domingo, 9 de junho de 2019

Há coisa mais preocupante

Mais do que a derrota na final da Liga das Nações, problemas de ataque preocupam a seleção da Holanda (ANP)
Antes mesmo da bola rolar no Estádio do Dragão, pela final da Liga das Nações, o favoritismo da seleção de Portugal perante a Holanda era um pouco maior. Por vários motivos: a regularidade maior dos Tugas, a presença de Cristiano Ronaldo (sempre importante, para indicar o rumo a seguir), o fato de ter se classificado à decisão sem uma prorrogação e, em menor escala, o "fator casa". Por isso, a conquista portuguesa só é triste para a Laranja por ser mais uma derrota em final. O problema é que há coisas mais preocupantes que a decisão da Nations League revelou.

Claro, assim como perder a final não era o fim do mundo, ganhar não significaria que a Holanda está pronta para o que der e vier. E o próprio Ronald Koeman lembrou disso, na entrevista coletiva do sábado: "Eu não posso ser comparado a Rinus Michels [técnico da Holanda campeã da Euro 1988] se vencermos. A ordem de importância é esta: Copa, Euro e Liga das Nações. Ninguém vai fazer uma festa gigante se ganharmos. Só tomaremos um vinho e sairemos de férias". Porém, era possível esperar que a capacidade coletiva da Oranje pudesse segurar Portugal - e, quem sabe, esperar que a circulação dos três atacantes na frente atrapalhasse a defesa da seleção da casa, desfalcada de Pepe.

Fracasso total. Que fique claro: o problema holandês não esteve na defesa, com mais uma boa atuação de Virgil van Dijk e Matthijs de Ligt (este até apareceu mais). Nem no meio-campo, onde Georginio Wijnaldum fez o que foi possível, buscando avançar mais para ajudar na armação. O problema foi no ataque. É o caso de dizer que, mais do que ser eficiente na finalização, faltou a Holanda... criar. Fazer Rui Patrício trabalhar. Nenhum dos três atacantes nederlandeses fez isso: nem Ryan Babel, nem Steven Bergwijn, nem Memphis Depay, todos facilmente neutralizados. Wijnaldum avançava, Denzel Dumfries chegava com vitalidade pela direita, a posse de bola era mantida... mas os visitantes não traziam perigo algum a Portugal. Quando traziam, vinham os erros - como de Bergwijn, aos 30': após roubar a bola, o camisa 7 chegou à área, mas demorou para passar, e Rúben Dias o desarmou.

Wijnaldum foi dos raros holandeses a tentarem qualquer coisa no ataque (TF Images/Getty Images)

Claro, o cansaço da semifinal desgastante contra a Inglaterra se fez sentir. E os espaços começaram a aparecer para que Portugal fizesse o que desejava: contra-atacasse. Houve precipitação no começo, quando os perigos vinham mais dos chutes de Bruno Fernandes (aos 12', para fora, e aos 30', quando Cillessen espalmou). No entanto, os lusos chegaram mais e mais, com a boa partida de Bernardo Silva, com a velocidade de Gonçalo Guedes, com a presença sempre temível de Cristiano Ronaldo. Cillessen até mostrou segurança, com defesas firmes. Mas estava claro: se a Holanda não melhorasse, o gol lusitano seria questão de tempo.

Ronald Koeman notou isso, e tentou resolver com a entrada de Quincy Promes. Ajudou por um tempo: a Holanda teve mais a bola no ataque, e até conseguiu uma chance meio acidental (aos 57', Memphis Depay cruzou, e Rui Patrício teve de afastar para escanteio). A entrada de Donny van de Beek, três minutos depois, poderia acelerar ainda mais. Porém, segundos após a vinda do meio-campista ao gramado, o erro fatal: um corta-luz de Gonçalo Guedes enganou De Ligt, abrindo espaço para Bernardo Silva avançar. Ele o fez, devolveu a bola a Gonçalo, este chutou, Cillessen cometeu pequena falha, e era o 1 a 0 português.

Só restou à Holanda buscar o gol. Às vezes, com perigo, como na excelente defesa de Rui Patrício para o cabeceio de Memphis aos 65'. Posteriormente, Luuk de Jong entrou, e já ajudou aos 82': ajeitou a bola, de cabeça, para desvio de Marten de Roon, providencialmente afastado para escanteio por Rui Patrício. Mas mesmo nesse momento, a Laranja nunca deu impressão real de poder ameaçar o título português. O próprio Frenkie de Jong reconheceu, após a partida: "Nunca consegui criar uma situação de superioridade numérica com meus passes, sempre tinha de ir para os lados". E a Holanda perdeu. Se serve de consolo, conseguiu achar uma base. Mas ficou claro que há coisas a melhorar, com o ataque sendo a mais gritante dessas coisas. Outras são a lateral direita (Dumfries tem vitalidade física notável, mas ainda não exibiu muita técnica) e, vá lá, o gol (em condições normais, Cillessen é titular, mas seguir sem ritmo de jogo pode lhe fazer ser mais ameaçado).

E a melhora precisa ser urgente, porque, nas Eliminatórias da Euro 2020, Alemanha e Irlanda do Norte podem abrir vantagem no grupo da Laranja. Que voltará sem margem de erro: precisará vencer os norte-irlandeses, Estônia, Belarus (já vencida uma vez) para se classificar à Euro sem sustos. Passar sufoco na qualificação, sim, seria uma coisa bem mais preocupante do que a derrota deste domingo.

Liga das Nações da UEFA - final
Portugal 1x0 Holanda
Data: 9 de junho de 2019
Local: Estádio do Dragão (Porto)
Árbitro: Alberto Undiano Mallenco (Espanha)
Gol: Gonçalo Guedes, aos 60'

Portugal
Rui Patrício; Nélson Semedo, José Fonte, Rúben Dias e Raphaël Guerreiro; Danilo Pereira, William Carvalho (Rúben Neves), Bernardo Silva e Bruno Fernandes (João Moutinho); Gonçalo Guedes (Rafa Silva) e Cristiano Ronaldo. Técnico: Fernando Santos

Holanda
Jasper Cillessen; Denzel Dumfries, Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Daley Blind; Marten de Roon (Luuk de Jong), Frenkie de Jong e Georginio Wijnaldum; Steven Bergwijn (Donny van de Beek), Memphis Depay e Ryan Babel (Quincy Promes). Técnico: Ronald Koeman

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