Es); Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Jill Roord) e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Japão
Ayaka Yamashita; Risa Shimizu, Saki Kumagai, Nana Ichise e Aya Sameshima; Emi Nakajima (Yuka Momiki), Narumi Miura, Hina Sugita e Yui Hasegawa; Yuika Sugasawa e Mana Iwabuchi (Saori Takarada). Técnica: Asako Takakura Takemoto


Um comentário:

  1. Gostei muito da Van der Gragt na zaga hoje. É muito segura e seguindo aquela máxima que um grande time começa com uma grande goleira, van veenendaal brilhou hoje. Colocaria também Beerensteyn como titular e van de Sanden como opção de velocidade no segundo tempo. Valeu pelo resultado. Time tem estrela!

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