terça-feira, 11 de junho de 2019

Quase uma decepção

Uma seleção feminina cansada e aliviada. Cansada pela firmeza defensiva da Nova Zelândia, aliviada pelo gol salvador de Roord (Eric Verhoeven/Soccrates/Getty Images)
Nestas partidas iniciais da Copa do Mundo feminina, algumas seleções da Europa têm sofrido bastante para conseguirem os resultados - França à parte, já que as anfitriãs abriram a Copa mostrando brilhantemente o cartão de visitas com um 4 a 0 na Coreia do Sul. A Alemanha suou até o 1 a 0 na China; a Espanha saiu atrás da África do Sul, e só a superioridade numérica abriu o caminho da vitória por 3 a 1; a Inglaterra ensaiou superar facilmente a Escócia ao abrir 2 a 0, mas amargou alguns problemas após levar o gol escocês. De todas, talvez o sufoco maior na estreia tenha sido da Holanda. As Leoas Laranjas tiveram pela frente uma Nova Zelândia que jogou do jeito que a seleção feminina menos gosta: bastante fechada, aproveitando os contra-ataques. Mas, no fim, como todas as outras europeias, veio a salvação, com o 1 a 0 da primeira vitória holandesa no Mundial.

Justiça seja feita: Sarina Wiegman avisou por várias vezes que as neozelandesas seriam adversárias problemáticas. Nem tanto pela técnica com a bola nos pés, mas principalmente pela força física. O modo como as "Football Ferds" ("Samambaias") vieram a campo, taticamente, foi outra prova disso. A escalação de Tom Sermanni já deixava claro: muita gente na defesa, e apenas Sarah Gregorius na frente, para tentar aproveitar um contra-ataque que surgisse e fosse puxado por Rosie White. Com Hannah Wilkinson ainda em processo de volta aos gramados, após rompimento dos ligamentos cruzados do joelho, era a única alternativa ofensiva da Nova Zelândia.

E quase deu certo. Defensivamente, a Holanda mostrou falhas. Fosse na desatenção de Dominique Bloodworth, que perdeu a bola para Olivia Chance avançar e chutar no travessão aos 11 minutos, fosse na hesitação de Kika van Es, vulnerável frente às subidas de C.J. Bott para o ataque, a Laranja oferecia espaços para a Nova Zelândia ter os sonhados contra-ataques. Em outro deles, aos 31', após um cabeceio de Vivianne Miedema para fora e uma reposição rápida de bola, Gregorius acelerou a jogada no meio-campo, passou a Rosie White, e a meio-campista forçou Sari van Veenendaal a fazer grande defesa.

A Oranje mantinha mais posse de bola, é verdade. Trocava passes, Lieke Martens e Daniëlle van de Donk buscavam o jogo, Shanice van de Sanden era costumeiramente acionada. Mas nenhuma chance dava trabalho real à goleira Erin Nayler. Ora os chutes eram fracos (como o de Martens, aos 10'), ora a bola ia para fora (com Vivianne Miedema, aos 13', e Martens, aos 31'). O único momento em que o gol holandês quase saiu nos primeiros 45 minutos foi quase acidental, nos acréscimos: Van de Donk passou a Miedema, esta cruzou, Nayler rebateu, e Bloodworth pegou pessimamente na bola, mandando-a para fora.

A Holanda precisava ser um pouco mais dinâmica na criação de jogadas de ataque. E não poderia descuidar das fragilidades defensivas, como ficou provado aos 52', quando Bott cruzou e Gregorius cabeceou para outra excelente defesa de Van Veenendaal - destaque holandês em campo, como Desirée van Lunteren, bem nos desarmes e até ousada nos avanços ao ataque. Aos poucos, mais cansada, a Nova Zelândia foi se concentrando na defesa. E aí, apareceu a maior técnica holandesa - e os erros, também.

A defesa das Leoas sofreu com alguns ataques - mas Van Veenendaal mostrou valor, com defesas decisivas (Eric Verhoeven/Soccrates/Getty Images)


Lieke Martens arriscou chute aos 54', mas apareceu menos, em comparação com o primeiro tempo - Van de Donk criava mais jogadas e tinha mais a bola nos pés. Vivianne Miedema quase marcou duas vezes (aos 60', num chute cruzado, e aos 66', desviando cruzamento para grande defesa de Nayler), mas foi um tanto quanto precipitada, carregando a bola sozinha na maioria das vezes, e também teve certa lentidão. No meio-campo, preocupada em evitar os contra-ataques, Sherida Spitse tinha de marcar mais, enquanto Jackie Groenen foi se cansando aos poucos - até por isso, deu lugar a Jill Roord.

O tempo passava, e o gol não saía. A Holanda já corria o risco de amargar a primeira grande decepção da Copa do Mundo, diante de uma Nova Zelândia firme na defesa - e acreditando na grande chance, com Wilkinson e Paige Satchell vindo a campo. Para acelerar um pouco o ataque, os minutos finais tiveram a entrada de Lineth Beerensteyn (no lugar de Van de Sanden, a melhor das três titulares na frente) e Jill Roord. Com Van Es ainda baleada pelo ritmo de jogo menor - afinal, se recuperava de lesão -, Merel van Dongen ainda entrou, para proteger mais a lateral esquerda. Coube às três fazerem a jogada do gol do desafogo, nos acréscimos: Van Dongen cruzou, Beerensteyn ajeitou de cabeça, e Roord fez o 1 a 0 que evitou a confirmação de um desapontamento.

Porém, se a Holanda evitou uma surpresa negativa em sua estreia na Copa feminina, deixou claro: tem sérias dificuldades contra equipes que sabem se defender. Camarões, a adversária no próximo sábado, mostrou que também é difícil de ser superada. Eis um desafio para as Leoas Laranjas superarem. Se há lados bons nisso, pelo menos elas têm alguns dias para se aprimorarem na frente - e pelo menos, sobrou esforço em busca do gol salvador.

Copa do Mundo feminina - fase de grupos - 1º jogo
Nova Zelândia 0x1 Holanda
Data: 11 de junho de 2019
Local: Estádio Le Océane (Le Havre)
Árbitro: Edina Alves Batista (Brasil)
Gol: Jill Roord, aos 90' + 1

Nova Zelândia
Erin Nayler; C.J. Bott, Rebekah Stott, Abby Erceg e Ali Riley; Betsy Hassett (Annalie Longo), Katie Bowen, Ria Percival, Rosie White (Paige Satchell) e Olivia Chance; Sarah Gregorius (Hannah Wilkinson). Técnico: Tom Sermanni

Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Dominique Bloodworth, Stefanie van der Gragt e Kika van Es (Merel van Dongen); Jackie Groenen (Jill Roord), Daniëlle van de Donk e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema e Lieke Martens Técnica: Sarina Wiegman

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