quinta-feira, 20 de junho de 2019

Resultado ótimo. O desempenho, pode melhorar

A pressão sobre a seleção feminina estava forte, por causa do desempenho apenas razoável na Copa. Mas a Holanda conseguiu terminar a primeira fase com três vitórias, e tem a resposta: resultados excelentes (Zhizhao Wu/Getty Images)

Sabe-se que resultado e desempenho são coisas diferentes no futebol. Nem sempre um desempenho bom leva às vitórias, assim como nem sempre um campeão é um time irrepreensível. De certa forma, é o que tem acontecido com a seleção da Holanda nesta Copa do Mundo feminina. O que se viu nesta fase de grupos deixa claro que as Leoas Laranjas ainda têm coisas a melhorar nas atuações - agora, ainda mais, já que começará a fase eliminatória do torneio. No entanto, é justo dizer que os resultados conseguidos pela Laranja são irrepreensíveis. E a vitória por 2 a 1 no Canadá, primeira da história da seleção feminina holandesa sobre o país da América do Norte, mostrou: a Holanda está na Copa a sério.

No começo, parecia que as falhas se sobressairiam, pelo susto logo no primeiro minuto em Reims, quando uma desatenção fez com que Desiree van Lunteren derrubasse Janine Beckie, em jogada que teve pênalti inicialmente apontado pela juíza francesa Stéphanie Frappart - só cancelado quando Frappart foi chamada pelo VAR e notou que Van Lunteren derrubara Beckie ainda fora da área. Pior ainda aos 22', quando a linha de impedimento das holandesas quase foi iludida, com Jordyn Huitema fazendo o gol, no que seria falha da goleira Sari van Veenendaal. Mas a jogada foi anulada. E aos poucos, a Holanda se assentou em campo. Anouk Dekker mostrou imposição física valiosa no miolo de zaga, enquanto Merel van Dongen justificou plenamente a opção da técnica Sarina Wiegman por sua escalação na lateral esquerda, deixando Kika van Es no banco: mantendo bem a posse de bola e precisa nos desarmes, Van Dongen deu mais segurança à defesa.

A defesa da Holanda continuou com dificuldades - mas Van Dongen, com boa atuação, trouxe mais segurança (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

A partir dessa segurança, o time laranja cresceu. Após um momento de superioridade canadense, houve crescimento. Com mais espaço, Sherida Spitse e Jackie Groenen conseguiram avançar e ajudar o ataque - coisa que Daniëlle van de Donk continua fazendo, se consolidando como uma das melhores da Holanda na Copa (e quase tendo seu desempenho premiado com um gol de bicicleta, aos 34'). Shanice van de Sanden teve pouco espaço - mas quando teve, trouxe perigo. Como aos 30', num cruzamento rebatido com dificuldades pela goleira Stéphanie Labbé, antes que a zagueira Shelina Zadorsky impedisse o gol. E também aos 33', quando a camisa 7 da Holanda criou uma jogada que fez com que Vivianne Miedema mandasse a bola na trave. Mesmo que fosse vulnerável, a Holanda comprovou no primeiro tempo: quanto mais espaço tem para jogar, melhor joga. A única a destoar disso era justamente a jogadora de quem mais se esperava: Lieke Martens, outra vez submissa à marcação.

E o gol de Anouk Dekker, aos 54', premiou tudo isso: o crescimento de nível da seleção, a boa atuação de Dekker, a superioridade diante do Canadá. Mas sempre era bom lembrar: apesar de seu nível técnico elogiável, a seleção feminina mantém problemas a serem resolvidos. Dois deles são o espaço dado às adversárias no campo de defesa e a falta de firmeza nas divididas (raras vezes as jogadoras holandesas ficam com a sobra). O primeiro foi visível no gol de empate do Canadá, aos 60': as canadenses tiveram todo o espaço para trocarem passes, até Ashley Lawrence chegar pela direita, cruzar, e Christine Sinclair superar Van Lunteren para marcar gol na quinta Copa consecutiva de sua carreira.

Mas se as falhas ficaram claras, as qualidades holandesas também ficaram. A começar pela coragem de Sarina Wiegman nas substituições: já vista na troca de Van Es por Van Dongen, foi novamente exposta quando Martens deu lugar a Lineth Beerensteyn. E a atacante da camisa 21 mostrou pela esquerda a velocidade que Van de Sanden já não conseguia dar na direita. Outra qualidade: a técnica. Se o Canadá podia trocar passes com eficiência, a Holanda também podia. E fez isso no gol da vitória, somando individualidade e coletividade: Beerensteyn passou por duas canadenses e passou a Miedema, que fez o pivô para Groenen aparecer na direita, cruzar para Beerensteyn, e esta fazer o 2 a 1 que premiou sua excelente entrada.

Beerensteyn teve no gol da vitória que marcou um prêmio justo à sua boa entrada em campo (Reuters)

A Holanda seguiu sofrendo nos quinze minutos restantes: seguiu perdendo divididas, viu Adriana Leon trazer qualidade técnica ao ataque do Canadá, que quase empatou aos 83', com Beckie (talvez, a melhor canadense em campo). Mas, por fim, segurou a vitória, e tem resultados irrepreensíveis para poder conter as queixas em relação ao desempenho mediano. Se Sherida Spitse se dizia "de saco cheio" das críticas, na coletiva pré-jogo, Van de Donk pôde se gabar, dizendo que o triunfo "calou um pouco a boca dos críticos". Não é bem assim. Mas, pelo menos, ficou claro: a Holanda pode superar o Japão, rival das oitavas de final, como na Copa de 2015. E Lieke Martens já prometeu, na zona mista: "Não perderemos novamente das japonesas".

Motivação e capacidade técnica: dois fatores que ajudam um time a crescer. E a Holanda mostrou que pode crescer, nesta terça, com sua melhor atuação na Copa. Não veio à França a passeio.

Copa do Mundo feminina - fase de grupos - 3º jogo
Holanda 2x1 Canadá
Data: 20 de junho de 2019
Local: Auguste-Delaune (Reims)
Árbitra: Stéphanie Frappart (França)
Gols: Anouk Dekker, aos 54', Christine Sinclair, aos 60', e Lineth Beerensteyn, aos 75'

Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Dominique Bloodworth, Anouk Dekker e Merel van Dongen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Renate Jansen) e Sherida Spitse (Jill Roord); Shanice van de Sanden, Vivianne Miedema e Lieke Martens (Lineth Beerensteyn). Técnica: Sarina Wiegman

Canadá
Stephanie Labbé; Ashley Lawrence, Kadeisha Buchanan, Shelina Zadorsky e Allysha Chapman (Jayde Rivière); Jessie Fleming, Desirée Scott (Rebecca Quinn) e Sophie Schmidt; Jordyn Huitema, Christine Sinclair (Adriana Leon) e Janine Beckie. Técnico: Kenneth Heiner-Moller

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