quinta-feira, 6 de junho de 2019

Ganhou quem errou menos

Mais uma reação: Holanda superou falhas, superou o cansaço, superou a Inglaterra. Está na final da Liga das Nações (ANP)
Desde o ano passado, a seleção da Holanda anda mostrando elogiável espírito de reação. Já tinha feito isso na Liga das Nações, no fim do ano passado, com o gol de Virgil van Dijk para empatar o jogo contra a Alemanha e render a vaga na semifinal. Fez isso já em 2019, pelas Eliminatórias da Euro 2020, ao correr atrás da desvantagem em 2 a 0 para a Alemanha e igualar o placar em 2 a 2 (tudo bem, levou o terceiro gol alemão no fim...). E voltou a fazer isso, na semifinal da Liga das Nações, nesta quinta, contra a Inglaterra. De certa forma, foi esse espírito que fez a Laranja superar os erros cometidos no campo do Dom Afonso Henriques, em Guimarães. E alcançar a decisão do torneio amistoso europeu.

Curiosamente, a Holanda até se controlava no primeiro tempo. Mesmo num jogo truncado, a Laranja controlava a saída de bola. Frenkie de Jong já se mostrava pronto para outra atuação primorosa, Georginio Wijnaldum ainda mostrava velocidade, e Denzel Dumfries era opção sempre à disposição pela direita. O problema era quando a bola chegava aos três atacantes. Pelos lados, Steven Bergwijn e Ryan Babel eram pouco acionados. Pelo meio, Memphis Depay tentava - e errava, como na grande chance perdida aos 12', quando Wijnaldum acelerou contra-ataque, passou ao camisa 10 da Oranje, mas este errou a jogada, permitindo que a defesa da Inglaterra tirasse a bola.

Mesmo assim, se a Holanda errava nas chegadas à frente, a Inglaterra sequer chegava à frente. Até os 31 minutos, quando Matthijs de Ligt cometeu erro que fez lembrar: apesar de promissor, ainda tem muito o que aprender. Afinal, por melhor que o zagueiro do Ajax seja (e é), talvez tenha sido arriscado demais apostar na saída de bola rasteira. Uma hora, ela pode dar errado. E deu, quando De Ligt derrubou Marcus Rashford, o juiz Clément Turpin marcou pênalti, e o próprio Rashford fez 1 a 0 para a Inglaterra. 

De Ligt errou no tempo normal, mas corrigiu da melhor maneira possível: fazendo 1 a 1 (BSR Agency)

Por mais que jogasse razoavelmente, a Holanda errara. A Inglaterra punira. E poderia ter sido o golpe fatal, porque a Oranje trocava passes no segundo tempo, buscava espaço, queria o empate... e ele não vinha. Exatamente porque, em vantagem, a seleção inglesa podia apostar nos contra-ataques. Pior: o ataque justificava porque é o ponto fraco desta seleção: Bergwijn, Babel e Memphis Depay fracassavam ao tentar chutes a gol. Aí veio uma jogada que ofereceu o que os holandeses queriam. Assim como houvera o pênalti no 1º tempo, houve um escanteio - e nele, De Ligt "consertou" seu erro, empatando o jogo.


A seleção britânica dos Três Leões poderia até impor novo desastre aos 83', quando levou toda a defesa holandesa de vencida numa bela jogada: do calcanhar de Harry Kane para Raheem Sterling, deste para Jesse Lingard, e de Lingard para o gol. Só que o VAR não deixou, apontando impedimento quase imperceptível (o pé de Lingard estava à frente). O 1 a 1 ficou no placar, a Oranje superou o cansaço e conseguiu levar o jogo à prorrogação. Mas terminou o tempo normal prensada na defesa. Teria de buscar mais coragem - e manter alguma forma - na prorrogação.


Aí a Inglaterra cometeu erros. Tanto no erro de John Stones quanto no de Ross Barkley, Memphis Depay estava a postos, mostrando que é importante mesmo quando tem partida péssima nas finalizações, como ocorreu. No primeiro erro, Memphis falhou, com o goleiro Jordan Pickford rebatendo, mas Quincy Promes teve mais sorte: seu chute desviou em Kyle Walker, e era o 2 a 1. No segundo erro, Depay fez melhor: cruzou para Promes completar, fazer 3 a 1 e levar a seleção à quinta decisão de sua história.

Decisão que será difícil. Portugal tem muitas coisas a seu favor: o retrospecto, a torcida, Cristiano Ronaldo, um time mais descansado (Frenkie de Jong, deitado por alguns segundos após sofrer falta na prorrogação, era a imagem do desgaste holandês). No entanto, a Holanda mostrou capacidade de reação. Por incrível que pareça, mesmo errando, errou menos do que a Inglaterra. Por isso, está na final da Liga das Nações. Se estiver melhor e um pouco mais concentrada, tem toda a capacidade de buscar o título.

Liga das Nações da UEFA - semifinal
Inglaterra 1x3 Holanda
Data: 6 de junho de 2019
Local: Dom Afonso Henriques (Guimarães)
Árbitro: Clément Turpin (França)
Gols: Marcus Rashford, aos 31'; Matthijs de Ligt, aos 73', Kyle Walker (contra), aos 93', e Quincy Promes, aos 114'

Holanda
Jasper Cillessen; Denzel Dumfries, Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Daley Blind; Marten de Roon (Donny van de Beek), Frenkie de Jong (Kevin Strootman) e Georginio Wijnaldum; Steven Bergwijn (Davy Pröpper), Memphis Depay e Ryan Babel (Quincy Promes). Técnico: Ronald Koeman

Inglaterra
Jordan Pickford; Kyle Walker, Barry Maguire, John Stones e Ben Chilwell; Declan Rice (Dele Alli), Fabian Delph (Jordan Henderson) e Ross Barkley; Jadon Sancho (Jesse Lingard), Raheem Sterling e Marcus Rashford (Harry Kane). Técnico: Gareth Southgate

Nenhum comentário:

Postar um comentário