sábado, 15 de junho de 2019

Vitória com vulnerabilidades

Miedema fez dois gols, e pôde até dar cambalhota para comemorar. Mas Holanda passou perto dos sustos contra Camarões (Alex Caparros/FIFA/Getty Images)

A vitória sobre a Nova Zelândia já deixara claro: a seleção feminina da Holanda tem sérias dificuldades quando não consegue impor seu estilo de jogo ao adversário. Já era visível antes da Copa do Mundo começar, ficou mais visível contra as neozelandesas, e voltou a ser visível neste sábado, contra Camarões, na segunda partida das Leoas Laranjas. Entretanto, se têm problemas, as holandesas também possuem jogadoras capazes de minorarem as dificuldades. Uma delas, enfim, brilhou neste sábado, em Valenciennes: Vivianne Miedema. Com ela como grande destaque, a Laranja alcançou o triunfo por 3 a 1, que pelo menos já lhe garante nas oitavas de final da Copa. Ficaram as vulnerabilidades, que ainda podem ser corrigidas durante os treinos.

Nos primeiros momentos do jogo no Stade du Hainaut, duas coisas ficaram claras. A primeira: sim, a Holanda teria mais espaço para avançar, ser mais ofensiva, mais perigosa - tanto que, logo aos cinco minutos, Lieke Martens passou por duas marcadoras, e a bola sobrou para Shanice van de Sanden quase marcar. A segunda: Camarões podia até ser mais fraca tecnicamente, mas não se entregaria sem luta. Não só as Leoas Indomáveis mostravam força física nas divididas, como também tinham jogadoras capazes de trazerem problemas à defesa holandesa. Mais precisamente, duas: Gaëlle Enganamouit, enfim titular (que tentou pela primeira vez aos 12', num chute de fora) e, principalmente, Gabrielle Aboudi Onguené.

A atacante camaronesa da camisa 7 mostrava velocidade, imposição, alguma técnica, e deu trabalho nos contra-ataques. Principalmente aos 22 minutos, quando se valeu do escorregão de Desiree van Lunteren (hoje, um pouco pior do que contra a Nova Zelândia) para chutar perto do gol. Nas divididas, a atacante mostrava força - como, de resto, toda a seleção camaronesa. Às vezes, força até demais: como aos 37', quando Geneviève Ngo Mbeleck levantou o pé e atingiu a mão de Jackie Groenen, levando o cartão amarelo. No entanto, se o objetivo era truncar o jogo, Camarões conseguia. E a Holanda mostrava submissão a isso. Não só: mostrava lentidão na saída para o jogo, falta de atenção (foram muitas bolas perdidas no meio-campo), preocupava com os espaços na defesa, enfim, era até mais decepcionante do que fora contra a Nova Zelândia.

E não precisava ser assim, porque espaço havia no ataque. Nem tanto para Lieke Martens, outra vez sucumbindo à marcação, mas principalmente para Vivianne Miedema, mais perigosa e efetiva, e para Van de Sanden, sempre o principal desafogo das jogadas na direita. A camisa 7 sofreu no começo do jogo, com dois escorregões impedindo dois cruzamentos. Trocou a chuteira, e numa das primeiras jogadas em que recebeu a bola, foi precisa: mandou para o meio da área, e Miedema completou para as redes, fazendo o seu 59º gol pela seleção da Holanda e abrindo o placar. Só não foi o melhor fim de 1º tempo possível porque Camarões, enfim, aproveitou os excessivos avanços da defesa: um lançamento mandou a bola a Aboudi Onguené, a goleira Sari van Veenendaal saiu do gol e errou com o quicar da bola, e a atacante camaronesa ficou livre para fazer 1 a 1.

Camarões se esforçou mais na marcação, mas Aboudi Onguené deu algum trabalho no ataque (Robert Cianflone/Getty Images)


Poderia ter sido desastroso. Não foi, porque, no começo do segundo tempo, as individualidades holandesas se impuseram numa jogada ensaiada, logo aos 48'. Sherida Spitse cobrou uma falta mandando a bola para Groenen, esta cruzou, Michaella Abam fracassou ao tentar afastar, e Bloodworth pôde apagar as más lembranças do gol perdido contra a Nova Zelândia, fazendo seu primeiro gol pela seleção. A partir daquele momento, a Holanda ficou um pouco mais tranquila em campo. Principalmente, pela boa atuação das três meio-campistas. Cuidando do auxílio à defesa, Sherida Spitse foi mais segura; rápida no meio-campo, Daniëlle van de Donk se consolida como a melhor da Holanda na Copa até aqui; e Jackie Groenen, enfim, se apresentou como opção real de jogadas na direita, ajudando bastante no ataque.

Com isso, era possível manter mais a posse de bola, impedindo que Camarões assustasse, mesmo que tivesse mais atacantes com as entradas de Henriette Akaba e Ajara Nchout. Só houve uma chance, e quase a seleção africana a aproveitou: aos 81', Aboudi Onguené passou por Bloodworth, cruzou, Akaba completou de primeira, e o 2 a 2 só não aconteceu porque a bola desviou em Anouk Dekker e saiu. Mas a Holanda também tentava acelerar o ataque, com as entradas de Lineth Beerensteyn e Jill Roord. Teve a sua chance, aos 85'. E conseguiu o 3 a 1 da tranquilidade, com Miedema se isolando como maior goleadora da história da seleção feminina.

Valeu pelo triunfo, valeu pela classificação. Mas as declarações de várias jogadoras holandesas, como Miedema e Van de Donk, foram unânimes: a seleção da Holanda ainda não foi boa o bastante. Não foi mesmo. Pelo menos, poderá entrar sem pressão contra o Canadá, na próxima quinta. Mas das oitavas em diante, qualquer erro terá de ser minimizado ao máximo. E as Leoas Laranjas ainda estão errando muito.

Copa do Mundo feminina - fase de grupos - 2º jogo
Holanda 3x1 Camarões
Data: 15 de junho de 2019
Local: Stade du Hainaut (Valenciennes)
Árbitro: Casey Reibelt (Austrália)
Gols: Vivianne Miedema, aos 41' e aos 85', e Gabrielle Aboudi Onguené, aos 43'; Dominique Bloodworth, aos 48'

Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Dominique Bloodworth, Anouk Dekker e Kika van Es (Merel van Dongen); Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Jill Roord) e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Camarões
Annette Ngo Ndom; Raïssa Feudjio, Yvonne Leuko, Christine Manie, Estelle Johnson e Claudine Meffometou; Michaella Abam (Charlene Meyong), Jeannette Yango, Geneviève Ngo Mbeleck (Ajara Nchout) e Gabrielle Aboudi Onguené; Gaëlle Enganamouit (Henriette Akaba). Técnico: Alain Djeumfa

Um comentário:

  1. Gostei da postura ofensiva das leoas. Sistema defensivo precisa alguns ajustes. Beerensteyn sempre é ótima opção no banco. Não é tão aguda quanto van de Sanden, mas pode ajudar na armação do meio campo e se movimenta por todo o ataque não se fixando somente pela direita. Força Leoas

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